Ghost of Tsushima é o que todos os exclusivos de PlayStation deveriam ser
Ghost of Tsushima é o último exclusivo de PlayStation 4. O jogo foi anunciado há alguns anos como a nova obra da Sucker Punch, responsável pela série Infamous, muito bem elogiada internacionalmente. Aqui, temos a invasão mongol no Japão medieval no século 13, liderada pelo fictício Khotun Khan. O protagonista é herdeiro do clan Sakai e sobrinho do Jito da ilha, lorde Shimura. Ambos são samurai e após um primeiro e devastador ataque, apenas Jin Sakai, protagonista, pode salvar seu tio e expulsar os mongóis da ilha de Tsushima.
Logo cedo, Jin é salvo por Yuna, uma gatuna pobre de uma região próxima, sem muitas segundas intenções além de pedir sua ajuda para resgatar seu irmão ferreiro. Jin se encontra numa contradição, pois, ao mesmo tempo que está grato pela ajuda de Yuna que consequentemente salvou toda a esperança da ilha, está suspeito por suas atitudes nada honrosas, além de sugestões de que Jin também lute pelas sombras. Aqui temos um pouco da dualidade dos jogos Infamous, onde as ações do jogador influenciam o tipo de habilidade que o protagonista terá – seja lutando pelas sombras ou lutando com honra, grande debate do próprio jogo.
Jin desde o começo é jogado em um mundo muito grande e desafiador. O vento é o que o guia para seus objetivos, porém animais como raposas e pássaros também podem o guiar para segredos dificilmente descobertos de outra maneira. Aqui começam as comparações com Breath of the Wild, que são mais que justas, porém extremamente positivas – Ghost of Tsushima definitivamente é um jogo Open Air pela sua versatilidade física e explorativa. Vários campos inimigos são encontrados ao longo do mapa que ficam ao critério do jogador de serem liberados, assim como grupos de mongóis aleatórios são colocados como desafio nas estradas. Ao falar com aldeões, estes podem também indicar coisas que Jin pode procurar, seja itens importantes, como novas habilidades e até linhas de missões secundárias completamente opcionais, mas que dão firmamento maior às habilidades de Jin, como novas poses de luta (algo extremamente pertinente em luta com a espada), como novos arcos e armas a distância, além de aliados para a batalha final contra Khotun Khan. Ghost of Tsushima é um jogo onde você deve frequentemente buscar novos aliados e construir seu exército para lutar contra um mal maior.
A jogabilidade de Ghost of Tsushima é facilmente uma das melhores da geração. Trazendo o melhor da carga da Sucker Punch, porém se reinventando, Jin luta como um samurai completo com as habilidades que conquista ao longo do jogo e é talvez um dos melhores jogos de samurai no mercado. Comparando com lançamentos recentes, como Sekiro, onde também temos mecânica de parry e quebra de postura, em Tsushima tudo é mais natural e colocado no controle do jogador. Troca de instâncias são fáceis e rápidas, o jogo não exagera seus combates e cria um estresse forçado como em Sekiro, aqui temos um combate leve, rápido e efetivo que um samurai verdadeiro luta – onde Jin deve, ou lutar pelas sombras e eliminar seus inimigos sem ser percebido, ou lutar cara a cara num combate desafiador mas não desnecessariamente incômodo, com diversos itens a serem considerados – posicionamento da câmera, número de inimigos, onde e quando defender, de que ângulo e como atacar e devastar inúmeros mongóis que não pensam duas vezes antes de arrancar uma cabeça. Isto tudo quando não há as lutas contra chefes, onde Jin é colocado contra um inimigo extremamente forte em um círculo de batalha onde apenas um pode sair vivo, onde pode-se verdadeiramente ver o progresso que Jin tem ao longo de sua jornada por Tsushima, com novas habilidades e destrezas.
A história de Ghost of Tsushima, apesar de ser previsível, consegue atender muito bem às expectativas criadas. É uma jornada triste e depressiva que, tal qual um ataque samurai de cabeça erguida anunciando sua chegada, consegue ser extremamente impressionante, com destaque para as histórias paralelas que podem ser completadas até depois de encerrar a história principal, que vivem na pele histórias de camponeses massacrados, mestres derrotados e monges perdidos.
Toda a estética e trilha sonora do jogo, apesar de realista, é extremamente única e bela. As flores e árvores brilhantes saltam na tela, os campos verdes cobertos por uma certa tempestade, tudo neste jogo GRITA vida. A direção artística conseguiu trazer a um mundo sujo e destruído e extremamente real traços de beleza que são extremamente únicos ao Japão e foram muito bem explicitados. O som do jogo é outro destaque. A trilha sonora melancólica e poderosa se contrasta com os sons da natureza e da luta de espadas e tiros, o som do vento e dos animais, das árvores balançando. A física do jogo influencia esse design sonoro e deixa a experiência ainda mais viva.
Ghost of Tsushima possui alguns erros técnicos que poderiam ser melhorados com o tempo. A câmera, apesar de estar totalmente no controle do jogador, as vezes mais atrapalha que ajuda, glitches prendem o jogador em paredes, abismos ou até catapulta NPCs e um único grande erro deste título é a falta de influência das escolhas do jogador na história, sendo algo extremamente destacado e imposto no jogo – para qual motivo então? Além disto, para um jogo que enaltece fortemente seus laços com a tradição japonesa e desenvolvimento com grande apoio japonês, é mais que visível que a captura de movimento dos rostos foi feita com dublagem da língua inglesa. A dublagem pode até estar colocada em japonês, mas o movimento da boca dos personagens é das falas em inglês, o que dá confusão mental na hora de assistir as cenas de corte e é algo verdadeiramente incompatível com a proposta da obra.
PROS:
- Combate perfeitamente desenvolvido;
- Mundo open air;
- Fidelidade a história original;
- Histórias paralelas;
- Sistema de progressão;
- Personagens humildemente cativantes.
CONS:
- Glitches;
- Falta de impacto na história das decisões do jogador.
NOTA: 9/10
PLATAFORMAS:
- PlayStation 4 (plataforma analisada).
Ghost of Tsushima é o que todos os exclusivos de PlayStation deveriam ser, dando espaço pra todos os pontos de desenvolvimento de um jogo, além de apresentar uma história sem fator de choque forçado que impressiona mais que qualquer outro exclusivo ocidental desta geração.