Death Note e o valor da vida humana
O anime Death Note traz diferentes formas de se estudar a sociedade em que vivemos.
Seus personagens e a atmosfera em que estão imersos leva ao público questionar o seu arredor. Em cada momento da série traz diferentes aspectos que refletem nossa realidade. Uma das principais discussões que traz é a respeito da justiça e o valor da vida humana. A personificação desses sentimentos podem ser vistos em seus dois protagonistas.
A trama do anime se inicia quando Raito (Light) encontra o caderno da morte do shinigami Ryuko. O caderno dava a possibilidade a Raito de matar suas vítimas ao escrever o nome delas no caderno. Entretanto tinha certas condições para que isso se concretiza-se, o dono do caderno teria que saber o nome e o rosto da vítima. Ao saber dessas informações, Raito decide usar o caderno para atingir uma utopia onde somente as pessoas puras poderiam gerar uma coexistência frutífera para a humanidade. A ideia de purificar o mundo exterminando qualquer tipo de ação que ele considerasse como impróprio a sua visão. Com isso, Raito dedicou seus primeiros meses com o caderno para matar prisioneiros e criminosos que apareciam na tv como forma de alcançar seu ideal, mas suas ações não passaram despercebidas.
Quando o número de mortes chegou a um momento crítico a Interpol passou a investigar o caso. O detetive que seria responsável pelas investigações era conhecido como L. Ninguém sabia seu verdadeiro nome e raramente aparecia em público. Ele era considerado o melhor detetive do mundo por conta de sua inteligência e sua sofisticada habilidade de dedução. No momento em que tomou as rédeas do caso ele conseguiu desvendar que o assassino estava no Japão e se ofereceu pessoalmente a ajudar a polícia japonesa no caso.
L estava disposto a capturar o assassino a qualquer custo em nome da justiça. A partir deste o momento o anime se tornou um combate entre essas duas visões sobre justiça e o valor das vidas humanas.
O embate protagonizado por esses dois personagens mostra os dilemas enfrentados atualmente. A contínua sensação de evolução que ao mesmo tempo alimenta suas contradições com o crescimento das desigualdades sociais levou a sociedade a questionar se essa realidade poderia ser alcançadas. Esses fatores deixaram as pessoas descrentes e inaptas a pensarem a uma forma de contornar isso. O aumento da sensação de violência tanto nos conflitos do cotidiano quanto em grandes guerras mecanizadas destacam essa sensação de desolação. No meio deste sentimento, o personagem Raito tenta tirar proveito com o caderno de Ryuko.
Raito se considerava o garoto mais inteligente do Japão e muitos o viam como o futuro do país. Esse cenário fortalecia Raito a buscar a fazer as coisas à sua maneira. Ele possuía um grau de psicopatia e manipulava todos ao seu redor. Quando se deparou com o caderno viu como uma oportunidade de moldar o mundo ao seu bel-prazer. Para purificar o mundo de todo o sofrimento viu como solução assassinar todos aqueles que possuíam transtornos mentais e histórico de violência. Somente com a limpeza dessas pessoas poderia trazer esperança novamente a humanidade. As ações de Raito formou uma legião de seguidores que compartilham essa visão de mundo. A medida que Raito matava mais pessoas o defendia justificando suas ações para o bem comum.
No momento em que L surge na trama ele traz aquela concepção clássica de justiça. Oposta a percepção justiceira de Raito, ele acredita no trabalho das instituições para realizar a verdadeira justiça, aquela em que os fatos são julgados de forma imparcial com intuito de promover uma decisão justa sem que cada lado da ação seja beneficiada. Dentro desta percepção, L procura todos os meios legais para provar que Raito está por trás dos assassinatos. Desde o início ele sabia que Raito era o culpado mesmo assim nunca tomou uma medida precipitada. Em todas as ocasiões, L buscou investigar todos os aspectos em torno de Raito para produzir evidências esclarecedoras. Enquanto Raito apelava para a violência para impedir qualquer avanço nas investigações, L sempre procurou jogar limpo para alcançar a qualquer custo a justiça.
Essa relação entre os dois personagens evidenciam a complexidade do momento em que vivemos. Enquanto alguns buscam a justiça com as próprias mãos outros insistem em almejá-la por meios legais. No fundo todos querem justiça mas a forma de chegar até ela é o grande divisor dentro da sociedade.
A obra em nenhum momento procura julgar a moral dos personagens. A ausência deste fator torna suscetível ao espectador analisar de forma mais ampla as ações dos personagens sem cair em obstáculos morais. A intuição por trás disso está na possibilidade de discutir estas questões que geralmente passam despercebidas ou não são comentadas no dia a dia.
A série pode servir de exemplo para questionar a realidade em que vivemos que a cada momento a violência está sendo normalizada no cotidiano sendo usado até pelos nossos representantes como justificativas para solucionar problemas. Em situações como essas tornam o sentimento de viver algo instável e vazio, o que permite o florescimento de cenários de conflitos dentro do cotidiano. Nesse período tão confuso, o sentimento de justiça precisa ser discutido para alcançarmos uma sociedade mais justa e valorizar a vida humana.