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Princesa Mononoke — O atrito entre o ser humano e a natureza

A Animação

Princesa Mononoke é um filme do Studio Ghibli que foi lançado em 1997 e dirigido por Hayao Miyazaki possuindo apenas duas horas e quatorze minutos de duração e uma trilha sonora fascinante de Joe Hisaishi. A animação é impecável, e é capaz de representar completamente toda a qualidade técnica do Studio e sua tradição de produzir toda a obra com desenhos feitos manualmente e com uma quantidade minima de computação gráfica.

© Studio Ghibli/Princesa Mononoke

A história de Mononoke

A história se passa na Era Muromachi e é sobre o príncipe Ashitaka da tribo Aino que ao lutar contra um Javali denominado Tatari Gami (Deus da Maldição) para proteger seu lar é amaldiçoado, tendo sua vida consumida aos poucos pelo ódio da criatura; sendo assim, ele parte em busca de uma suposta cura. Alguns anciões dizem a ele que para quebrar a maldição o príncipe deve descobrir o que gerou o ódio no Deus Demônio e tudo o que ele ver nessa caminhada deverá ser julgado verdadeiramente pelo seu coração.

© Studio Ghibli/Princesa Mononoke

Ao longo dessa busca Ashitaka chega a uma vila chamada Tataraba que para sobreviver depende da extração do minério ferro que é obtido da Floresta dos Antigos Deuses Animais, que no processo, também é desmatado. E é essa atrocidade contra a natureza que causa toda a repulsa do Tatari Gami.

© Studio Ghibli/Princesa Mononoke

Tataraba é governada por Eboshi, uma mulher forte que vende ferro para o governo e com o dinheiro compra outras mulheres que seriam vendidas para prostíbulos e leprosos, os protegendo dos ataques dos samurais e dos Deuses-Animais. Contudo, Ashitaka e Eboshi se encontram e ela diz a ele que foi a responsável pela morte do Deus Javali e que ela é quem deveria ser amaldiçoada.

© Studio Ghibli/Princesa Mononoke

Ashitaka acaba conhecendo também a San (Princesa Mononoke) em uma tentativa dela de matar a Eboshi, uma menina que foi adotada pelos lobos que lutam contra Tataraba. Ashitaka interfere no conflito entre as duas e acaba sendo ferido, mas San tem piedade e com o apoio de Yakuru (o cervo vermelho de Ashitaka) o leva para ser curado pelo Deus supremo da floresta, Shishigami.

© Studio Ghibli/Princesa Mononoke

Segundo uma superstição, a cabeça do Sishigami poderia dar vida eterna ao imperador e sua morte permitiria que os humanos adentrassem a floresta sagrada. Sendo assim, Eboshi é contratada pelo governo para acabar com o Deus.

Dessa forma uma guerra é deflagrada e a comunidade dos javali decidem atacar Tataraba para proteger a floresta, os lobos os ajudam e muitos morrem. Os samurais também começam a atacar Tataraba, enquanto Eboshi e outros soldados do governo estão a procura da cabeça do Deus Shishigami.

© Studio Ghibli/Princesa Mononoke

Neste conflito sangrento, muitas criaturas e pessoas morrem. Ashitaka e San fazem de tudo para proteger o Deus, mas as coisas não acontecem conforme eles esperam. Diante todo esse cenário, os dois se apaixonam, mas San compreende o seu papel e dever para com os seres da floresta, e que mesmo amando Ashitaka não poderia ir com ele, pois ela jamais poderia perdoar toda a dor e o sofrimento que os humanos causaram por causa da arrogância e desejos egoístas.

© Studio Ghibli/Princesa Mononoke

Eu te amo, Ashitaka, mas não posso perdoar os humanos.

O atrito entre o ser humano e a Natureza

Na animação podemos perceber o quanto a natureza é essencial para a sobrevivência dos seres vivos. Mas as pessoas são incapazes de compreender e agir pacificamente com os recursos naturais e os animais, eles queriam extrair a qualquer custo os minerais, não importando com as criaturas que ali viviam, sendo capaz até mesmo de matá-los se fosse preciso.

E é isso que causa toda o ódio e repugnação das criaturas pelos humanos que querem tirar vantagem de tudo. Eles não queriam iniciar a guerra contra Tataraba mas não tinham outra opção, pois seriam devastados e desde sempre foram ameaçados pelos mesmos.

Toda a floresta era mantida pela vitalidade do Deus Sishigami e mesmo assim Eboshi foi incapaz de ter piedade e empatia pelo solo sagrado. Mesmo dando abrigo para moças inocentes que seriam vendidas para prostíbulos e leprosos, ela não respeitou os animais, que também deveriam ser valorizados como qualquer ser humano.

Na animação também podemos perceber outra importante questão: e se a natureza e os animais tivessem consciência e pudessem reagir contra todas as atrocidades que nós humanos cometemos contra eles?

Tendo em vista, toda a crise natural que estamos passando agora, em que milhares de espécies estão se extinguindo e ecossistemas sendo destruídos, além das grandes indústrias alimentícias não respeitarem o tempo natural e intoxicarem os solos e plantações e até mesmo injetar agrotóxicos em boa parte dos alimentos da população, que são altamente prejudiciais a saúde humana. E esses são apenas alguns exemplos, das inumeráveis crueldades que somos capazes de fazer para seres que nos provém o essencial a vida.

© Studio Ghibli/Princesa Mononoke

Todo esse atrito que a humanidade causa é completamente irracional e incompreensível. Pois é mais que perceptível que necessitamos da natureza para sobreviver, sem ela seríamos extintos e mesmo assim quase nunca repensamos nossos atos errôneos. É claro que a maior parte da culpa são dos empresários, donos de indústrias e presidentes lunáticos; na verdade todos os setores que a elite atua estão mais preocupados com seus egos e desejos egoístas do que com a prosperidade de toda a raça humana. E continuam disseminando toda uma ideia de que aquilo que eles fazem é o certo e que nenhum recurso que faz parte da natureza é esgotável.

O problema não é extrair os recursos da natureza em si, pois também precisamos deles para sobreviver, mas sim saber como extrair e respeitar o ciclo natural. Tenho certeza que dessa forma todas as formas de vidas poderiam coexistir em harmonia.

Mas somos incapazes de respeitar a natureza e compreender o seu valor.

Eboshi — Um exemplo de egoísmo e cegueira

Eboshi não era uma mulher completamente má, mas se deixou levar pela ganância e matou um Deus que provia toda a vitalidade de um solo somente por pura vontade de provar seu ego.

© Studio Ghibli/Princesa Mononoke

Todo mundo quer tudo. É assim que o mundo é.

Ashitaka — Um exemplo de Humanidade

O príncipe Ashitaka é um exemplo de personagem a ser seguido por todos nós.

© Studio Ghibli/Princesa Mononoke

Desde o início da animação ele se mostra compreensível com tudo que o cerca e sabe respeitar todos os seres vivos, sabendo o valor da natureza e acima de tudo a importância da paz.

Mononoke — Um exemplo de Força e Lealdade

É de práxis do Studio Ghibli representar as mulheres em suas animações como símbolos de força e a San cumpre bem o papel, sendo completamente autossuficiente e capaz de enfrentar uma vila inteira para proteger o seu lar e o lugar em que nasceu.

© Studio Ghibli/Princesa Mononoke

Além de seus valores e gratidão para com aqueles que a criaram. Pois mesmo amando Ashitaka e sabendo que ele a amava ela preferiu ficar para cuidar daqueles que sempre a acolheram.

Studio Ghibli e a importância da Natureza

Hayao Miyazaki sabe bem o quanto precisamos da natureza e talvez seja por isso que boa parte das obras que são dirigidas por ele traz essa temática. Sendo uma pessoa pacifista ele compreende bem a importância da paz em todas as instâncias do nosso mundo.

© Hayao Miyazaki

Princesa Mononoke é um filme que trata sobre o relacionamento do homem com a natureza e como isso pode ser uma relação desigualmente cruel. Pois diferente do filme, a natureza não pode lutar para sobreviver.

Somente quando todos os recursos naturais se esgotarem, o clima estiver no seu limite e os animais se extinguirem é que iremos compreender a sua real importância.

Não adianta, no final os tolos sempre vencem!

Curiosidades

  • Venceu o prêmio de melhor animação no Oscar de 2003.
  • Custou cerca de vinte milhões para ser produzido.
  • Foi o filme com maior bilheteria do Japão até a estréia de Titanic.

Estudante de Engenharia da Computação e uma das co-fundadoras do Café. Apaixonada por arte, ciência, tecnologia e pela cultura japonesa. Gosto de tudo e qualquer coisa que tenha sentido e me faça sentir, e principalmente de pessoas gentis.

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