Paper Mario: The Origami King – um refrescante título em um período de trevas
Paper Mario: The Origami King foi um título anunciado do nada com previsão de lançamento muito próxima no final do primeiro semestre de 2020, um ano basicamente interrompido pela pandemia do COVID-19, esta pandemia que afetou drasticamente a produtividade da Nintendo devido a falta de costume da empresa de trabalhar a distância e a política de cuidados maiores aos seus empregados em situações de crise.
O jogo rapidamente chamou atenção de fãs da série e novos jogadores, estes segundos principalmente pela falta de títulos anunciados pelo resto do ano. O mesmo apresentava uma tentativa de voltar à momentos anteriores da série (os últimos títulos foram grandes decepções para os fãs), mas ao mesmo tempo renovar a jogabilidade e trazer uma experiência nova com mecânicas de combate renovadas.
Depois que a série Mario & Luigi nasceu, a Nintendo tentou trazer um maior foco a esta no gênero de RPG que Paper Mario era conhecido por ter. Após Super Paper Mario no Nintendo Wii, a série ficou bem mais casual, focando no contexto de papel e simplificando a jogabilidade. O que acontece é que isso tirou o contexto e o feeling da série, e há anos os fãs aguardam um Paper Mario que verdadeiramente trouxesse de volta seus aspectos de RPG.
Kensuke Tanabe, produtor de Paper Mario, em entrevista, falou sobre como a franquia precisa estar sempre volátil, buscando novas fórmulas de jogabilidade, o que resultou nos últimos títulos sempre estarem mudando (não necessariamente para melhor). Também falou que desde Sticker Star é impossível que personagens novos sejam criados em séries fora a principal, apenas adaptados, limitando um pouco sua gama de trabalho, e de prontidão afirmou que talvez seja difícil agradar fãs que esperam de Paper Mario simples jogos de RPG.
Como de costume, fãs da série entraram em preocupação por tais afirmações. É natural que desenvolvedores busquem experiências renovadas, mas a que custo?
Esta análise foi feita com cópia concedida pela Nintendo.
Paper Mario: The Origami King foi um título lançado no começo de julho de 2020 pela Nintendo e a Intelligent Systems. O jogo é focado em aventura e quebra cabeças, com combate por turnos. Aqui, Mario é acompanhado de Olivia, irmã do maligno rei do Origami Olly (o vilão do jogo), em busca de salvar o reino dos cogumelos da invasão de Origami que converte todo e qualquer ser de papel em origamis com personalidade completamente distorcida. Ao longo do caminho Mario encontra antigos personagens da série, como Luigi e Bowser, assim como novos amigos que roubam a cena nos diversos momentos que aparecem.
Em Origami King, Olly não apenas sequestra a princesa Peach, como a transforma em um origami completamente distorcido e assustador que passa a trabalhar junto do mesmo para transformar todo o reino em um mundo ideal para os origami. Os dois roubam o castelo e colocam cinco muralhas voláteis presas a diferentes lugares do reino. Mario e Olivia devem então viajar para todos os cantos em busca de derrubar cada uma das muralhas e abrir caminho para o castelo e derrubar Olly de uma vez por todas.
Ao se introduzir o objetivo, Mario não poupa tempo (apenas para um tutorial repetitivo e entediante). A história começa em uma Toad Town completamente destruída. Com ajuda de Olivia, Toads e lacaios de Bowser, Mario consegue reconstruir pouco a pouco do reinado que está sendo rapidamente destruído pelos origami. Aí entra a mecânica dos confete e a exploração. O protagonista possui uma bolsa de confete mágico que, ao ser jogado em lugares danificados, pode reconstruir caminhos, construções, passagens e mais.
Por todo o mapa também se encontram toads em apuros – é o reino dos cogumelos, afinal. Um dos objetivos do jogo se encontra em ajudar estes, seja desdobrando eles ou arrancando os mesmos de algum lugar que foram presos. Muitos destes vão ajudar Mario em sua jornada, dando presentes ou abrindo lojas e estabelecimentos que podem ajudar Mario a melhorar suas habilidades, seja por pontos de viagem rápida, loja de itens de combate, ou até coisas para progredir na história. Isto da ao jogador um verdadeiro senso de progresso e da um charme maior além de vida ao mundo que se explora.
O mundo é constituído por grandes áreas abertas exploráveis, onde Mario deve fazer uma série de atividades para seguir adiante. Cada área possui um grande serpentina que serve de muro para o rei do origami, e é o objetivo do jogador derrubar cada uma delas. A história de cada área geralmente é entrelaçada a essa serpentina de forma bem explorada, apresentando personagens únicos mas não novos para os fãs (Toad #5403953409534 tem grande responsabilidade na área e guia Mario e seus amigos por lá). No meio disto tudo, Mario ajuda lacaios de Peach e Bowser como previamente discorrido, lutando contra origamis ao longo do caminho e resolvendo quebra cabeças.
Os puzzles neste título conseguem ser um grande “8 ou 80”. Felizmente o jogo não segura tanto a mão do jogador, mas ainda da uma boa direção do que fazer. Os puzzles do mundo conseguem ser bons desafios ao jogador, incentivando que cada lugar seja bem explorado – porém puzzles também se encontram no próprio combate do jogo, um dos aspectos mais polêmicos de Paper Mario.
O combate é realizado da seguinte maneira – Mario encontra com inimigo origami, batalha por turno se começa. Antes de poder atacar, é necessário que o jogador realize um puzzle. Os inimigos são dispostos ao redor de Mario em uma série de círculos – de forma que Mario deve girar e alinhar (com até três movimentos) para que um bônus de ataque seja disposto e ele possa usar suas armas e habilidades para derrotar os inimigos e prosseguir. Mario ganha moedas, estas que podem ser utilizadas para facilitar os puzzles de combate ou comprar itens ao longo do jogo que são de extrema importância para dar conta de inimigos e situações. O jogo também não possui pontos de experiência, o que para muitos é considerado uma falta de incentivo para o combate.
O problema em si não é a falta de XP, muito menos as moedas. As moedas até funcionam como experiência no jogo, vide os equipamentos de melhoria que podem ser adquiridos com as mesmas e suas diversas funcionalidades – o maior problema no combate encontra-se no puzzle obrigatório. Apesar de serem repetitivos, muitas vezes eles prolongam batalhas que deveriam ser rápidas. Em muitos momentos no jogo Mario é obrigado a abrir caixas ou portas para progredir, mas em várias delas encontram-se inimigos origami. Se descuidar, múltiplos inimigos invadem o campo de batalha, necessitando de múltiplas soluções de puzzle de batalha para os derrotar, o que muitas vezes acaba prolongando batalhas contra inimigos simples que poderiam ser derrubados com 1-hit, mas, devido a falta do bônus de alinhamento, precisam de múltiplos turnos para serem derrotados. Isso tudo faz com que o puzzle de alinhamento fique forçado, um desafio artificial que traz quase zero benefícios para o jogador, algo que na metade do jogo já se tornou algo cansativo e indesejado, levando o jogador a simplesmente fugir do maior número de batalhas possível, salve bosses ou batalhas que envolvem desafios do mundo, principalmente pela abundância de moedas que o resto do jogo o proporciona.
As batalhas contra chefes, por outro lado, são extremamente bem desenvolvidas e possuem um “puzzle de alinhamento inverso”. Aqui, Mario é o lacaio, estando nos anéis e precisando alinhar um caminho (que agora possui obstáculos). É necessário que se planeje a rodada, diferentemente de combate comum, para que não se leve grande porcentagem de dano. Alguns chefes conseguem fazer dano a vida máxima, dando ainda maior preocupação a defesa e recuperação dessa vida antes que seja tarde. Outros conseguem recuperar a vida baseado nos pedaços do próprio corpo que caem no mapa, momento oportuno para Mario usar das artes de dobradura de Olivia para dar dano massivo.
Olivia é uma verdadeira estrela no combate do jogo. Monstros elementais costumam ser encontrados antes dos chefes principais aqui, estes que foram transformados em origami e quando derrotados, permitem que Olivia use transformações nos próprios monstros e dar dano elemental nos inimigos. Além disso, existe uma técnica de dobradura no próprio Mario que o permite que aumente seus braços e use controle de movimento para tanto dar dano massivo nos inimigos quanto abrir caminho nos mapas (Olivia também pode ser usada no mapa).
O jogo também conta com companheiros, previamente comentados, além de Olivia. Cada um possui diferentes funções, geralmente acompanhando Mario em regiões diferentes – Bobby o Bomb-omb, Professor Toad, entre outros – estes que também auxiliam Mario no combate, mas de maneira relativamente simplória. Por outro lado, suas participações na história são verdadeiramente importantes, dando maiores dimensões ao que é contado e maior vida as demais “raças” que existem no jogo.
Os visuais de Origami King conseguem ser uns dos mais bem trabalhados no Nintendo Switch. Os conceitos e texturas de papel e materiais de arte são muito bem representados nesse mundo 2.5D, com uma distinção muito bem feita entre papel e origami. A ambientação do jogo é extremamente rica e variada, com cidades bem construídas e movimentadas, campos ricos e misteriosos e cavernas milenares cheias de perigos. Chega-se a considerar spoiler mostrar algumas das áreas foras dos trailers, então evita-se nesta análise a exibição das mesmas. A trilha sonora também é extremamente bem colocada, dos temas de batalha a temas de personagens e ambientes.
PROS:
- Exploração de mundo extremamente rica;
- Personagens simples porém marcantes;
- Colecionismo;
- Visuais e som extremamente bem desenvolvidos;
- Mecânicas de dobradura;
- Batalhas contra chefes.
CONS:
- Puzzles em batalhas contra lacaios;
- Repetitividade;
- Tutoriais lentos e desnecessários;
- Segunda metade do jogo arrastada.
PLATAFORMAS:
- Nintendo Switch (chave concedida por Nintendo).
NOTA: 8/10
Paper Mario: The Origami King é uma grande melhoria em uma franquia que estava verdadeiramente judiada. Apesar de seus defeitos, o jogo é uma grande experiência no Nintendo Switch, obrigatória para fãs de Mario e jogos de aventura.
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