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Them Fightin’ Herds – A magia da pancadaria

O desenho animado My Little Pony: Amizade É Mágica foi um sucesso inesperado. O que começou como mais uma iniciativa da Hasbro para reacender a demanda pela sua linha de brinquedos se tornou uma das séries mais famosas em animações para crianças e, apesar de seu público-alvo ser infantil, logo se criou uma fanbase de todas as idades (e gêneros).

E My Little Pony foi a base que deu origem a Them Fightin’ Herds, um jogo que começou um fangame desse show, usando personagens e materiais da série. Eventualmente o projeto cresceu demais e chamou a atenção da Hasbro, detentora dos direitos da propriedade intelectual dos personagens, e enviou uma intimação de “cease & desist” para o time por trás do jogo, Mane 6, que ao invés de abandonar o projeto por completo simplesmente reaproveitou seu esqueleto para criar uma nova IP com a ajuda de Lauren Faust, criadora do MLP:FiM e escritora da primeira temporada.

Não parece exatamente uma história de sucesso para um jogo de luta, não? Mas desafiando qualquer julgamento inicial, Them Fightin’ Herds tem muito a oferecer, seja para que nunca jogou um jogo de luta antes, ou para veteranos da FGC. Vamos por partes:

Mecânicas

Uma característica intrínseca de jogos de luta é sua mecânica de jogo. Sendo a peça central que contém a maior parte das atividades, iremos começar por ela. Apesar de não existir subcategorias bem definidas, Them Fightin’ Herds é um jogo de luta 2D sem quaisquer sistemas de assist, a comparação mais próxima seria com BlazBlue ou Guilty Gear, apesar de ser bem mais acessível sem sacrificar complexidade no high level. Seu ritmo é rápido e seu foco é em combos grandes.

Para novatos

TFH possui o melhor tutorial atualmente no mercado, partindo dos básicos como movimentação, defesa, e ataques simples até conceitos avançados como hitboxes e frame data. Apesar de talvez não ser a absoluta melhor experiência para quem nunca jogou algo do gênero por ser bem mais rápido, ainda é uma ótima porta de entrada. O modo de treino possui várias ferramentas para ajudar a executar combos, junto com vários tutoriais de combos feitos pela comunidade.

O modo história e Minas de Sal providenciam um degrau que pode ser tomado antes de partir para o online, e mesmo nos modos versus é possível achar partidas adequadas para todos os níveis de habilidade. Mais detalhes nas próximas seções.

Para veteranos

Qualquer obra de qualquer mídia sempre tem seus problemas quando simplificada para expandir seu alcance, é uma linha muito tênue de se andar, porém TFH acerta o balanço perfeitamente e tem apelo o suficiente para todos os níveis de habilidade.

Sua principal qualidade, seu sistema de combos, funciona nos moldes de um clássico sistema de gatling. Golpes fracos podem ser cancelados em golpes mais fortes que podem ser cancelados em normais de comando. O próprio jogo ensina a clássica sequência A>B>C>3C>aA>aB>aC a qual todas as personagens podem fazer (com exceção de uma que é necessário pular o B aéreo) como base, mas fica logo evidente o quão freeform o sistema é como um todo. A prevenção de infinitos é feita através de uma barra de Juggle Decay que, quando cheia, aumenta a gravidade do personagem deixando cada vez mais difícil manter o combo até eventualmente ser impossível. Quando a barra se enche por completo, o jogador na ofensiva ganha menos barra e seu oponente ganha mais. Se o oponente decidir fazer um fast recover assim que possível, a barra toda será resetada imediatamente, caso contrário essa barra decai com o tempo.

Ou seja, com um simples sistema de prevenção de infinitos já temos algumas mecânicas importantes, playstyles focados em combos altíssimos podem sair pela culatra pois seu oponente terá muito mais barras para especiais a sua disposição. Resets são encorajados, porém sempre é uma aposta dependendo da habilidade defensiva de seu oponente. Mesmo quando no lado errado de um combo, a simples decisão de fazer ou não um fast recover carrega um peso imenso. Se seu oponente quiser manter a pressão em cima, um fast recover absolutamente precisa de uma defesa perfeita na sequência. Caso contrário talvez seja melhor esperar o personagem levantar normalmente. O tempo é fixo e isso com certeza te abrirá para um meaty do oponente, mas se ele por um acaso conseguir abrir sua defesa de novo, não só o combo será muito menor, como você ganhará muito mais barra, abrindo uma boa chance para uma virada.

Isso é apenas uma face do potencial que TFH pode chegar no high level, ainda poderia ser falado do footsies, vortex, setups, resets, crossup resets, o sistema de magia, instant block, push block, damage scaling, entre várias outras mecânicas que podem te dar a vantagem nom high level. Ou seja, TFH não perde quase nada apesar de sua acessibilidade.

Single-player

Conteúdo PvE é algo escasso nos jogos de luta, com apenas a Arc System Works fazendo um esforço para sair da mesmice que amaldiçoa o gênero a gerações. Them Fightin’ Herds tem o clássico modo arcade que é padrão e um tutorial compreensivo, mas nenhum dos dois servem como um bom exemplo de conteúdo single-player.

Porém, o que TFH tem de diferente é o modo história e as minas de sal (Salt Mines). O modo história toma os moldes de um RPG 2D antigo, navegando as personagens por um overworld e falando com NPCs para pegar quests e avançar a história. Contido nesse modo há um tutorial de movimentação simples com platforming envolvido que já adiciona uma variedade bem vinda ao gameplay. Além das batalhas comuns, foram colocadas batalhas contra múltiplos inimigos, ataques surpresa e chefes com regras especiais. Por enquanto a história tem apenas um capítulo que dura de 5 a 8 horas dependendo de quanto cada jogador explora. O próximo capítulo está programado para chegar com a próxima atualização de conteúdo sem nenhum custo adicional.

As Salt Mines podem ser acessadas de um pixel lobby, uma ferramenta multiplayer, mas pode ser jogada solo ou co-op. É um modo contido apenas da exploração de dungeon demonstrada no modo história, e onde o jogador acumula Sal (a moeda do jogo) para comprar cosméticos para seus avatares. É um ótimo modo para treinar combos e jogar sem muito compromisso.

Multiplayer

Apesar de ser o pilar de qualquer jogo de luta atual, é surpreendente quantos jogos tem problemas nesse quesito. Entre netcodes com problemas de lag, lobbies disfuncionais e outros problemas menores. TFH não contém nenhum desses.

Modos ranqueados ainda estão em desenvolvimento, virá no futuro como uma atualização gratuita. O que tem disponível agora são os lobbies casuais padrão – O modelo clássico de matchmaking, só clicar um botão no menu que o jogo automaticamente procura partidas enquanto o jogador é livre para fazer qualquer outra coisa (como treinar combos, por exemplo). E o pixel lobby, onde cada jogador escolhe um avatar e anda pela cidade a procura de outros oponentes no mesmo lobby. Essa cidade contém um totem de torneio com as clássicas regras de “rei da colina” onde o vitorioso permanece enquanto os desafiadores entram em fila. É possível desafiar qualquer outro jogador para partidas casuais ou partidas de treino (sem KO). Alguns baús contendo cosméticos podem aparecer onde os dois primeiros jogadores a alcançar lutam pelo seu conteúdo. E é possível acessar o modo Salt Mines mencionado anteriormente, seja solo ou co-op.

300 ms de ping e nenhum lag

O netcode usa a tecnologia GGPO, que é um middleware desenvolvido especificamente para gerenciar partidas online de jogos de luta e rollback netcode. Isso resulta em partidas estáveis até 200ms de ping, contudo que as frames sejam ajustadas corretamente (o jogo automaticamente recomenda essa configuração antes de cada partida).

Tudo isso providência uma experiência online amplamente livre de frustrações com lag e outros erros comuns de dessincronizações.

Sobre a versão de PC

Them Fightin’ Herds é um jogo que foi desenvolvido primariamente para PC. Ports para Linux e Mac estão previstos para serem entregues até o final do ano, e no futuro até ports para consoles. Independente disso, as configurações do jogo permitem ajustes ótimos para performance, podendo até mudar a forma de renderização da tela de fundo de 3D para 2D ou desligar por completo. O jogo reconhece controles de Playstation, Xbox, arcade sticks, e permite usar prompts de botão de cada um deles. São várias opções de customização para acomodar várias preferências diferentes. No que se trata de polimento e cuidado com a versão de PC, Them Fightin’ Herds também não deixa a desejar.

PROS:

  • Sistema de combos extremamente fluído. Possui um chão de habilidade suficiente para novatos e um telhado alto para agradar até fãs de franquias como King of Fighters e Guilty Gear;
  • Conteúdo single-player robusto que dá valor integral ao produto mesmo que jamais seja jogado online;
  • Excelente infraestrutura nos modos online que permite partidas estáveis através de continentes;
  • Sistema de level e customização recompensa seu tempo investido além da própria evolução em habilidade;
  • Sprites feitas à mão exalam carisma sem igual no mercado e possuem animações fantásticas;
  • Trilha sonora cativante e dinâmica;
  • Comunidade amigável e desenvolvedores ativos continuam evoluindo o jogo.
  • Atenção aos detalhes e interação entre personagens remete a era clássica dos jogos de luta.
  • Ótimo preço regional.           

CONS:

  • Apenas seis personagens, o que restringe consideravelmente o alcance do estilo de jogo de cada pessoa.

PLATAFORMAS:

  • PC – Steam, Humble.

NOTA: 9/10

Acompanho jogos de luta desde que comecei a jogar videogames quando criança, um gosto que adquiri do meu tio que jogava desde os fliperamas. Porém, é um gênero que se estagnou muito rápido sendo que desde a sexta geração já não houve mais grandes avanços. Pegando qualquer jogo das grandes desenvolvedoras de HOJE tem menos conteúdo do que tinham anos atrás. Capcom, SNK, Bandai Namco, Arc System Works, sem nenhuma exceção. Ver um projeto de 9 pessoas partindo de um desenho infantil ter tanto sucesso demonstra todas as falhas que o gênero se recusa a corrigir no nível mainstream.

Mas não quero ser injusto e nem diminuir o enorme sucesso de Mane6. Them Fightin’ Herds é um jogo que vale seu tempo e dinheiro mesmo que os grandes nomes não estivessem em situação tão precária. Com certeza é um jogo que pisoteia a concorrência (Heh).

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