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Tales of Arise – Um conto de escravidão, revolução e amor

Nos últimos anos, a valorização de RPGs japoneses vem crescendo mais que nunca, tanto por divulgação da própria comunidade como também valorização da localização de tais títulos no ocidente. Tales of Arise sempre foi uma série de médio porte de tal gênero, mas sempre muito valorizada por sua base de fãs e também muito respeitada pelo resto da comunidade. Com o anúncio de Tales of Arise como um título audacioso para a franquia, com grandes melhorias gráficas e promessas de ser um dos maiores jogos até hoje da série, a expectativa de quem era fã naturalmente foi crescendo ao se aproximar o lançamento e diante de demos extremamente promissoras, Tales of Arise se tornou um dos títulos mais aguardados do ano.

Tales of Arise é um JRPG de ação com um sistema de combate único, com carregamento de uma barra de energia que permite o jogador utilizar artes especiais que combam entre personagens para finalizar com estilo e precisão inimigos. É importante destacar a complexidade desse sistema de batalha, que não chega ao nível do de Xenoblade Chronicles 2, porém é tão poderoso quanto o jogador desejar se aprofundar, rendendo combos na casa das centenas. O jogo conta com seis personagens jogáveis, completamente controláveis, onde quatro ficam em campo e dois na reserva, que ainda assim podem ser utilizados para finalizar ataques ou quebrar cadeias de ataque inimigos.

É relevante também destacar as árvores de habilidades de cada personagem, complexas, que permitem tanto a adição de novas artes como também boosts de stats para cada um deles. Ao se completar cada anel dessa árvore há uma aumenta significativa de algum stat específico e alguns destes anéis exigem ações para desbloqueá-los. É importante notar que todos os personagens são controláveis porém a inteligência artificial para os que estão acompanhando o jogador é excelente, e podem ser invocados a qualquer momento pelo jogador para utilizar algum ataque especial ou até mesmo trocar o controle do personagem.

Apesar disso, o jogo ainda assim dispõe de inúmeros desafios para os jogadores, então não contem com simplesmente atropelar os inimigos para avançar na história pois sem o necessário grind o jogador passará por maus bocados, principalmente na mão dos chefes que possuem golpes finalizadores extremamente potentes. O jogo deixa bem claro que você precisa fazer crescer como indivíduo para enfrentar obstáculos, principalmente nas dungeons principais, onde inimigos tampam portas, caminhos ou até fazem emboscadas para impedir que o jogador avance sem o devido treino. É recomendado uso de todas as ferramentas disponíveis para evitar frustrações desnecessárias, pois o jogo as oferece e as incentiva, tanto na criação de equipamentos e armaduras quanto na realização de missões secundárias com prêmios fartos e itens de recuperação de vida.

Saindo do combate, o ponto mais óbvio para comentar é a própria exploração, que é uma das mais refrescantes dos últimos anos em um JRPG. Os mapas não são necessariamente grandes, mas detalhados e cheios de vida. Apesar da relativa linearidade, o jogo permite explorar tudo à vontade até perto do ato final, onde fecha temporariamente para focar na história. Cada reino possui um bioma diferente, de terras áridas e vulcânicas a tundras geladas e pântanos chuvosos, o jogo realmente não deixa a desejar no quão interessante pode ser o mundo onde se está inserido. As cidades, apesar do contexto de opressão social, apresentam humanidade, não parecem apenas um ponto para se atravessar no mapa, principalmente pela quantidade generosa de missões opcionais dadas.

Falando de conteúdo opcional, o jogo conta com um interessante sistema de pescaria (inevitável em jogos do gênero) que não é necessariamente um ponto muito profundo, mas definitivamente um mini-game divertido que pode ser revisitado em diversos pontos do jogo. Além disso, em inúmeros pontos do mapa existem acampamentos, onde o jogador pode revisitar momentos da história, ter conversas exclusivas com outros personagens que aumentam a intimidade entre o protagonista e o respectivo personagem e, ao descansar para recuperar as energias, existe a possibilidade de cozinhar com ingredientes encontrados ao longo do jogo, preparando pratos para todos os personagens que dão boosts de stats temporários (e podem dar ainda mais se preparados com personagens específicos [e podem desbloquear ainda mais cenas exclusivas]).

A história do jogo é de longe um dos maiores destaques dos últimos anos do gênero. Apesar do mundo colorido e vibrante, temos uma história tematicamente pesada sobre racismo, escravismo e abusos. O próprio protagonista começa trabalhando incessantemente como escravo, com a cabeça dentro de um capacete que o impede até de saber como é o próprio rosto. O jogo mostra de perto como é viver essa realidade tão infeliz e por um acaso do destino, da oportunidade a Alphen a buscar e lutar por sua liberdade. É então que ele começa a conhecer um por um os seus novos amigos e aliados na luta contra a opressão, começando por Shionne, uma linda moça que estava sendo mantida como prisioneira de um governo misterioso e externo ao próprio planeta (coisa que é visível desde o começo do jogo – um planeta gigante no céu, julgando o protagonista em todos os momentos do jogo).

Shionne é tão estranha quanto o protagonista. Enquanto Alphen não sente dor, tudo que Shionne toca é brutalmente machucado pelos seus “espinhos”, uma força maligna que vive dentro dela e a impede de ter uma vida normal. Com essa bizarra conexão, eles fazem um pacto para derrubar os governos opressores e recuperar um artefato mágico que pode tanto curar ela quanto libertar os povos de Dahna, o planeta em que vivem. Shionne entrega a Alphen uma espada flamejante que os acompanha durante a viagem e permite com força imensa e astral enfrentar os grandes lordes, cada um com sua arma astral igualmente poderosa. E ASSIM começa a história, oficialmente.

É importante destacar que a equipe principal consiste seis personagens, como dito anteriormente. Cada um com uma realidade mais pesada que a outra, mas unidos por um bem comum. Law torturado e manipulado a sua vida toda, Rinwell perseguida por seus poderes mágicos, Kisara comandante das forças de um país pacífico com passado cruel e Dohalim um lorde solitário com imensa culpa, cada um deles trás seu peso pra história e complementa o que já é incrível. É inacreditável a evolução dos personagens aqui, principalmente destacada pelos “curtas” que são desbloqueados ao longo da história contando o dia a dia de suas aventuras juntos. É incomum encontrar jogos que exploram tanto a relação de seus protagonistas, mas como outros de tempos recentes, Tales of Arise faz isso com maestria e encerra sua história de maneira surpreendente, deixando um aperto no coração do jogador.

O trabalho artístico em cima do jogo é extremamente louvável. Gráficos e iluminação inacreditavelmente bem otimizados para o PlayStation 4 (plataforma analisada), quadros por segundo beirando os 60 (lembrando, PS4 Fat), tudo aqui é bonito, em momento algum os visuais do jogo deixaram a desejar, principalmente em suas cutscenes que contém motion capture absurdo para o estilo visual de anime. Como dito antes, cada bioma é único, os designs de personagens são magníficos. Também é inadmissível não comentar as cenas animadas pela Ufotable (tanto para aberturas quanto momentos marcantes do jogo) que deixam o jogo ainda mais especial. A trilha sonora satisfaz bastante, com destaque para as duas aberturas e o encerramento (por Ayaka e Kankaku Piero), que são dignas de prêmio pela apresentação.

Como único ponto negativo ao jogo, pode-se falar sobre os dois últimos dungeons que são em sua maior parte extremamente repetitivos, pobres criativamente e desnecessariamente longos, este último item especialmente falando do último dungeon. A impressão que o jogo dá é que foram colocados apenas para extender a última seção do jogo e justificar as horas de diálogo antes do último chefe que por si só não são um problema, mas ficaram muito concentradas em um único momento. Uma distribuição melhor poderia sim ter sido feita nesse último momento.

PROS:

  • Salto visual inacreditável para a franquia;
  • Animações vivas e cutscenes da Ufotable;
  • Curtas dão mais vida aos personagens e acrescentam de pouco em pouco a história;
  • Trilha sonora impecável;
  • Personagens reais, humanos e incríveis;
  • Variedade de exploração;
  • História poderosa, pesada e amável;
  • Combate único e diverso;
  • Conteúdo opcional (missões secundárias, cosméticos e pescaria).

CONS:

  • Última seção de exploração do jogo mal organizada.

PLATAFORMAS:

  • PC;
  • PlayStation 4 (plataforma analisada);
  • PlayStation 5;
  • Xbox One;
  • Xbox Series.

NOTA: 9.5/10

Tales of Arise é um dos video games que podem ser chamados de arte. Tudo aqui é muito bem orquestrado, de sua trilha sonora a estilo visual, aliados a uma história extremamente poderosa e uma jogabilidade muito gostosa. Terminamos com um aperto no coração desejando por mais e estamos fortemente considerando revisitar o título no PlayStation 5. É um dos títulos mais indispensáveis do ano e forte concorrente ao nosso Barão do Café.

Engenheiro de Software, Game Dev e Criador de Conteúdo.

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