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Alan Wake Remastered – Revisitando o pesadelo

Stephen King é um dos autores do gênero de terror e suspense mais conhecidos da literatura mundial. Com diversos clássicos como “It – A Coisa” de 1986, “Misery: Louca Obsessão” de 1987 e “Carrie, a estranha” de 1974, o autor tem nas histórias de mistério e horror o seu lugar de conforto.

E por que falar de Stephen King? Porque Alan Wake é um jogo claramente influenciado pelo autor. Inclusive, as primeiras palavras pronunciadas no game pelo seu protagonista são de uma citação do mesmo:

“Pesadelos existem fora da lógica e por isso não é divertido que eles tenham explicação; eles são a antítese da poesia do medo.”

Alan Wake — o jogo, não o personagem — claramente foi escrito com essa frase em mente. Sua narrativa é repleta de situações sobrenaturais que fogem à lógica, deixando o jogador em situações aonde a única saída é encontrar um caminho até o alívio, representado no jogo pela “luz”.

Também é possível fazer diversos paralelos com a série “Twin Peaks”, como algumas cadeiras vermelhas espalhadas por todo jogo, similar ao segundo episódio da série. Uma personagem imporante para o desenrolar da história também é muito similar a senhora que aparece segurando um tronco de madeira em alguns episódios do seriado.

O primeiro lançamento de “Alan Wake” se deu em 2010, e por ter sido publicado pela Microsoft Studios, acabou sendo exclusivo para o Xbox 360, sendo um dos poucos jogos 3rd party da época e não aparecer no console da Sony.

Dois anos depois, a Remedy – sua desenvolvedora – conseguiu adquirir os direitos para que ela mesma publicasse uma versão para PC.

Inicialmente, o jogo seria em mundo aberto, com um mapa similar em tamanho a jogos da mesma época, como GTA: San Andreas. Porém, devido à pressão da Microsoft e a falta de entrega de metas estipuladas pela publisher, a Remedy precisou mudar o foco do projeto, tornando Alan Wake um jogo mais linear, com a narrativa separada em capítulos.

Isso tornou o game mais similar aos antecessores produzidos pela empresa finlandesa, como os dois primeiros jogos da série Max Payne.

Bebendo um pouco da fórmula do livro “Misery”, a história começa com Alan Wake, um autor já estabelecido do gênero policial que, por passar por um período de bloqueio de criatividade, vai com sua esposa passar um tempo na cidade de Bright Falls, um pequeno vilarejo no interior do estado de Washington.

Ao chegar na cabana onde eles iriam passar esse período, sua esposa revela que o real objetivo da viagem até esse lugar seria para que ele fosse consultado por um psicólogo famoso chamado Emil Hartman. Além disso, ela já havia inclusive preparado uma máquina de escrever para que ele, durante suas férias, voltasse a trabalhar.

Ofendido pela situação, Alan sai da cabana nervoso, porém volta ao ouvir sua esposa gritando por socorro. Ao voltar, ele a vê sendo sugada por uma força misteriosa para dentro de um lago e, ao mergulhar para tentar salvá-la, Alan perde a consciência.

Alan acorda uma semana depois, aparentemente depois de uma batida de carro, mas sem lembrança alguma de como isso ocorreu.

Daqui pra frente fica a cargo do jogador desvendar o resto da história.

Em 2021, uma versão remasterizada do jogo foi anunciada pela Epic Games, que lançou o jogo no dia 5 de outubro do mesmo ano. Pela primeira vez, o jogo chega nas plataformas da Sony, podendo ser jogado também no PlayStation 4 – versão analisada neste texto – e PlayStation 5. Além de claro, Xbox One, Series S/X e PC.

Além de melhorias gerais gráficas, como iluminação e modelo de alguns personagens, podemos notar que as cutscenes dessa vez estão sendo renderizadas em tempo real, ao invés de serem em vídeo, como na versão original para Xbox 360.

Existem também outras melhorias, como suporte de resolução até 4K, os dois capítulos extras que foram inicialmente lançados como DLC e uma faixa de comentários do diretor Sam Lake, conhecido por dar o seu rosto ao Max Payne original.

Infelizmente, a pseudo-sequência do jogo original, chamada “American’s Nightmare”, que possui diversas inspirações da série Twilight Zone, não foi incluída no pacote, tampouco os product placements da versão original, que foram substituídos por marcas genéricas. Por sorte, as músicas licenciadas foram mantidas.

Já os dois capítulos extras lançados como DLC na versão original estão presentes.

Além disso, pela primeira vez o jogo conta com legendas oficiais em português brasileiro. Até então, a única forma de se jogar Alan Wake na nossa língua era através de uma tradução de fãs feita na época do lançamento de PC, que apesar de ser boa, possuía erros comuns de projetos não-remunerados desse tipo.

Exclusivo dessa versão, estão alguns easter eggs na forma de QR Codes espalhados (ou escondidos?) pelo mapa do jogo. O conteúdo linkado a esses códigos ainda não faz sentido nem para os fãs do jogo, mas talvez possa indicar uma possível continuação.

Infelizmente porém, seguimos sem dublagem em português. Seria legal pois em muitos momentos frenéticos, o jogador que não compreende a língua inglesa com fluência pode não conseguir agir e ler o texto na parte inferior da tela.

O texto por sua vez está muito bem traduzido, porém as legendas ocupam toda extensão horizontal da tela, sendo levemente desagradável de se ler quando algum personagem fala uma frase muito grande. É só um pequeno detalhe que não influencia muito.

Os controles estão muito bons, seguindo o mesmo padrão de comandos da versão de Xbox 360. Ainda que Alan não seja um herói de ação, é muito prazeroso e confortável correr com o L1/LB, ao invés de talvez usar o botão do analógico esquerdo, como era comum nos jogos da época.

O loop de jogabilidade consiste em cenas de ação, com o jogador usando sua lanterna para enfraquecer os inimigos e depois atirando ou usando granadas de luz para derrubá-los; tudo isso intercalado com cenas de exploração na cidade, onde Alan pode conversar com os habitantes de Bright Falls para entender melhor a história do jogo.

Alan Wake Remastered traz para a geração atual (e anterior) um ótimo jogo de 11 anos atrás. Olhando com o olhar de quem conhece a indústria da época, é incrível como um jogo tão autoral conseguiu destaque entre tantos shooters cinzas e marrons que dominaram aquela geração, principalmente no console da Microsoft.

A Remedy sempre entregou jogos nesse estilo e foi muito bom ver o que eles conseguiram fazer com uma nova IP após da venda de Max Payne para a Rockstar.

Após Alan Wake, eles fizeram “Quantum Break” e “Control”. Esse último por sua vez segue uma linha narrativa similar, porém com mais ação e situado em um mapa único cheio de labirintos, similar aos jogos estilo metroidvania.

PROS:

  • Narrativa excelente;
  • Gráficos melhorados;
  • Excelente trilha sonora de músicas licenciadas.

CONS:

  • Combate um pouco lento;
  • Ausência do spin-off Americans Nightmare.

PLATAFORMAS:

  • Microsoft Windows (Epic Games Store);
  • Playstation 4 (plataforma analisada, chave concedida pela Epic Games Publishing);
  • Playstation 5;
  • Xbox One;
  • Xbox Series S/X.

NOTA: 8.5/10

Sendo lançado por um preço abaixo dos outros games atuais, Alan Wake Remastered merece atenção de todos os jogadores que gostam do gênero de jogos de terceira pessoa e narrativas de mistério. O game pode não se destacar exatamente por suas mecânicas, mas a história e narrativa dividida em capítulos faz com que o jogo possa ser apreciado em pequenas pílulas de algumas horas por dia sem cansar. Caso seja seu primeiro contato com a história de Alan Wake pois não teve acesso na época, não deixe de aproveitar, pois caso faça sucesso, talvez a Remedy volte com mais um game da série.

Engenheiro Eletricista e banido permanentemente do Twitter. Autor no CyberCafe e Arquivos do Woo. Também estou na Twitch (twitch.tv/HoroJoga).

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