Análises,  Games,  Indie,  PC,  Playstation,  Xbox

Orcs Must Die! 3 – Um retorno turbulento

Orcs Must Die 3 é um jogo difícil de ser analisado em um vácuo. Seu gênero é um nicho pequeno e a história de desenvolvimento da franquia teve um caminho peculiar. De forma a explicar suas qualidades e falhas, é necessário um certo contexto que poucas pessoas devem saber.

Para quem desconhece completamente do que se trata, Tower Defense é um dos gêneros de jogos mais antigos da indústria. No período de transição de fliperamas para consoles de mesa, viu-se a necessidade de expandir os tipos de jogos já que não estavam mais restritos a jogabilidades curtas para vender fichas. Jogos de estratégia começaram a surgir, com partidas demoradas e lentas, e tower defense surgiu como um subgênero que era um pouco mais simples e voltado para o single-player.

Não foi um enorme sucesso de vendas, mas criaram uma faísca que só foi pegar fogo em 2007~2008 com a popularização de jogos de Adobe Flash (RIP), dentre eles o famoso Flash Element TD. Surgiu um novo boom para o gênero com várias idéias e valores de produção. Orcs Must Die! surgiu em uma leva que criava ainda outro subgênero, o Action Tower Defense. Na época contidos por OMD!, Sanctum e Dungeon Defenders.

O gênero estava desacelerando pela época de lançamento desses três jogos, mas eles conseguiram se diferenciar o suficiente entre si para que cada um tivesse um apelo diferente. Dungeon Defenders era mais voltado para o lado de um RPG, o que dava maior ênfase para o jogador e suas habilidades do que estratégia de defesa e colocação criativa, Sanctum era um pouco mais tradicional, com o jogador tendo pouco impacto na real defesa da base comparado com as torres e bom uso de labirintos, e OMD! Acertou um balanço perfeito entre os dois. OMD!2 foi lançado em 2012 com uma campanha completamente cooperativa e um moderado sucesso crítico e de vendas.

Porém, foi aí que a franquia deu uma estagnada ao ter o seu próximo jogo como um live-service competitivo espelhado na popularidade de MOBAs da época, Orcs Must Die! Unchained. Um beta foi anunciado em 2014, e a versão final foi lançada em 2017, porém foi um jogo que rapidamente caiu no esquecimento. Não havia elementos de Tower Defense o suficiente para manter o interesse de fãs dos outros dois jogos, e não tinha a mínima chance de competir no gênero de MOBA com titãs como DotA2 e LoL tomando a maior parte do mercado, além de uma péssima monetização. Os servidores de Unchained foram fechados em 2019 após o jogo operar em prejuízo por um período extendido, e a Robot Entertaiment voltou na produção de jogos single-player.

Com isso finalmente chegamos em Orcs Must Die! 3, o retorno de uma franquia dormente por quase uma década com uma péssima idéia tomando tempo e dinheiro dos desenvolvedores nesse meio tempo. Que OMD!3 sequer existe é impressionante tendo em vista o tamanho do estúdio, porém é perceptível as rachaduras que existem após o risco de pular na moda do momento. Por sí só, OMD!3 é facilmente o jogo mais fraco da série (sem contar Unchained), porém em contexto do gênero que serve, é uma experiência única para os dias de hoje. Os desenvolvedores de Sanctum partiram para outro projeto e não há indícios de retomar a franquia, Dungeon Defenders também caiu nas armadilhas de jogos como serviço e até hoje não se recuperou, tendo destruído completamente a confiança dos fãs mesmo após uma tentativa de retorno com Awakened. Em comparação, OMD!3 é de longe o único sobrevivente dos Action Tower Defenses.

Então finalmente sobre o jogo em si: Mantendo a essência da franquia, é um tower defense onde uma boa estratégia e habilidade pessoal de combate são igualmente importantes. Diferente de  outros do gênero o foco desse jogo não é tanto em criar um labirinto enorme ou encher a tela de armadilhas, mas sim procurar uma “killbox” compacta no mapa e otimizar seu espaço da melhor forma possível. O jogo incentiva variedade com um sistema de combos multiplicando as moedas para comprar armadilhas, quanto mais variedade na killbox, mais dinheiro e consequentemente mais eficiência. No lado do jogador é possível focar em alvos com muita vida e trazer armas especiais para ampliar os combos além do possível só com armadilhas.

O jogo contém um modo história com 18 mapas, uma história secundária com 5 mapas (uma quantidade normal para a série no total), o clássico modo Endless sem um limite de waves, uma nova adição Scramble, e desafios semanais, todos esses modos podem ser jogados solo ou um com um amigo em co-op online. No que se trata de conteúdo o jogo tem o suficiente para justificar seu valor, porém há algumas ressalvas.

No que se trata de estética, a franquia não se recuperou de Unchained com a nova direção artística minimalista e remanescente de jogos F2P ou mobile. Não que sua interface seja feia, mas é uma diferença muito perceptível para quem conhece os dois primeiros jogos da franquia, e a transição não foi suave como deveria. Em utilidade é inegável que houve várias melhorias e utilidades adicionadas, porém o minimapa transparente e a barra de armadilhas sem um fundo opaco atrapalham a visibilidade as vezes.

No que se trata de balanceamento da jogabilidade, OMD3 é competente o suficiente no que faz, mas há algumas estranhezas facilmente reconhecíveis. Por exemplo, dentre as armas disponibilizadas para o jogador logo se nota que há uma enorme vantagem em se usar armas de distância comparado a qualquer arma branca. Não é questão de que alcance é mais importante, mas sim também causam mais dano, tem melhor crowd control, melhores upgrades e geralmente são autossuficientes como a única arma de seu loadout para lidar com todos os tipos de inimigos. Para as armadilhas há um pouco de variedade no que se trata de elementos, mas também é fácil de se reconhecer as inquestionavelmente melhores em todas as ocasiões. Porém, como ainda há um elemento de otimização e placar em seu design, isso não faz o jogo se tornar tedioso.

Seu novo modo, Scramble, é uma ótima adição que adiciona enorme rejogabilidade na forma de uma “gincana” onde é necessário completar 5 telas escolhidas aleatoriamente em sequência. Em cada tela o jogador é apresentado com uma escolha binária entre duas telas onde cada uma tem uma penalidade diferente. Ao completar uma tela é possível escolher um modificador benéfico e salvar o progresso para continuar depois. É um modo caótico onde o objetivo padrão de se completar a tela rápido e sem nenhuma intrusão é quase impossível, o que cria uma dinâmica onde a adaptabilidade é preferível sobre eficiência pura.

Por outro lado, o clássico modo Endless que todo jogo do gênero contém é completamente insatisfatório. Um modo cujo objetivo é obter recursos sem limites para preencher a tela inteira com as melhores armadilhas é uma forma de executar a “estratégia perfeita” que defenderia sobre qualquer ocasião, porém o modo tem uma penalidade na aquisição de dinheiro para novas armadilhas após certo ponto que drasticamente limita as possibilidades. O modo deixa de ser uma forma de se divertir com o extremo e se torna uma tarefa chata de persistência que é feita ainda pior pela instabilidade do jogo que pode acabar com 30+ waves de esforço contínuo sem nenhuma recompensa.

O modo história contendo duas campanhas é exatamente o esperado com telas contidas onde conta os eventos do jogo antes de cada batalha com alguns cinemáticos entre telas. O diálogo continua com um foco no absurdo e comédia, porém um pouco mais forçado que os anteriores. Uma comédia tem uma linha tênue entre genuinamente divertida e irritante e OMD3 as vezes anda muito perto dela. Em jogabilidade há a adição dos “War Scenarios” que são mapas em grande escala que comportam armadilhas de similar grandiosidade. Uma adição bem-vinda que traz o sentimento de extremo que o modo Endless deveria ter, porém uma que veio com o ponto negativo de trazer uma mudança total em como Guardiões funcionam. O que antes era uma peça central na defesa contra as hordas agora é relegado apenas para batalhas específicas.

Em suma, Orcs Must Die! 3 oferece o esperado para fãs do gênero, porém com bem menos vigor que seus antecessores. Ainda é um bom jogo dentro do contexto em que foi desenvolvido, porém claramente o mais fraco da série.

PROS:

  • Uma boa opção para fãs de tower defense;
  • Scramble adiciona enorme rejogabilidade para o gênero;
  • War Scenarios oferecem batalhas em novas escalas para a franquia;
  • Ótimo para se jogar com um amigo.

CONS:

  • Alguns bugs e instabilidades;
  • Péssimo balanceamento de armas;
  • Modo Endless extremamente insatisfatório;
  • O novo modelo de Guardians é um retrocesso.

PLATAFORMAS:

  • PC – Steam (Plataforma analisada);
  • PlayStation 4/5;
  • Xbox One / Series X/S.

NOTA: 6.5/10

Eu sempre gostei de tower defenses. São a versão diminuta dos jogos de estratégia em mais grande escala como Total War ou Xcom e tem poucas mecânicas de SRPG como Disgaea ou Fire Emblem. Orcs Must Die introduziu uma nova fórmula pra série ao misturar com jogos de ação com um belo balanço entre autonomia do jogador e a necessidade de um bom setup para defender as ondas de inimigos. Fico feliz de ver a franquia reencontrando seu caminho, mas apesar de seus pontos positivos, ainda é o mais fraco da trilogia.

Se eu recomendaria a compra? Para fãs de tower defense, sem sombra de dúvidas. É um dos poucos que oferece o que a gente procura. Para quem não conhece porém, eu diria para esperar uma promoção e pegar o jogo junto com um amigo para fazer o modo história completamente cooperativo.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *