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A indústria v Activision – Pressão de vários grupos ameaçam a posição de CEO Bobby Kotick

Em 16 de Novembro de 2021 o portal de notícias estadunidense Wall Street Journal publicou uma matéria alegando que o CEO da Activision, Robert A. Kotick, sabia dos casos de assédio e abuso sexuais que aconteceram no passar dos anos. O artigo contém emails vazados de advogados representando vítimas desses crimes no passado, fontes anônimas alegam que Bobby omitiu a ocorrência desses casos, e há algumas acusações de má conduta do próprio CEO. A situação escalonou desde então e uma pressão exigindo a demissão de Kotick começou a ganhar força.

Bobby Kotick sabia dos problemas de discriminação e assédio e os omitiu

Fontes anônimas alegando ter conexões ao Conselho Administrativo declaram que o conselho foi pego de surpresa pelo processo da Califórnia e a enxurrada de alegações que vieram a seguir, também há emails endereçados diretamente a Kotick sobre alguns casos de assédio que logo foram fechados por acordo enquanto a investigação da EEOC e o DFEH já estavam em andamento. Estima-se que tais informações seriam importantíssimas para as tarefas fiduciárias do Conselho (tarefas fiduciárias é o nome que se dá a transparência que a empresa tem com seus investidores e a promessa de usar corretamente o dinheiro investido) e portanto a omissão desses casos é uma má conduta grave por parte do CEO.

O caso do DFEH começa a se tornar mais plausível

Conforme reportado anteriormente, o caso do DFEH era extremamente agressivo e alegava problemas de discriminação sistêmicos na empresa, o que geralmente é muito difícil de se provar e comumente é rebatido ao alegar que foi apenas um infortúnio e que em nenhum momento foram tomadas ações em má fé. Porém, caso essa fonte que alega ter conexões com o Conselho decidir testemunhar contra, um CEO que omite informações para pessoas que precisam informar os investidores é um ótimo exemplo de problema sistêmico em uma empresa onde toda a estrutura de controle é disfuncional.

Email interno de Jen Oneal solidifica ainda mais as acusações de discriminação

Dentro dos documentos ao dispor para o WSJ, um email interno de Jen Oneal para o time legal da Activision onde ela disse ter falta de confiança na liderança da empresa para melhorar a situação. O email também afirma que seu salário era menor que o de Mike Ybarra, que foi nomeado co-diretor da Blizzard junto com Jen Oneal. Sendo que o foco principal do processo do DFEH é específicamente discriminação e discrepância de pagamento, o fato de que duas pessoas de gêneros diferentes foram promovidas para a mesma posição no mesmo momento e a mulher recebia menos é outra prova de que existe de fato um problema sistemico na Activision.

Vale ressaltar que mudanças salariais após uma promoção para cargos completamente diferentes realmente é um processo burocrático e demorado em empresas do tamanho da Activision, porém se nem mesmo em uma situação de emergência a lideraça priorizou esse processo, é de se imaginar como era a estrutura da empresa antes do surgimento dessas acusações.

Bobby Kotick já protagonizou casos de discriminação, assédio e abuso de poder.

Em 2006 uma de suas assistentes abriu uma reclamação de assédio o que resultou em Kotick enviando uma mensagem de voz ameaçando-a de morte. O caso foi encerrado fora da corte e a porta-voz da Activision disse que “Sr Kotick rapidamente se desculpou 16 anos atrás pela mensagem de voz óbviamente hiperbólica e inadequada, e se arrepende profundamente no exagero e tom de voz até hoje.” o que confirma a veracidade do caso apesar do tom de desdém.

No ano a seguir, 2007, ele foi processado pela atendende de voô do jato particular que ele era co-dono. A atendente alegou que o piloto do avião abusou sexualmente dela e depois que ela reclamou para o outro dono, Kotick a demitiu. Em uma outra ação relacionada a pagamentos legais um árbitro escreveu que Kotick disse para a atendende e seus advogados “Eu vou destruir você”. Em 2008 o caso foi encerrado por 200 mil dólares de acordo com a decisão do árbitro.

Fora alguns outros casos menores de manipulação onde alguns casos de assédio houveram a intervenção pessoal de Kotick para manter os acusados na empresa e a redação das primeiras mensagens públicas negando a validade do processo do DFEH e posteriormente a carta interna de Frances Towsend.

Uma pressão externa começa a tomar força, a posição de Kotick fica em xeque

Após esse artigo, vários grupos se manifestaram de diferentes formas. Mais notável foram as declarações dos chefes da PlayStation e Xbox, Jim Ryan e Phil Spencer respectivamente. Em uma carta interna, ambos líderes condenaram a conduta da Activision e reforçaram compromentimento com boas condições de trabalho em seus estúdios, mas vale ressaltar que as duas declarações não passam muito de uma formalidade. Com a atenção que o caso vem tomado na indústria, é necessário para líderes de grandes empresas assegurarem a seus funcionários de que tais casos são a exceção e não a regra, além de se distanciar do marketing negativo que a associação com a Activision trará. Porém, provavelmente nenhuma ação será tomada para evitar eventuais coices de uma decisão brusca, especialmente para a Sony que tem um acordo de marketing com a Activision onde Call of Duty chega a ter até mesmo conteúdo extra na plataforma PlayStation.

Um exemplo de tal coice vem na forma de um processo de discriminação que foi aberto contra a Sony, porém é uma acusação que o próprio DFEH já investigou e decidiu não haver evidências materias para um processo. A querelante do processo, Emma Majo, alega ter sido discriminada em seu tempo trabalhando em uma das divisões PlayStation e abriu um processo representando uma classe de indivíduos da mesma forma que o processo California v Activision. Muitas das queixas de Emma seriam bons argumentos para um processo trabalhista de discriminação contra um indivíduo, porém ao expandir o processo para a Sony Interactive Entertainment como um todo e representar uma classe de pessoas, é necessário muito mais provas do que foram apresentadas. O próprio caso do DFEH começou um pouco incerto e começou a pegar força apenas depois de péssimas decisões da liderança da Activision. O processo contra a Sony não há nenhum indício de discriminação sistêmica além do único ponto de vista por Emma Majo.

Porém, quem não está preso nessa particular situação são investidores. Apesar de ser uma pequena parcela ainda, alguns grupos de investidores estão começando a exigir a resignação de Bobby Kotick como CEO citando a liderança dele como parte do problema. Em casos como o da Activision onde um CEO dirige uma empresa por muito tempo, sua personalidade é associada com a empresa em si, e a remoção ou substituição de tal pessoa costuma trazer efeitos imprevisíveis no mercado de ações, o que a maior parte dos investidores preferem evitar.

Conselho Administrativo da Activision responde (porém não muito)

Com o rápido escalonamento da situação, o Conselho teve que responder em duas diferentes ocasiões. O Conselho oficialmente cedeu um voto de confiança a Kotick, porém sem diretamente negar as acusações feitas no artigo de Wall Street Journal. Uma semana depois, anunciaram um Comitê de Responsabilidade em Ambiente de Trabalho como mais uma tentativa de recuperar sua imagem, porém pouco foi dito sobre o comitê e alguns de seus integrantes não inspiram a confiança de que é uma medida significativa. De forma simples, os dois comunicados servem mais como uma insenção de culpa do Conselho de suas tarefas fiduciárias do que um passo remediativo.


O processo do DFEH e EEOC ainda estão em andamento e não houveram nenhuma atualização sobre seu progresso desde as últimas notícias. Com a pressão pública e a atenção que o caso vem recendo, é provável que a Activision terá que passar por várias mudanças administrativas nos próximos anos, porém ainda é incerto se Bobby Kotick ou o Conselho Administrativo serão parte dessa reestruturação.

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