
Stray – Miauberpunk 2000 e alguma coisa
Stray é mais um título no catálogo da editora Annapurna, e como de se esperar de um jogo deles, é uma aventura primariamente narrativa. Desenvolvido pelo estúdio BlueTwelve, que foi fundado por ex-desenvolvedores da Ubisoft Montpellier (Rayman e Beyond Good and Evil), o jogo tem uma premissa simples de ver o mundo através da perspectiva de um gato. Com o adicional de que esse mundo é um futuro pós-apocalíptico onde humanos provavelmente não existem mais e alguma coisa terrível aconteceu que precisou selar as cidades do mundo afora.

Apesar de não ser o foco, vamos falar sobre o gameplay de Stray
Uma das críticas e dúvidas mais comuns do jogo é “o que exatamente se faz em Stray”? Enquanto a premissa de se jogar com um gato já seja o suficiente para muitos se interessarem, para outros a pergunta permanece. Jogabilidade não é o forte de Stray, como já é de se esperar de um jogo sob o nome de Annapurna. Parte do processo de criação do jogo foi uma idéia de como a cidade murada de Kowloon deve ser um playground excelente para gatos, mas o jogo em si não causa esse fascínio. Explorar as várias cidades do mundo morto de Stray é minimamente interessante, mas não é algo que faça valer a pena jogá-lo por si só.
A idéia de um sistema de plataforma clássico foi rapidamente abandonada no desenvolvimento pela dificuldade que jogadores tinham de acertar os pulos, e os desenvolvedores decidiram que isso não era muito “gato” da experiência do jogo constantemente errar pulos. Um sistema de pulos guiado foi usado no lugar, e apesar de não ser uma decisão ruim, também não foi elaborado muito além para deixá-la interessante. Stray é essencialmente um walking simulator, o que não é surpreendente para um jogo Annapurna, mas é ligeiramente decepcionante pelo desperdício de potencial.
Fora isso, a exploração e ambientação são excelentes
Reconhecendo as falhas na jogabilidade, é possível falar do que o jogo realmente faz bem. Antes de mais nada, a jogabilidade rapidamente toma segundo plano pois descobrir os vários lugares e cidades no mundo do jogo é algo interessante quando o protagonista é tão menor do que normalmente. Apesar da sua mobilidade nunca ser explorada ao máximo, parte da intenção inicial de se esgueirar por uma cidade bagunçada como a de Kowloon foi conseguida. A interação do jogador é limitada, mas o trabalho posto artisticamente nos arredores e na narrativa ambiental carregam o resto da experiência.
Descobrir o mundo pouco a pouco é um trabalho habilmente construído pelo time da BlueTwelve. Sendo legal jogando casualmente e dando várias dicas sobre o mundo caso o jogador tome o tempo para ler nas entrelinhas e deduzir o que aconteceu além do que o jogo te conta explicitamente.
E a história não fica atrás em qualidade
Como esperado de um jogo que sacrifica a jogabilidade em prol da história, sua narrativa também é outro ponto forte do jogo. O enredo em si não é mirabolante, mas é suficientemente trabalhado para entregar a história de uma forma natural e envolvente. Começamos com um gato “de rua” vivendo em um mundo abandonado, onde eventualmente o protagonista pula em uma estrutura que desaba e a queda o deixa em uma cidade subterrânea selada e abandonada.
A partir desse ponto o objetivo é encontrar alguma forma de voltar para a superfície, para o seu bando e a sua vida tranqüila antes desse acidente. Durante esse caminho que descobrimos o estado do mundo e porque as coisas estão do jeito que estão, com várias histórias menores entre os robôs sentientes e a nova sociedade que habitam agora.
Apesar de inicialmente parecer um mundo vazio, as histórias, amizades e conexões que se encontram no desenrolar da história é provavelmente o seu ponto mais forte. O companheiro principal da jornada, pequeno drone B12, é o nosso intérprete para o mundo afora. E é claro, o próprio protagonista gato tem seus momentos adoráveis com algumas típicas características de felinos que todos conhecem, junto com uma inteligência e resiliência bem acima da realidade que conhecemos para que a história possa ser entregue sem empecilhos.
Em outras palavras, Stray é exatamente o que era esperado
Annapurna já é conhecido pelas suas fortes histórias. Apesar de Stray ser desenvolvido por um novo estúdio, todos os estereótipos ainda estão presentes. O gameplay não é interessante e não deve ser o motivo principal para se jogar ele. A história é muito bem-feita porém onde ela realmente brilha é na narrativa, em outras palavras, na forma em que é contada.
“Humanos frequentemente disseram que arte é importante em situações desesperadoras.” “Esses com certeza são tempos desesperadores.”
Artisticamente o jogo faz tudo que é necessário para cumprir seu objetivo. Uma excelente trilha sonora tocada nos momentos certos para realçar a emoção de diferentes cenas. Um bom contraste de cores para poder visualizar e compreender o mundo. Um ótimo design de personagens e ambientes para que possam contar a história da melhor maneira possível. Tudo isso combinado faz do jogo ser exatamente o que era de se esperar.
Caso a idéia de jogar com um gatinho já seja de interesse, Stray tem seu valor claro. Em segundo plano, para quem gosta de histórias bem construídas e de interpretar narrativas pelo seu valor secundário (como é praxe para Annapurna), Stray também entrega isso. A jogabilidade não faz uso o suficiente de uma mobilidade e diferenças que um gato teria sobre um protagonista comum, portanto o seu valor como uma experiência diferente do padrão talvez não seja suficiente.
Stray é um caso de um ótimo jogo mesmo que não faça nada além do esperado. Pode não ser material para ser o Game of the Year, mas as vezes Gato of the Year já é o suficiente. 🐈
PROS:
- História excelente;
- Campanha na duração certa;
- Boa trilha sonora;
- Uma experiência que com certeza agradará pessoas que gostam de gatos
CONS:
- Jogabilidade não é muito interessante;
- Nada de realmente novo é feito;
- Alguns problemas de otimização.
PLATAFORMAS:
- PC – Steam (Plataforma analisada);
- PlayStation 4/5.
NOTAS:
Jogabilidade: | Qualidade dos controles | 7 |
Design (Dificuldade, Level, Criatividade) | 7 | |
História: | Enredo | 8 |
Narrativa | 8 | |
Arte: | Gráficos | 7 |
Direção artística | 8 | |
Audio: | Efeitos Sonoros | 8 |
Trilha Sonora | 8 | |
Port | Estabilidade | 8 |
Otimização | 8 | |
NOTA FINAL: | 7.7 |
Stray é um jogo simples de avaliar. Se os materiais promocionais lhe chamaram a atenção, provavelmente valerá a compra. Caso contrário, é improvável que o jogo vá te convencer ao contário.
E por qualquer motivo já temos um mod de CJ em Stray. A pergunta é, quando teremos o mod de gato no GTA?

