Resident Evil 4 – Um remake exemplar
Resident Evil 4 de 2005 é um dos clássicos da indústria. Goste ou não, é um jogo que todo mundo pelo menos já ouviu falar. E como um dos jogos que mais foram portados para diferentes plataformas, também não é difícil jogá-lo até mesmo hoje em dia.
Após o sucesso de RE2R e a recepção morna de RE3R, ficava a dúvida de qual seria o próximo jogo a receber o tratamento da RE Engine. Apesar de logicamente fazer sentido passar para o 4 depois do terceiro jogo, na concepção de muitos não é um jogo que está realmente datado. E com a fama que o original teve, as expectativas eram altíssimas.
E bom… É impossível dizer que o remake irá agradar a todos quando se tem um apego tão grande ao original, mas é uma melhoria visível em vários aspectos. Quando se fala de refazer um jogo do zero, sempre tem alguns pontos chave a se considerar. Um remake deve ser leal ao original o máximo possível como as trilogias de Spyro e Crash? Ou deve remodelar tudo do zero, incluindo a história como FFVIIR?
Resident Evil 4 passa por um meio termo onde mantém vários aspectos que fizeram o original tão bem falado enquanto moderniza e conserta tudo que décadas de jogatinas foram apontando como falhas. O resultado não é um caso de “como seria o jogo se tivesse lançado hoje”, mas sim uma mistura entre a nostalgia de certos momentos icônicos e uma versão refeita de outros.
O aspecto que mais sofreu mudanças foi com certeza o tom e história do jogo. Resident Evil sempre foi conhecido pelas seus diálogos piegas e certas insanidades de roteiro, mas desde o ressurgimento da série com RE7 foi achado um novo balanço onde se tem aquele mesmo charme brega só que entregue de uma forma muito mais bem trabalhada.
Em outras palavras, enquanto RE4 sempre foi lembrado pela insanidade de um agente dos EUA entrando na casa de um espanhol aleatoriamente e fazendo perguntas em inglês, o remake procura fazer as mesmas cenas soarem um pouco mais coerentes. Enquanto a Ashley era conhecida pelo estridente “LEON HELP”, agora ela tem uma presença bem mais agradável e memorável.
O mais surpreendente é como nenhuma dessas mudanças realmente faz com que o jogo pareça diferente do que ele era. A Capcom realmente pegou a essência da série e a modernizou com uma maestria de tirar todas as estranhezas sem perder nada do carisma. É claro, a história ainda não é o foco desses jogos, mas é inegável o trabalho posto na qualidade da apresentação delas comparado com antigamente.
E não é por causa desse foco em narrativa, história e apresentação que o jogo peca em jogabilidade. RE4R é sem sombra de dúvidas a melhor iteração do estilo de câmera over the shoulder que o próprio jogo de 2005 revolucionou. Tomando as melhores partes dos remakes do 2 e 3, e reimaginando outros aspectos do clássico para a nova engine fazem com que o gameplay seja um balanço perfeito entre o survival-horror que a série é conhecida, e controles excelentes para um tiro em terceira pessoa.
De fato, certos aspectos do game design do clássico que foram mantidos são a prova de que ainda existe o que se aprender com jogos antigos. Apesar de backtracking ter uma conotação negativa ultimamente como uma forma barata de se estender conteúdo, a recompensa por voltar para pegar alguns tesouros ainda valem a pena, e sempre existem algumas surpresas no meio do caminho para que o ritmo de jogo não fique tedioso.
Apenas Resident Evil consegue te colocar numa atmosfera de “resgate de refém por um culto de infectados semi-imortais” e ainda assim oferecer um tiro ao alvo entre missões para descontrair, até mesmo com a refém que você deveria estar salvando torcendo para o seu melhor placar.
Os chefes também receberam esse mesmo tratamento de melhorias e mudanças. O sentimento das lutas é exatamente como se lembra, mas com novas mecânicas e alguns truques para fazer o uso mais completo possível do potencial da RE Engine. Isso é mais visível na luta contra o Major Krauser.
O que antes era uma seção que havia uma decente apresentação na primeira vez e perdia o brilho com cada repetição, a nova luta usando as mecânicas de parry da faca não só gera uma luta muito mais tensa como também faz com que seja um ponto alto de qualquer run do jogo, seja ela a primeira ou a décima.
E é claro, é extremamente gratificante ter um sistema de desbloquear novamente em um jogo do tipo. Jogos modernos costumam entregar tudo em um playthrough bem minucioso. Resident Evil faz com que a campanha não seja tão curta a ponto de ser decepcionante, nem tão comprida que começa a ficar sacal, mas te incentiva a jogar várias vezes para conseguir um placar melhor e novas armas e roupas para NG+ subseqüentes.
O pacote como um todo é bem completo e quase sem falhas. Ele é impressionante como um remake, como um novo Resident Evil, e até mesmo para quem nunca deu uma chance para a série. Apesar de ser impossível agradar a todos e com certeza ter uma boa quantidade de fãs que prefiram o clássico, é inegavelmente um excelente jogo pelos padrões de hoje em dia. E um dos melhores remakes que a indústria já produziu no geral.
Em suma, Resident Evil 4 vale a pena?
Resident Evil 4 é o tipo de jogo que qualquer revisão ou remake traria contigo algumas expectativas astronômicas. E surpreendentemente, todas elas são cumpridas e, em casos, até superadas. Em 2005 o jogo revolucionou a forma que jogos com câmera em terceira pessoa deveriam ser. Quase duas décadas depois, ele serve como lembrete que o design dele ainda pode ser refinado e aperfeiçoado sem destoar do que ele era a três gerações atrás. E é com uma mistura de aprender com o passado e se adaptar para o futuro que se tem uma obra prima com a reputação que Resident Evil 4 tem. Apesar da Capcom ter piorado os seus preços regionais, ainda é um jogo que faz valer o preço de um AAA.
PROS:
- Melhores controles da série;
- Gráficos excelentes;
- Personagens, cenas e eventos foram refeitos com uma qualidade muito maior…;
- …mas mesmo assim ainda tem a essência de Resident Evil em seu DNA;
- O ponto perfeito entre nostalgia e novidade;
- Port extremamente estável e completo.
CONS:
- Sem Separate Ways e Mercenaries no lançamento;
- Não dá pra fazer carinho no lobo 🙁 .
PLATAFORMAS:
- PC – Steam (Plataforma analisada);
- PlayStation 4/5;
- Xbox Series S/X.
NOTAS:
Jogabilidade: | Qualidade dos controles | 10 |
Design (Dificuldade, Level, Criatividade) | 10 | |
História: | Enredo | 9 |
Narrativa | 9 | |
Arte: | Gráficos | 10 |
Direção artística | 10 | |
Audio: | Efeitos Sonoros | 10 |
Trilha Sonora | 9 | |
Port | Estabilidade | 10 |
Otimização | 10 | |
NOTA FINAL: | 9.7 |
Apesar do impacto inegável do jogo, eu sempre achei RE4 original um pouco superestimado. Claro, foi extremamente inovador na época e até mesmo divertido de se jogar, mas ainda trazia consigo algumas falhas bem perceptíveis. Agora, a série se reencontrou com uma boa identidade. Entre os títulos mais lentos e focados em survival-horror como RE7 e RE2R, junto com os outros com um gameplay um pouco mais focado em ação e elementos de survival horror com o RE8 e RE4R.
Nem sempre é necessário reinventar a roda, as vezes só precisa fazer ela bem-feita o suficiente para rolar bem e sem buracos.