Under Night II Sys:Celes – Um fighting game old-school, por bem ou por mal.
Jogos de luta vem passando por uma nova era desde 2021. Após a geração de fighters anterior acabar, vários novos títulos foram aparecendo na série de Guilty Gear, Street Fighter, KoF e Tekken. Depois de 12 anos desde seu primeiro lançamento, no começo de 2024 tivemos uma continuação direta. Sys:Celes, ou como chamado pela comunidade, UNISC (só para deixar claro que quando usar essa sigla, não é sobre a Universidade de Santa Cruz do Sul).
Apesar do primeiro jogo receber updates significativos a mais ou menos cada 2 anos, ainda era um jogo que foi originalmente lançado no mesmo ano que Soul Calibur 5, Tekken Tag Tournament 2 e BlazBlue Continuum Shift Extend. Porém, o avanço de um número na série não trouxe um avanço tão significativo quanto os seus vários relançamentos do primeiro.
A crítica mais óbvia que se apresenta são nos visuais do jogo. Para dizer que é um pulo de 12 anos, as sprites mal foram atualizadas. É claro que não se pode esperar que uma desenvolvidora do porte da Soft Circle French-Bread pudesse ter visuais comparados aos AAA modernos. Mas quando seu preço é tão alto quanto titãs como Street Fighter e Tekken, comparações do tipo são inevitáveis. Sys:Celes é um jogo de 50 dólares internacionalmente, mas a 250 reais no mercado brasileiro, já é uma barreira enorme para sua recomendação.
Especialmente quando, da mesma desenvolvedora, tivemos Melty Blood Type Lumina a um preço muito mais acessível, e ele teve um pulo claramente visível de seu último título, Actress Again Current Code. UNISC logo de cara já passa uma péssima primeira impressão para jogadores que não tinham apego ao lançamento prévio.
Single Player
Jogos de luta são um gênero de games considerado impenetrável por muitos. Independente se essa reputação é ou não verdadeira, o fato é que empresas precisam ultrapassar essa barreira como primeira prioridade se procuram um apelo mais brando para aumentar sua base de jogadores. Recentemente tivemos Street Fighter com o modo World Tour contendo um “open world” com um personagem customizável para pessoas de todos os níveis de habilidade aproveitarem o jogo. Tekken também não ficou atrás com Arcade Quest dando uma experiência comparável ao World Tour, e um modo história dedicado.
Sys:Celes infelizmente não possui nada do tipo. Sua seleção de conteúdo single-player é exatamente o que se esperava a alguns anos atrás. Um modo “arcade” que conta uma sequência de batalhas contra a CPU apenas eventualmente interrompida por diálogo. Um modo survival que é simplesmente um modo de persistência e paciência. Time trials e combo trials.
Nada realmente engajante para casuais, nem sequer uma boa forma de se aprender o jogo antes de bravejar o competitivo. Pra um jogo com o preço que UNISC pede, seu conteúdo é praticamente não existente.
Competitivamente
A melhor coisa que se pode dizer do jogo, é que UNISC é o jogo perfeito para fãs já estabelecidos do jogo de 2012 (ou de um dos vários relançamentos dele). Mantendo boa parte dos mesmos sistemas e adicionando funcionalidades em cima do que já tinham, é um jogo confortável de se retomar.
Diferente de Street Fighter que sempre troca completamente os sistemas e faz um jogo funcionalmente diferente a cada iteração, aqui mesmo que ficou anos sem jogar ainda consegue pegar e “voltar na sela” com facilidade.
Novos jogadores não terão a mesma facilidade entretanto. O jogo só conta com um tutorial do tipo extremamente lento e “acadêmico”, e uma única opção de auto-combo usando o golpe rápido.
O jogo conta com um “modo missão” onde se ensina alguns combos e, teoricamente, explica o “gameplan” do personagem. Porém o modo é completamente incondizente com o que é necessário de fato em uma partida normal. Quem quer aprender o jogo está a mercê de guias e documentos criados por outros jogadores apenas.
Crédito onde merece, a fanbase do jogo é proativa o suficiente para criar esses recursos. Porém, é uma falha enorme do jogo não procurar incorporar essas informações dentro do jogo, especialmente para o que é um “legacy fighter”.
Para reforçar, não é que o jogo falhe em ensinar quem nunca antes tocou no gênero. É um jogo complexo o suficiente para empacar até pessoas com experiência prévia em Street Fighter, Tekken, Guilty Gear, ou até mesmo Melty Blood. Os sistemas de jogo são extremamente complexos, e simplesmente conhecê-los já te dá uma vantagem enorme em cima de quem ainda está aprendendo.
Considerando tudo isso, temos um jogo que faz o suficiente para agradar quem já é fã da série, mas que vai ser desnecessáriamente obtuso para novos jogadores. Novos tanto para a franquia quanto para o gênero.
Competitivamente, é um jogo que tem muito para se explorar, e é um prato cheio para quem gosta de se dedicar unicamente para um título, mas que será extremamente desagradável tanto para casuais quanto pessoas que variam entre jogos de lutas diferentes.
O suficiente para ser funcional
E por fim, se tratando da funcionalidade do jogo, ele também não se sobressai. O netcode é de rollback como os mais modernos, porém sua implementação não é das melhores. É estável o suficiente para se ter partidas estáveis até 200ms, porém até mesmo com conexões boas entre 30ms de ping ou menos, ainda ocorrem casos visíveis de rollback.
É uma boa implementação, mas ainda não está entre as melhores que se pode ter hoje em dia. O port de PC também teve sérios problemas nos primeiros dias, mas boa parte deles já estão consertados. Foi perdido um período de retenção de jogadores essencial com esses problemas, mas crédito onde merece o port hoje está estável.
Um problema para o lado competitivo da FGC, as funcionalidades do modo treino e espera enquanto procura partida não são das melhores. Existem informações como a frame data dos ataques e funções necessárias para se “estudar” interações entre personagens, mas ainda deixa a desejar no que se trata de facilidade de uso.
É um jogo que não tem nenhuma falha séria fora a falta de conteúdo single player, mas também não se sobressai em nada que não seja complexidade mecânica.
Então… Under Night Sys:Celes vale a pena?
De uma forma resumida, Sys:Celes é o que geralmente chamam de um “legacy fighter”. Um jogo de luita que muda muito pouco entre versões. Ou seja, um que encoraja e beneficia conhecimento prévio da franquia. Jogadores de Under Night 1 estarão perfeitamente confortáveis em Sys:Celes, mas o preço disso é que o vão entre quem está começando agora e quem está voltando é enorme. E o jogo não se preocupa em tentar reduzir.
Também há uma severa falta de conteúdo single-player. Apesar de ser um jogo extremamente complexo e mecanicamente interessante, seu preço não condiz com a quantidade de conteúdo que oferece. E na américa do sul tem uma playerbase muito escassa, o que dificulta ainda mais se dedicar ao competitivo do jogo.
PROS:
- Boa trilha sonora;
- Sistemas de jogo são complexos de se explorar;
- Bom design de personagens;
- Netcode decente.
CONS:
- Efetivamente nenhum conteúdo single player;
- Extremamente impiedoso com novos jogadores;
- Demora para encontrar partida/poucos jogadores;
- Visuais defasados e não condizentes com o preço pedido.
PLATAFORMAS:
- PC – Steam (Plataforma analisada, chave gentilmente cedida por Arc System Works);
- Nintendo Switch;
- PlayStation 4/5.
NOTAS:
Jogabilidade: | Qualidade dos controles | 10 |
Design (Dificuldade, Level, Criatividade) | 7 | |
História: | Enredo | 5 |
Narrativa | 5 | |
Arte: | Gráficos | 5 |
Direção artística | 7 | |
Audio: | Efeitos Sonoros | 7 |
Trilha Sonora | 9 | |
Port | Estabilidade | 10 |
Otimização | 10 | |
NOTA FINAL: | 7.5 |
Como um fã do gênero de longa data, estou super feliz de ver esse renascimento que jogos de luta estão tendo. Entre os gigantes de Street Fighter e Tekken e os indies como o Pocket Bravery que é nacional, muito está sendo feito para conciliar a FGC enquanto acomoda novos jogadores. UNISC por outro lado, é um clube exclusivo. E quem quer entrar tem que dispor de muito tempo e paciência em um pacote que já não tem o melhor custo x benefício…