WRATH: Aeon of Ruin – OK Boomer (shooter)
Títulos como Doom, Wolfenstein, Quake e outros solidificaram a presença de First Person Shooters na indústria desde os anos 90. Porém, após décadas de evoluções e mudanças, houve um ressurgimento dessa filosofia de design clássica, chamada de Boomer Shooters popularmente. É desse gênero que WRATH faz parte.
Usando até mesmo a Quake 1 Tech, Wrath é plenamente comprometido a idéia de um shooter clássico. Movimento naturalmente rápido sem mecânicas de sprint. Várias armas carregadas ao mesmo tempo. Telas estruturadas e spawn de inimigos fixos cheio de armadilhas e emboscadas.
É um jogo que não tem muito no que se trata de ambição de inovar, mas alcança quase a perfeição em seu objetivo. Isso não significa que o jogo seja apenas uma cópia porém. Como mecânica central, o jogo conta com uma lâmina cujo ataque forte impulsiona o jogador, e isso dita tudo sobre a movimentação do jogo.
Carregando consigo o momento da investida até mesmo no pulo deixa a movimentação do jogo com um ritmo único. O chamado bunny hopping é uma tática imortal nesses jogos, mas com o impulso da Ruination Blade faz com que essa movimentação seja relativamente fácil de executar em todos os níveis de habilidade, e abre um enorme leque de táticas para speedrunners.
Outra pequena alteração da fórmula veio na forma em que as telas são estruturadas. Ao invés de uma sequência linear entre elas, o jogo se passa em um mundo de “hub” que conta com suprimentos e segredos espalhados e portais para 5 telas diferentes que podem ser acessadas em qualquer ordem. Um sistema parecido com os jogos clássicos do Spyro, para quem se lembra.
O jogo também conta com “artefatos” que oferecem poderes temporários como life steal, um escudo de projéteis em domo, invencibilidade ao custo de HP e mais. São itens de uso único e espalhados pelo mapa em segredos ou em plena vista. Não são necessários nas dificuldades de hard para baixo, mas servem para facilitar certas seções mais complicadas ou batalhas contra chefes.
Fora a isso, o Wrath faz exatamente o que é esperado dele. Cada tela tem um certo números de inimigos e segredos, e o jogo rastreia essas estatísticas para você. Combate é rápido e repleto de ação. Gerenciamento cuidadoso de recursos é recompensado porém não exigido. Vida e armadura são pick-ups espalhados pela tela e não regeneram por si só.
O maior destaque do jogo — com certeza — vai para o level design. Indo além do que só ser um ambiente onde as lutas são situadas, as telas fazem uso completo de verticalidade, conectividade, corredores labirínticos, espaços abertos e muito mais. Explorar as telas atrás de segredos é extremamente engajante, e a movimentação rápida com as lâminas ajuda a evitar repetitividade e tédio.
A ambientação se torna um pouco repetitiva. Com 15 telas (3 hubs centrais, cada um com cinco telas e um chefe) o jogo deveria ter uma boa variedade de cenários, mas cada conjunto de 5 telas segue um certo tema. Começamos em uma terra nevosa repleta de catacumbas e cemitérios. Partimos para um deserto com arquitetura inspirada no oriente médio, e terminamos com uma arquitetura brutalista e demonica que lembra Doom.
Mecanicamente cada uma dessas telas oferece novidades e um belo design, mas artisticamente não tem muita variação entre elas. E como o jogo não conta com um mapa, se perder é relativamente fácil e se torna cansativo pelas paisagens que deveriam ser inéditas mas acabam sendo parecidas.
A variedade de inimigos é dentro do esperado, muitos dos designs são familiares com Doom e Quake. Em funcionalidade, não há muito o que falar deles. Não é um jogo com uma enorme variedade de inimigos, mas também não chegam a ficar repetitivos graças ao combate e ao level design que sempre mantém as coisas de forma diferente.
A pior parte no que se trata de gameplay, é na própria colocação e emboscadas de inimigos. O jogo constantemente coloca inimigos atrás do jogador ao passar por certas portas ou pegar certos itens. No que se trata do spawn deles, o design parece seguir puramente uma tentativa de “pegadinha”.
Isso por si só não seria um grande problema, porém vai de encontro com outra decisão de design do jogo, que é ter saves limitados. Chamados de “Soul Tethers”, esses são itens espalhados pelo mapa que permitem um uso de “quick save” por unidade. É um sistema que desencoraja o que é chamado de “save scumming” – criar saves constantes e voltar sempre que o resultado não for perfeito – porém acaba conflitando com vários momentos no mapa em que você é propositalmente pego de surpresa e precisaria saber que tem uma emboscada ali.
Por sorte, não é algo que estraga o jogo. Que nem Daikatana, que tinha um sistema similar, foi dada a opção de habilitar saves infinitos e completamente ignorar esse sistema. Com isso o sistema de salvar ainda fica um pouco limitado, tendo apenas um slot para quick saves e um para “shrines” espalhadas pelo mapa, mas é o suficiente para evitar muitas frustrações.
Artisticamente Wrath faz o que é esperado. Não é nenhuma maravilha técnica com gráficos high-end, mas é limpo o suficiente enquanto ainda remete aos jogos dos anos 90. Com ajuda da Quake 1 Tech, o jogo até conta com algumas opções de animações interpoladas e filtros de textura que podem deixar o jogo com um visual mais moderno ou bem retro dependendo da preferência.
Design de som também é suficiente. Inimigos fazem barulhos únicos dependendo do seu tipo, e geralmente são o único indício que você recebe para sinalizar uma emboscada. O som das armas são bem feitos, porém não particularmente notáveis. O mesmo pode ser dito para a trilha sonora que não é ruim, mas nunca se sobressai e nem tornam algum combate memorável.
No que se trata de história… Ela simplesmente não atrapalha. O jogo te dá um contexto mínimo de quem você é e o que está fazendo lá, com um NPC pontuando cada tela com algumas linhas de diálogo explicando o mundo de forma superficial, mas nada mais.
Existem pergaminhos espalhados pela tela contando mais detalhes, mas não são uma forma agradável de se conduzir uma narrativa e nem sequer adicionam muito de interessante. Pra todos os efeitos, o jogo não tem história. Ela existe apenas de uma forma performativa.
Por fim, o jogo todo é bem estável, contendo opções de reconfiguração de controles e opções gráficas. Bugs que impedem progresso ou atrapalham são praticamente inexistentes, e o jogo roda de forma excelente sem queda de frames nem engasgos indevidos. Seu tempo de loading as vezes deixa a desejar, porém nada que fosse surpreendente devido a engine utilizada.
Enfim… WRATH: Aeons of Ruin vale a pena?
Obviamente, Wrath é um jogo com foco em jogabilidade e mecânicas. Fãs de shooters clássicos e speedrunners terão um prato cheio das coisas preferidas, mas quem espera algo a mais seja em inovação ou história, não ira encontrá-lo aqui.
É um jogo com uma premissa simples, e uma execução impecável dentro do prometido. Contém aproximadamente 20 horas de conteúdo quando jogado casualmente, e consideravelmente mais para quem gosta de jogar devagar e procurar todos os segredos do mapa antes de prosseguir. Não existe muito de rejogabilidade além de melhorar tempos e se desafiar com saves limitados ou uma dificuldade mais alta. Mas com as mecânicas e design em mãos, é exatamente o que se é esperado de um boomer shooter.
PROS:
- Faz exatamente o que é esperado;
- Mecanicamente perfeito;
- Blade dash deixa a movimentação extremamente fluída e satisfatória;
- Boa seleção de armas;
- Excelente level design.
CONS:
- Sistema de saves limitado (mesmo que opcional);
- Repleto de emboscadas e “pegadinhas”;
- Trilha sonora nunca se sobressai;
- Ambientes visualmente parecidos, apesar de mecanicamente distintos.
PLATAFORMAS:
- PC – GOG, Steam (Plataforma analisada, chave gentilmente cedida por 3D Realms);
- Nintendo Switch;
- PlayStation 4/5;
- Xbox One /Series.
NOTAS:
Jogabilidade: | Qualidade dos controles | 10 |
Design (Dificuldade, Level, Criatividade) | 10 | |
História: | Enredo | 5 |
Narrativa | 4 | |
Arte: | Gráficos | 8 |
Direção artística | 8 | |
Audio: | Efeitos Sonoros | 9 |
Trilha Sonora | 6 | |
Port | Estabilidade | 10 |
Otimização | 10 | |
NOTA FINAL: | 8.0 |
Simples e direto ao ponto. Não tenho muito para falar sobre Wrath: Aeon of Ruin. É extremamente competente no que faz, porém não faz nada de novo ou diferente. Uma experiência confortável para fãs do gênero, mas meio genérica para os outros.