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Anima Flux – Metroidvania a dois

Inicialmente revelado como Lost in Sky: Violent Seed, o metroidvania de um pequeno time finalmente lança sob o nome de Anima Flux, um jogo que banca no seu diferencial de poder ser jogado em coop. É um jogo sem nenhuma grande novidade que possa furar a bolha desse gênero, mas é competente o suficiente para satisfazer seu nicho.

Ambientado em uma distopia teocrática com uma estética de sci-fi retro, Anima Flux é um jogo que imediatamente chama a atenção pelos seus visuais. Com cutscenes em animação tradicional 2D e um estilo artístico reminiscente de cartoons antigos, seu charme na apresentação é inegável.

Jogamos com Eileen e Roy, uma arqueira e um guerreiro, respectivamente. Para quem joga solo, os dois personagens podem ser trocados a qualquer momento, e podem receber ordens simples como seguir e esperar, conceitos que lembram do Castlevania: Dawn of Sorrow.

Artisticamente, não existe muito o que se criticar no jogo. As animações dos personagens durante o gameplay as vezes é um pouco estranha por se tratar de sprites 2D, mas nada que cause desconforto depois de um pouco de tempo de jogo. A trilha sonora do jogo também faz um excelente trabalho em criar o clima certo e acentuar batalhas caóticas.

No que se trata de elementos que não são diretamente relacionados a jogabilidade, a faceta mais fraca do jogo é sua história. Controlamos dois agentes especiais com ordens de conter um mutante que está correndo a solta, e logo vamos sendo introduzidos a uma distopia fortemente teocrática e autoritária.

Anima Flux - 1

Não há nenhum problema com a idéia em si, mas a execução da mesma deixa a desejar. A falha constante do jogo é comunicar os seus conceitos para o jogador. A primeira cutscene mal serve para realmente contextualizar o mundo em que estamos, e mesmo conforme a história avança, essa estranheza nunca some.

No caminho principal existe pouquíssimo que possa se classificar como world building. O pouco que o jogo tem, vem apenas de logs opcionais, um artifício as vezes muito saturado em jogos modernos. Para piorar a situação, poucos nós são amarrados até a conclusão da história, te deixando completamente perdido as vezes.

Certo, mas fãs do gênero com certeza perguntariam “E a jogabilidade?” já que é geralmente considerada o ponto mais importante de um metroidvania.

Nesse quesito, Anima Flux é perfeitamente suficiente em quase tudo que faz. Sua maior deficiência em jogabilidade é, conforme já dito, uma falha em se explicar. O jogo possui um tutorial minimalista, e existem certas mecânicas ou conceitos que nunca são explicados, só podem ser compreendidos através da dedução do jogador.

Geralmente não é um problema partir para um design de tentativa e erro, mas pra um jogo cujo maior diferencial é jogar cooperativo, não é incomum imaginar que esse jogo seria usado como uma introdução para um amigo ou membro da família para o mundo dos games. Porém, sua forma tão obtusa dificulta recomendar esse jogo para esse fim. Anima Flux é complicado de se entender para quem não é familiarizado com o gênero.

Seu começo é um tanto quanto confuso, o mapa só é habilitado através de um upgrade que pode muito bem ser pulado caso o jogador não explore de forma minuciosa. Além do problema de orientação, o jogo demora para corretamente estabelecer o seu ritmo de combate.

Cada personagem possui apenas um botão de ataque, e um ataque especial quando se aperta o botão junto com uma direção. Mais habilidades vão sendo desbloqueadas, mas isso é tudo que está disponível para o jogador ao começar sua jornada.

Ao chegar no primeiro real chefe do jogo, há um perceptível pico em dificuldade. Até o momento todo o conteúdo do jogo pode ser conquistado simplesmente ‘fuzilando’ ataques sem qualquer preocupação. Porém, ao chegar nesse chefe, esbarramos com um inimigo com muito mais vida do que qualquer outro inimigo, e causando um dano absurdo, capaz de matar seus dois personagens em segundos.

Esse chefe é uma forma bem bruta de estabelecer o real ritmo do jogo. O que começa como um “hack’n slash” onde todo o conteúdo pode ser completado só apertando botões, logo se mostra um jogo que precisa de constante reposicionamento e memorização de padrões de ataque dos chefes.

Parece algo normal, mas é um ritmo estranho para metroidvanias, especialmente que não existe dano de colisão (algo incomum no gênero) e não existe nenhuma forma de habilidade defensiva ao começar o jogo. É uma barreira que pode muito bem frustrar qualquer jogador que resolva tentar Anima Flux como sua introdução ao gênero.

Tendo passado esse período inicial, existe pouco para se criticar no jogo. Seu combate é simples e o design de chefes realmente brilha quando se joga da forma “correta”. Mais habilidades são liberadas, dentre elas os clássicos de pulo duplo e um dash com invencibilidade. Uma complexidade é adicionada na forma de ataques especiais que usam recursos e oferecem efeitos únicos.

Seu mapa é padrão, bem desenhado e muito bem legível, porém não tem nenhuma das funcionalidades mais modernas como poder colocar marcas customizadas para lembrar de pontos importantes. Seu level design é bom, porém um pouco linear por se tratar de um metroidvania.

Anima Flux - 2
Sério? Só 7 pontos de teleporte?

É possível escolher certos biomas diferentes de forma não padronizada, mas dentro do próprio bioma existe um único caminho a se seguir. A interconectividade do mapa deixa muito a desejar, só existem 7 pontos de teleporte no jogo todo, e andar pelo mapa não é tão satisfatório sem um sistema de movimentação diferente do comum.

E para quem joga solo, uma constante dor de cabeça é a péssima inteligência artificial para o aliado que não está ativo no momento. Péssimas decisões, ataques fracos, uso incorreto de recursos e uma certa propensão a andar em armadilhas e morrer sem que possa fazer qualquer coisa para impedir.

São problemas pequenos comparados aos que foram discutidos anteriormente, e geralmente não atrapalham a diversão com o jogo. Mas são falhas perceptíveis para quem tem bastante familiaridade com metroidvanias.

Anima Flux - 3

De uma forma geral, Anima Flux não faz nada que realmente estrague a experiência como um todo. Suas falhas são perceptíveis, mas raramente intrusivas. Seu estilo artístico único, excelente polimento para um projeto independente, e controles responsivos e satisfatórios são mais do que suficientes para o tempo investido, aproximadamente umas 9 horas de conteúdo.

Enfim… Anima Flux vale a pena?

O jogo banca com o modo cooperativo como o seu grande diferencial. Apesar de ser um modo divertido, suas falhas em explicar seus conceitos para o jogador dificulta usar o jogo como introdução para alguém que não conheça o gênero. De resto, o jogo não possui muitos diferencias nem um aspecto ambicioso que o faça se ressaltar do resto.

Porque de uma forma geral, Anima Flux controla muito bem. É uma experiência divertida e bem polida. Suas falhas podem ser bem óbvias, mas não são tão pervasivas a ponto de dizer que o pacote como um todo seja ruim. Talvez o maior argumento contra o jogo, seja sua duração que é abaixo da média do que se espera de um metroidvania.

Anima Flux - 4

PROS:

  • Competente na sua execução;
  • Boas músicas;
  • Bom design de chefes;
  • Estilo artístico incomum e chamativo;
  • Controles responsivos;
  • Poder jogar cooperativo é uma opção legal..

CONS:

  • Péssima IA aliada para quem joga solo;
  • Combate tem um ritmo estranho;
  • Um pouco linear para um metroidvania;
  • História excessivamente convoluta;
  • Relativamente curto.

PLATAFORMAS:

  • PC – GOG (futuramente), MS Store , Steam (Plataforma analisada, chave gentilmente cedida por Games Branding);
  • Nintendo Switch (futuramente);
  • PlayStation 4/5 (futuramente);
  • Xbox One /Series (futuramente).

NOTAS:

Jogabilidade:Qualidade dos controles10

Design (Dificuldade, Level, Criatividade)6
História:Enredo6

Narrativa4
Arte:Gráficos7

Direção artística9
Audio:Efeitos Sonoros6

Trilha Sonora9
PortEstabilidade10

Otimização10
NOTA FINAL:
7.8

Se eu tivesse um real por cada metroidvania que eu tenha jogado esse ano que tem um final abrupto , eu teria dois reais. O que não é muito, mas é estranho que aconteceu duas vezes.

Anima Flux é um jogo legal, mas vindo de um gênero que muitos consideram saturado… Não acho que vai convencer qualquer pessoa que já não seja um fã. Pessoalmente, eu trocaria 5 roguelikes por 1 metroidvania. Quanto mais, melhor.