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Omega Crafter – Fazendinha Zach-like

Omega Crafter faz parte de um gênero um tanto quanto populoso que são os survival/craft. Chegando um ano depois que Palworld causou um enorme rebuliço na indústria, é fácil ver as mesmas inspirações e alicerces desses projetos. E nesse caso os desenvolvedores bancam em um diferencial um tanto quanto incomum: Uma forte ênfase em automatização através de programação.

O estúdio por trás do jogo se chama Preferred Networks, uma startup Japonesa. Curiosamente, a empresa não é exatamente uma desenvolvedora de jogos, mas sim de soluções de Tecnologia da Informação, que também pesquisa deep learning e Inteligências Artificiais desde 2014.

O jogo, então, se descreve como um projeto de paixão dos engenheiros que trabalham nessa empresa. Um projeto que surgiu de uma mistura de dois grandes interesses: videogames, e engenharia de TI. Não é difícil averiguar essa descrição. O próprio site da empresa conta com todos os seus produtos e serviços, que lista não só esse projeto como um produto de entretenimento como também conta com alguns aplicativos de aprendizado em Ciência da Computação.

Omega Crafter - Preferred Networks

Visto por esse ângulo, Omega Crafter é um sucesso. Um projeto secundário com o objetivo de despertar o interesse por programação e automatização. E para os fãs da finada Zachtronics (todas as 11 pessoas no Brasil, eu incluso), é uma excelente alternativa para suprir aquela necessidade de um jogo feito especificamente com otimização e lógica em mente.

Porém, Omega Crafter deixa a desejar quando visto pelas lentes do que se espera de um jogo hoje em dia. No que se trata de vários aspectos de game design, ele é extremamente amador em muito do que faz.

Em primeiro lugar, a história. A sinopse do jogo é simples, Omega Crafter é uma meta-narrativa em que um programa malicioso toma conta de um jogo que está em desenvolvimento. A única forma de encontrar essa fonte de bugs, é explorando o próprio mundo do jogo em busca do que está causando isso.

Infelizmente, não há nenhuma evolução em cima desse conceito. Toda a narrativa do jogo é entregue através de caixas de diálogo que servem tanto como tutoriais e instruções. Seu único propósito é encontrar o que está causando esses problemas para salvar o jogo antes da sua data de lançamento. Apesar de ser uma idéia interessante, ela nunca é usada de forma criativa.

Omega Crafter - Generic

Não existe limite de tempo. Não existem habilidades especiais que o jogador possa utilizar como um “dev mode” ou mecânicas de hackear. Não existe um elenco de NPCs ou personagens que avancem a história além da sua premissa básica. Omega Crafter é um jogo sobre ser um jogo, mas sem fazer um real uso das consequências que esse pano de fundo traria.

Essa simplicidade, infelizmente, também se estende para a jogabilidade. O combate do jogo é extremamente básico e linear. A inteligência artificial dos inimigos é facilmente abusada devido aos seus padrões de ataques óbvios e perceptíveis (o que chega a ser irônico tendo em vista que estamos falando de uma empresa que se especializa em deep learning).

Mecanicamente o jogo nunca evolui em cima da forma que começou: Um botão para ataque com um combo fixo. Um botão de esquiva com uma quantidade generosa de invencibilidade. Um botão para defender. E uma barra de stamina e uma de vida para gerenciar.

De certa forma, o jogo realmente evoca o sentimento de jogar alguns MMORPGs antigos. É uma experiência estranhamente nostálgica, lembrando de jogos como Cabal Online, Priston Tale, Allods, Dragon Nest e outros. Essa estética parece quase acidental, mas inegavelmente traz um certo charme para quem viveu essa época de jogos com jogabilidade simples e um mundo poligonal novo para explorar.

Artisticamente, também é um jogo que… Visivelmente foi feito por engenheiros. Prático, simples e funcional. Não é ruim, mas também dificilmente pode ser considerado memorável. Músicas, efeitos sonoros, gráficos, design de inimigos e temáticas de biomas, tudo é perfeitamente mediano. Falta uma certa ambição e criatividade no que se trata de todos os aspectos artísticos do jogo. Seu maior diferencial nesse quesito é o design dos robôs companheiros, os Grammies.

Apesar desses problemas, é um jogo que realmente é divertido em sua simplicidade. Especialmente quando jogado cooperativamente. É uma excelente opção para jogar casualmente com amigos, onde é possível ter várias “funções” diferentes dentro do jogo. Alguém que gosta de construção e/ou quebra-cabeças pode ficar a cargo de construir e manter a base. Quem gosta de explorar pode buscar os materiais iniciais. Ele pode ser tão assíncrono ou coordenado quanto os jogadores quiserem.

Omega Crafter - Teleporte

Sua progressão é bem simples, mas serve como um bom alicerce para te incentivar a jogar mais. Juntar materiais, construir novas estações de trabalho, otimizar a produção e etcétera para desbloquear novas decorações, bancadas e equipamentos. Depois de coletar todos os materiais disponíveis em um bioma, a localização do chefe é marcada no mapa, e derrotá-lo libera novas ferramentas para explorar um novo bioma.

Espalhadas pelo mapa, também existem algumas “shrines” de programação. Onde existe um quebra-cabeça a ser resolvido fazendo uso da linguagem que os robôs, Grammies, usam. Esses santuários são desafios simples que mais servem como tutoriais das capacidades de programação do que um desafio realmente voltado para lógica e programação. Muitos dos desafios podem até ser resolvidos por força bruta. Contanto que você entenda o resultado, não existe um processo robusto de verificação como os jogos da Zachtronics.

Seu maior diferencial, com certeza, é tudo que se trata de criação e manutenção de bases. Omega Crafter dispõe uma excelente ferramenta de nivelação de terreno que facilita bastante o planejamento de uma base, com ferramentas de colocação geométricas (em grade) e um simples sistema de “colar” peças.

É nessa hora que o jogo ter sido feito por engenheiros realmente brilha, pois no que se trata de construção ele realmente é feito para de forma planejada e calculada. Quando combinado com os Grammis e a sua ferramenta de programação, é um jogo que permite uma enorme gama de possibilidades e esquemas.

Por outro lado, nem mesmo essa faceta é meticulosamente polida. Algumas ferramentas de conveniência e QoL realmente fazem falta: Uma câmera de birds-eye-view. Colocação de vários objetos em grade. Seleção de múltiplos móveis ao mesmo tempo e criação de plantas (blueprints) para que possam ser facilmente replicadas depois.

No que se trata de logística, também faltam algumas coisas. Não é possível transferir materiais entre bases, então cada cidade que você criar precisa ser autossuficiente no que produz. Desde silvicultura e minas para coletar madeira e pedras até as estações de trabalho com os Grammies exercendo suas funções. O jogo também tem um limite universal de Grammies disponíveis, o que incentiva ainda mais manter apenas uma cidade como sua base de operações central, e todas as outras servindo apenas para decoração e pesca.

Omega Crafter tem um alicerce para um jogo realmente bom, mas no momento é um jogo apenas OK. Só resta saber se os engenheiros da Preferred Networks vão aceitar o desafio que é desenvolvimento de videogames e expandir o seu catálogo de jogos.

É um ramo que exige tanto uma mente analítica e calculista para lidar com os vários desafios de programação e polimento de um jogo, quanto uma mente criativa e ambiciosa que procura injetar uma personalidade própria no projeto de forma a mascarar toda essa camada eletrônica e realmente convencer os jogadores que se trata de um mundo orgânico e agradável.

Enfim… Omega Crafter vale a pena?

É um jogo que cai em um estranho meio termo. Dependendo do que cada um julga essencial, ele pode tanto ser um desastre como extremamente divertido. Longe de ser um marco em inovação (ou até mesmo sátira, como foi Palworld), Omega Crafter é simplesmente amador em sua produção.

Quem procura uma boa opção de jogo cooperativo para se jogar com amigos de uma forma mais relaxante e menos intensiva, é uma excelente escolha. Especialmente da forma como o jogo cria pontes entre quem gosta de jogos de ação e jogos de quebra-cabeça. Suas ferramentas de criação de base realmente são boas, e a possibilidade de programação dos robôs cria uma enorme gama de possibilidades para otimização e melhoria.

Por outro lado, quem procura a próxima sensação do gênero como foi Palworld, Valheim ou Rust; com certeza não encontrará nada realmente revolucionário em Omega Crafter. Seu diferencial de robôs programáveis tem um certo apelo, mas extremamente direcionado a quem gosta de quebra-cabeças. Quem procura um jogo de ação ou exploração, não deve encontrar nada para se maravilhar.

PROS:

  • Simples e divertido;
  • Excelente para jogar cooperativo;
  • Criação de bases e a automatização delas é extremamente customizável.

CONS:

  • Polimento no geral é bem amador (visuais, UI, música, animações, etc);
  • Combate bem simplório;
  • Alguns problemas de customização de controles.

PLATAFORMAS:

  • PC – GOG, MS Store (Gamepass), Steam (Plataforma analisada, chave gentilmente cedida por);
  • Nintendo Switch;
  • PlayStation 4/5;
  • Xbox One /Series.

NOTAS:

Jogabilidade:Qualidade dos controles
6

Design (Dificuldade, Level, Criatividade)
8
História:Enredo
6

Narrativa5
Arte:Gráficos7

Direção artística6
Audio:Efeitos Sonoros6

Trilha Sonora6
PortEstabilidade
9

Otimização8
NOTA FINAL:
6.7

Se fosse pra resumir, eu diria que ele lembra bastante o jogo brasileiro Nova Lands. A maior diferença entre os dois é que Nova Lands é mais contido e modesto na sua premissa, o que lhe dá uma oportunidade de dar mais atenção para detalhes e polimento. É um jogo pequeno com umas 10 ilhas relativamente pequenas. Omega Crafter tenta introduzir um combate mais envolvido e um mundo enorme com vários biomas diferentes. Infelizmente, o time por trás do jogo ainda não tem a experiência o suficiente para cumprir todas as suas ambições.