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Daemon X Machina – Entre no robô, Reclaimer!

O gênero mecha é raríssimo nos games, temos uma franquia notória que é Armored Core da From Software, e o resto amplamente desconhecido como Mech Warrior, Hawken e Zone of the Enders. Oficialmente reconhecidos como Third Person Shooters, esse subgênero costuma seguir algumas regras extras como movimentação vertical, gerenciamento de recursos extras como munições especiais, diferentes combustíveis e uma necessidade instrínseca de lock-ons para muitos de seus ataques.

Daemon X Machina adere a todas essas regras, o que é esperado já que Kenichiro Tsukuda (produtor da série Armored Core) está no leme do projeto. O jogo é parte preparação, como arrumar armamentos e peças de seu mecha (chamado de Arsenal) e parte execução, que são as batalhas de fato.

A preparação provavelmente é o ponto alto do jogo no que se trata de entregar uma experiência única. Cada pedaço de armadura tem um propósito, capacetes são responsáveis por radar e aquisição de mira, corpos por eficiência de boost e resistência a ser derrubado, braços por estabilidade e eficiência das armas, e pernas para mobilidade no chão e recuperação de stun. Tudo isso pode ser ajustado a fino com processadores que alteram várias capacidades do Arsenal e cirurgias no seu Outer (o piloto customizável) que oferecem variados bônus tanto para o piloto quanto a máquina. Seria possível escrever páginas e páginas das variadas combinações e builds possíveis que o jogo oferece, sua versatilidade nesse quesito é um prato cheio para qualquer jogador que goste desse aspecto.

Comparando especifícações, teorizando sinergias, desenvolvendo novas armas. Irritante para alguns e recompensante para outros.

Quanto ao combate não temos nada que seja diferente do habitual. As únicas habilidades realmente exigidas são gerenciamento de recursos e reflexos para se esquivar de ataques, já que a mira é amplamente feita por lock-ons. As batalhas são emocionantes de se ver, com mechas deslizando pelo campo de batalha e mísseis de vários tipos sendo atirados uns aos outros. Tal sentimento é ressaltado ainda mais pela trilha sonora composta por Junichi Nakatsuru e Rio Hamamoto (Tekken, Ace Combat, Soul Calibur) fazendo ótimo uso de um híbrido de música eletrônica com metal que combina perfeitamente com o combate e atmosfera do jogo.

Como boa parte da batalha é decidida no quão especializada ou diversa é a sua build, somente esse aspecto do jogo não é um diferencial. Com exceção do conteúdo extra, a maior parte das missões são simples e rápidas. Não são difíceis nem oferecem uma complexidade notável.

Quanto a progressão do jogo, o modelo se assemelha a jogos como Monster Hunter ou God Eater. Há um hub principal onde se acessa as várias facilidades para criar suas armas e armaduras, ver vários status de seu personagem e acessar os vários modos de jogo. Todas as missões são em telas fixas que se repetem várias vezes. A arena em si costuma ser pequena com raras exceções de telas com boa verticalidade ou grandes trechos de combate.

E não podemos nem fazer carinho no cachorro 🙁

Com essa base, o jogo já tinha o necessário para ser excepcional, mas infelizmente houve algumas falhas que chegam a atrapalhar o funcionamento do jogo como um todo.

Os defeitos mais “leves” são justamente a variedade de missões e gráficos abaixo da média. Os gráficos até são compreensíveis por ser um port de Nintendo Switch, mas a variedade nas telas é onde o jogo mais peca pois a repetição faz com que o jogo nunca alcance seu potencial com as mecânicas que tem. Durante a campanha há apenas algumas missões em cenários realmente memoráveis e com objetivos únicos ao invés de “mate todas as IAs”. Apesar de não ser algo que vá desencorajar qualquer um que goste da mecânica central do jogo, ainda é um pouco decepcionante.

Seu tutorial também é extremamente ineficiente em ensinar o jogo. As primeiras cinco missões simplesmente despejam botões e informações no jogador e nunca há auxilio com prompts de comando ou um modo tutorial onde você pudesse aprender tudo com calma. E mesmo assim ainda faltam comandos importantíssimos como recarregar armas manualmente e acessar a mira telescópica de rifles Sniper. O que alivia esse problema é que dentro do jogo há um menu com um manual completo. Todos os comandos e explicações estão contidas ali, não que seja um substituto perfeito para um tutorial bem montado, mas pelo menos há um plano B.

Pera, Outer era o quê mesmo?

E por fim, o maior problema do jogo, sua história. Geralmente eu não considero que uma história ruim prejudique a experiência de um jogo que tem jogabilidade como seu elemento central, porém em Daemon X Machina é impossível desconsiderar esse aspecto.

A resenha da história é: Um evento não-descrito fez com que parte da lua caísse sobre a terra, anulando toda tecnologia que tínhamos até tal ponto. O impacto gerou uma nova forma de radiação chamada Femto que é o principal combustível que alimenta tudo nesse novo mundo pós apocalíptico. Temos três grandes empresas competindo por mais poder e recursos, cada uma com a sua filosofia diferente para “guiar a humanidade ao novo mundo” e o Orbital Consortium como um mediador neutro que faz as empresas cumprir as regras.

A “Moonfall” fez com que algumas Inteligências Artificiais agissem de forma estranha e começassem a atacar humanos, portanto foi necessário a formação de mercenários para manejar armas já que eles não podiam ser corrompidos e utilizados pela IA errante. Os mercenários geralmente participam de grupos que melhor alinham a seus objetivos, tendo 8 facções diferentes. Tudo isso é explicado ao jogador nas 3 primeiras missões.

Não é uma estrutura ruim para uma história, mas tudo nela é mal executado. A maior parte dos personagens é completamente insana, diálogos incoerentes, ameaças sem sentido, incompetência ou prepotência, entre outros vários defeitos levantam a pergunta de como sequer algumas pessoas conseguem pilotar um Arsenal, muito menos cumprir ordens e missões. Todas as empresas agem como cultos religiosos fanáticos, toda e qualquer comunicação vindo delas para o jogador é simplesmente uma pregação barata de seus ideais que conseguem extremamente piegas. Todas constantemente quebram as regras supostamente impostas sem nunca qualquer menção de consequência. O mundo frágil que em teoria só existe através de um esforço desesperado da humanidade constantemente entra em conflito em momentos que levam o jogar a pensar “como eles sequer sobreviveram até esse ponto?”.

E por qualquer motivo isso claramente está em foco no jogo. Antes de todas as missões de histórias sempre há diálogos e exposição entre vários personagens, cinemáticos são frequentes na duração da campanha, e mesmo durante missões todos os personagens no seu esquadrão estão constantemente conversando e é impossível prestar atenção no que está sendo falado em conjunto com a OST, explosões, lasers e similares.

Não fale com o motorista, somente o necessário.

A total falta de carisma dos personagens, a sequência ilógica de eventos que avança a história, seu personagem mudo que é constantemente abordado como se esperassem uma resposta (e é chamado de Novato por TODA a duração do jogo) e a péssima apresentação de tudo isso. É um caos completo.

Se tem alguma coisa que pode afastar um fã do gênero de Daemon X Machina com certeza é sua história. Especialmente tendo em vista que o verdadeiro desafio do jogo só vem após terminar a campanha e começar o conteúdo de pós jogo, com multiplayer competitivo, cooperativo e explorações.

Dicionário de sinônimos = Personagem iluminado

Sobre o port de PC

Como um jogo lançado inicialmente para consoles e posteriormente portado para computadores, um ponto comum de preocupação é na qualidade do port. Ele foi feito pela empresa XSEED, uma empresa americana fundada por ex-funcionários da Square Enix USA, hoje subsidiária da companhia japonesa Marvelous Inc. O estúdio é responsável por localização e ports de vários títulos japoneses, então já tem uma certa experiência em entregar títulos estáveis. No geral não há grandes críticas a se fazer nesse quesito além de não poder usar o cursor do mouse pra menu, toda a seleção é feita por WASD e botões do mouse (parecido com NiOh Complete, para quem jogou esse título também). A resposta do mouse usa raw input que tem uma boa precisão.

Uma boa game de opções gráficas e FPS não é limitado a 60. Botões completamente customizáveis e alguns inputs extras foram adicionados comparado a versão de Switch. Com tudo considerado, é um port acima da média.

PROS:

  • Um bom port para PC;
  • Ótima variedade de customização para robôs;
  • Modos co-op e multiplayer bem aproveitados;
  • Ótimo preço regional, bastante conteúdo pelo valor;
  • Trilha sonora cativante.

CONS:

  • Diálogo e história terríveis;
  • Tutorial insuficiente para todas as funções do jogo;
  • Gráficos defasados;
  • O verdadeiro desafio do jogo só vem após zerar a campanha;
  • Não é possível fazer carinho no cachorro da base ☹.

PLATAFORMAS:

  • PC (plataforma analisada, chave concedida por XSEED);
  • Nintendo Switch.

NOTA: 7.5/10

“Daemon x Machina serve a fanbase de um gênero desassistido. Isso sozinho já o faz uma compra certa dentro desse nicho, e em boa parte dos casos será suficientemente satisfatório, mas o jogo se sabota em alguns pontos chave que o trazem para um nível abaixo do que ele poderia alcançar. Pode não causar a melhor das impressões para novatos ao tipo de jogo.”

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