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Melhores dos 10s (2019) – Gravity Rush

Ao chegar neste 2020, concluímos mais uma fase no imenso milênio a nossa frente. Para comemorar e relembrar, decidimos fazer textos sobre nossos jogos favoritos da década de 2010. Estes serão estritamente pessoais, mas tentarão acima de tudo exaltar as melhores qualidades dos nossos queridinhos.
N. ☕️

A triste história do PlayStation Vita não é mais novidade para ninguém; o portátil, lançado em 2012 como um sucessor do PlayStation Portable (PSP), amargou uma série de falhas durante sua vida útil até ser abandonado pela própria Sony. Com isso, as constantes piadas de “o Vita não tem jogos”, “Vita é um peso de porta”, “3DS > Vita” acabaram apagando seus títulos exclusivos e deixando-os à margem da indústria de videogames. Porém, foi deste console esquecido que nasceu um dos títulos mais interessantes e corajosos dos últimos tempos e se consolida como o melhor jogo da década para esta que vos fala: Gravity Rush.

Chamado de “Gravity Daze” no Japão, Gravity Rush é um título exclusivo de PlayStation Vita dirigido por Keiichiro Toyama (Silent Hill) e desenvolvido pelo “Project Siren”, uma equipe do Japan Studio. Este, por sua vez, é conhecido por títulos como Shadow of the Colossus, Patapon e The Last Guardian. Com trilha sonora por Kohei Tanaka, o jogo foi remasterizado para o PlayStation 4 em 2015, e uma sequência foi lançada para o mesmo console. Inspirado em histórias em quadrinhos (tanto ocidentais quanto orientais) e nos trabalhos de Jean Giraud (A.K.A. Moebius), o jogo se tornou representação do console ao usar a abusar das mecânicas de movimento do Vita com a gameplay gravitacional que se tornou sua marca registrada, algo único e excepcional entre videogames.

KAT, A GAROTA QUE CAIU DO CÉU

A cena de abertura do jogo acompanha uma maçã caindo e cruzando a cidade sem ser notada. Gravity Rush acompanha a jornada de Kat, uma “mutante” com poderes gravitacionais e amnésia que despenca do céu tal qual a maçã numa cidade flutuante chamada Hekseville, dividida em quatro distritos. Acompanhada por seu parceiro gato “espacial” chamado Dusty, nossa protagonista tenta tirar o melhor da situação em que se encontra enquanto defende a população da ameaça dos Navis e busca recuperar suas memórias perdidas. Durante essa jornada de auto-descobrimento e coragem, Kat faz amigos, inimigos, desafia vilões e se torna uma “heroína” para o povo de Hekseville.

Hekseville e seus tons de sépia – Reprodução/PlayStation

A história de Gravity Rush é um tanto confusa (principalmente quando pensamos na sequência, mas esse não é o ponto aqui), mas o carisma da protagonista, suas relações com os outros personagens e o charme dos ambientes do jogo já encantam o jogador. Gravity Rush, em muitos aspectos visuais, se parece com as obras do Studio Ghibli e o jeito com que Miyazaki retrata o cotidiano, os ambientes comuns das cidades e aquele tom fantástico que parece se esgueirar a cada esquina. Como já mencionado, Hekseville é dividida em quatro distritos: Auldnoir (distrito inicial), Pleajaune (distrito de entretenimento), Endestria (distrito industrial) e Vendecentre (distrito principal). Hekseville tem um estilo steampunk no qual tons de sépia são dominantes, mas cada distrito tem sua própria música e aparência distintas que as tornam singulares e prazerosas de explorar. Há outras áreas disponíveis no jogo, mas mencioná-las seria spoiler, então será poupada a possível surpresa caso você decida se aventurar pelo jogo.

A trilha sonora é absolutamente primorosa, repleta de melodias empolgantes, envolventes, delicadas e emocionantes. Com certeza mais de uma trilha ficará presa na sua cabeça, e você se encontrará assobiando ou murmurando o ritmo em algum momento do seu dia. Acompanhando a alta qualidade musical há ainda a decisão de criar uma língua específica para o jogo, que é falada por todos os personagens e é pesadamente influenciada pelo francês, extremamente prazerosa de ouvir e divertida de imitar. Com todos estes elementos citados, é possível sentir como Gravity Rush se estabeleceu como uma franquia extremamente original e singular, corajosa e “fora da caixa”, o que é maximizado pelo seu console original (algo meio hipster, sabe, um jogo muito legal, diferente e interessante num console que a maioria ignora e zomba sem nem saber do potencial que ele guarda). Assim sendo, é possível entender o próximo ponto alto da experiência de Gravity Rush: sua gameplay gravitacional.

GRAVIDADE SEM LIMITES

A mecânica central é a manipulação da gravidade à seu bel-prazer, algo que é melhorado durante o jogo com a compra de skills e aperfeiçoamentos. Com isso, ela pode dar longos saltos, voar, levar objetos consigo, desferir poderosos golpes e chutes, além de abrir buracos negros e performar belíssimas lutas no ar e no chão. É claro que, muitas vezes, o hardware do Vita parece não suportar bem toda a exigência de movimentação e espaçamento que o jogo faz, o que torna jogar no portátil um tanto “sufocante” (para isso eu recomendo fortemente a versão remasterizada do PS4, é muito mais confortável de jogar!), mas apesar disso o console faz seu melhor e o jogo ainda é jogável, obviamente. O sensor de movimentação do Vita torna a manipulação gravitacional e os voos de Kat mais orgânicos e divertidos, permitindo sentir melhor as mudanças de posição e impactos em batalha. Aqueles que sofrem de labirintite ou outro distúrbio de equilíbrio semelhante podem se sentir meio enjoados jogando Gravity Rush por conta da movimentação súbita e constante, porém isso não é regra; eu mesma tenho labirintite e nunca passei mal jogando, tanto no Vita quanto no PS4.

Sobrevoar Hekseville usando a gravidade é a forma mais divertida de explorar – Reprodução/NeoFighters

Voar pelas cidades com Kat, trocando de distrito enquanto ouve a trilha sonora magnífica do jogo é quase terapêutico. Gravity Rush é um daqueles jogos que pouca gente fala sobre, mas quem fala sempre elogia e guarda com carinho no peito. Uma pérola perdida no mar de fracassos do PlayStation Vita e uma das franquias que mais revolucionou o uso de hardware da Sony, Gravity Rush é um deleite estético e sonoro, além de um divertimento absurdo com suas mecânicas singulares. É como jogar um título do Studio Ghibli, e é uma daquelas obras que você evita finalizar porque sabe que vai sentir saudade assim que terminar.

Após dois títulos principais e uma animação, a história da Rainha da Gravidade Kat ainda guarda muitos mistérios. O que a Sony terá planejado para a manipuladora de gravidade na próxima geração da PlayStation? Só o futuro poderá dizer…

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