Pentiment – “Livros não foram feitos para ser acreditados…”
Pentiment é um híbrido entre os jogos de aventura clássicos point and click e uma simples Visual Novel. Uma idéia de longa data de Josh Sawyer – designer e diretor de Alpha Protocol e Fallout New Vegas respectivamente – finalmente saiu do papel como um dos primeiros projetos da Obsidian depois da acquisição pela Microsoft.
Em uma entrevista pela Wired, Sawyer disse que essa idéia não seria possível se não fosse pelo Game Pass. Ele justifica que é uma proposta com um público-alvo tão pequeno que não seria um investimento que teria retornos, porém como uma opção dentro de várias em um catálogo, é uma excelente proposta para oferecer variedade. Essa é a melhor definição sobre o que esperar de um jogo desses, algo que deliberadamente não procura agradar todo mundo, apenas oferecer algo novo.
Uma idéia de nicho
O maior apelo de Pentiment é o seu comprometimento histórico. Para quem é fascinado pelos períodos finais da Idade Média ou o começo da Idade Moderna, é uma das melhores experiências que se pode conseguir com um jogo. Por outro lado, também não é necessário qualquer conhecimento na área para se aproveitar o jogo. Seguindo o padrão de algumas Visual Novels, o jogo possui um glossário detalhando eventos, pessoas, obras de arte e mais conforme são mencionados no diálogo.
E falando em diálogo, não foi usado uma gramática arcaica, seja em inglês ou em português. Não é uma história difícil de ler, apesar de ser um pouco lenta as vezes. E não só é uma escrita simples (apesar de ser teatral) como é um dos poucos jogos com uma excelente localização para português.
Porém, Pentiment comete alguns erros de gameplay
Apesar de ser um “livro” interativo, existem certos elementos que mesmo experiências narrativas precisam levar em consideração por causa do meio. Se tratando de diálogo, Pentiment não faz nenhum uso das funções mais comuns de VN. Não existe uma forma de avançar o diálogo automaticamente, não é possível deixá-lo mais rápido, não pode pular cutscenes (um dos sete pecados de videogames já que estamos falando disso), e nem sequer há uma seleção de capítulos.
Para caçadores de conquistas, esse jogo será um inferno. Existem várias conquistas exclusivas entre si e pegar todas precisará de muita paciência, seja para passar todos os diálogos de novo ou para ficar gerenciando arquivos de saves diferentes. A velocidade de caminhar não é ruim para os padrões de point and click, mas também é algo que poderia ser um pouco mais rápido, pelo menos como uma opção para uma segunda jogatina.
Uma excelente narrativa, mas não ambiciosa o suficiente
Apesar de possuir alguns momentos interessantes no que se trata da customização de personagem e como isso afeta alguns diálogos, o jogo infelizmente é extremamente linear em seu progresso e conclusão. É possível obter alguns pedaços de informação diferentes conforme as escolhas do jogador, mas até o final da jornada fica evidente que suas escolhas não tiveram tanto peso além de alguns julgamentos em seletos momentos.
Para uma história centrada em resolver um assassinato, um jogo pode entregar muito mais do que um livro. Jogos como Sherlock Holmes: Crimes & Punishment, The Return of Obra Dinn ou AI The Somnium Files colocam nos ombros do jogador a responsabilidade de resolver os mistérios, porém Pentiment se restringe muito a algumas escolhas que não revelem muito.
Existem vários momentos em que o jogador pode pensar em questionar algum personagem para mais informação, mas nenhum diálogo para isso existe. Existem certas teorias que seriam fáceis de se testar, porém não são exploradas. O grande mistério do jogo é possível de se desvendar na metade do caminho para quem tem familiaridade com esse tipo de história, porém descobri-lo antes iria quebrar a continuidade da história.
Não que a história de Pentiment seja ruim, sua narrativa é uma das melhores do ano, mas para um jogo que já apela para uma audiência de nicho, ele é surpreendentemente simples em sua execução.
Se nada mais, uma forte direção artística carrega a experiência
Vale mencionar que o aspecto mais forte do jogo é sua forte direção artística. Conforme mencionado, a proposta já é interessante para quem gosta de Idade Média, mas seus visuais e estética é impressionante de se ver independente disso. Um ótimo trabalho com sprites já é raro de se ver ultimamente, e quando feitos com um propósito extremamente focado cria uma estética única. Toda a trilha sonora consiste de músicas realmente cantadas na época ou criadas com os instrumentos e estilo dela. O design de áudio é excelente para realçar certas cenas e emoções. É um trabalho perfeito no que se trata do departamento de arte.
Então… Pentiment vale a pena?
A descrição de Sawyer é um sumário perfeito do jogo. Para quem já assina o gamepass, é algo único e diferente que pode ser testado sem nenhum custo adicional. E apesar de não ser um jogo inovador no que se trata de agência do jogador, ainda vale o tempo investido nele. Porém, como um produto de 100 reais fica extremamente difícil de se recomendar. É uma história de 13 a 20 horas com um péssimo valor de rejogabilidade e várias funções de conveniência faltando.
PROS:
- Um dos melhores estilos artísticos já implementados;
- Preciso e completo nas referências históricas;
- Escolhas e traços de personalidade permitem um bom tanto de expressão;
- Uma boa narrativa;
- Excelente design de áudio;
- Uma boa localização para português.
CONS:
- Extremamente lento, seja em narrativa ou gameplay;
- Faltam certas funções de conveniência para visual novels;
- A história não é tão flexível as escolhas do jogador.
PLATAFORMAS:
- PC – MS Store (Gamepass, Plataforma analisada), Steam;
- Xbox One /Series.
NOTAS:
Jogabilidade: | Qualidade dos controles | 5 |
Design (Dificuldade, Level, Criatividade) | 6 | |
História: | Enredo | 8 |
Narrativa | 7 | |
Arte: | Gráficos | 10 |
Direção artística | 10 | |
Audio: | Efeitos Sonoros | 10 |
Trilha Sonora | 10 | |
Port | Estabilidade | 10 |
Otimização | 9 | |
NOTA FINAL: | 8.5 |
Gostaria de dizer de que o jogo serve como um ótimo exemplo de como videogames podem entregar histórias únicas. Sawyer já trabalhou em dois jogos que possui uma imensa expressividade por parte do jogador (Alpha Protocol e Fallout NV), mas infelizmente o jogador tem tão pouca influência na história de Pentiment que realmente é melhor pensar nele como um livro levemente interativo mesmo. Um bom jogo, mas poderia ser muito melhor.
PS: O título é um trecho do livro “O Nome da Rosa” por Umberto Eco. Claramente uma das inspirações de Pentiment pelas similaridades de temas e história.