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Amnesia: The Bunker – O retorno do rei de terror

Amnesia: The Bunker é o mais novo jogo do estimado estúdio de terror – Frictional Games – e traz consigo um leque de mudanças na fórmula da série. Algumas delas foram retiradas direto de seus projetos mais antigos como Penumbra, e outras são completamente novas para o estúdio como um todo.

Altas expectativas

Bunker era um título que fãs da Frictional estavam ansiosos de antecipação. O estúdio é bem conhecido dentro do gênero de terror, seja pela inovação que Penumbra trouxe em movimentação, a excelência de Amnesia The Dark Descent em terror psicológico, ou Soma que traz consigo uma das melhores histórias que um jogo já teve junto com um novo tipo de terror.

Infelizmente depois desse ponto, a série Amnesia foi lentamente se tornando uma das IPs mais fracas do estúdio. A Machine for Pigs jamais põe o jogador em real perigo, e a história não faz nada que Dark Descent já não tinha feito melhor. Rebirth até tem uma história interessante que elabora bem em cima da lore da série, mas como a famosa frase de um escritores de terror mais notórios:

“Pesadelos existem fora da lógica, e não tem muita diversão em explicações; elas são contraditórias com a poesia do medo”

Stephen King

E essa é o dilema que The Bunker se encontrava. Após uma das melhores experiências em terror psicológico houve dois jogos muito fracos para o padrão do estúdio. Foi então que o próximo Amnesia foi anunciado e repetidamente dito em entrevistas que estariam tentando algo diferente dessa vez. Mudanças sempre trazem consigo receios, e é por isso que esse jogo estava com expectativas tão mistas entre fãs.

Menos terror psicológico, mais terror de sobrevivência

Dentro do gênero de terror, existem vários subgêneros que apelam para diferentes formas de se assustar a audiência. The Bunker deixa de ser o terror psicológico que The Dark Descent otimizou e optou por uma experiência mais parecida com os Resident Evil clássicos.

Provavelmente um dos aspectos mais icônicos da série é seu sistema de “sanidade”, onde o protagonista tem que permanecer em lugares bem iluminados ou começarem a alucinar e atrair a atenção dos monstros. Bunker completamente descarta essa mecânica.

Apesar de parecer contra-produtivo retirar um aspecto que parece tão ligado com o que Amnesia é, foi uma decisão que permitiu o jogo realmente surpreender o jogador. Mais do que qualquer jogo do estúdio, o monstro não segue regras claras e predeterminadas. A criatura em Bunker é imprevisível e a forma de evitá-la é intuitiva: Não faça barulho, fique em lugares escuros, tome cuidado com armadilhas, coisas do tipo.

Amnesia The Bunker - Save point
A presença de uma máquina de escrever no save point provavelmente não foi acidental

O jogo também tem um sistema de inventário limitadíssimo e vários itens com utilidades diferentes e possibilidades de serem combinados para obter diferentes ferramentas. Gerenciamento de recursos e inventário é parte chave do jogo. Colete todo combustível que achar e mantenha o gerador rodando se quiser ter as melhores chances de sobreviver.

Tentativa e erro

Porém, apesar desses acertos em atmosfera e gameplay, ainda tem um lado ruim dessa mudança. Pela primeira vez, é possível afugentar o monstro temporariamente com certos métodos. Trombar com a criatura é inevitável, portanto reconhecer as formas que você tem para se defender é essencial.

O problema com esse sistema é que vai de encontro com uma das regras mais importantes para jogos de terror: a que dita que os jogadores tem que constantemente se sentirem em perigos, mas ao mesmo tempo tentar não matá-los com freqüência.

Em The Bunker, as explicações de como os sistemas de jogo funcionam são mínimas. E por ser um jogo tão diferente do que o resto do catálogo da Frictional, é mais do que provável de que os jogadores serão pegos pelo monstro repetidamente até entenderem o que o jogo espera que faça em determinadas situações. O loading screen é uma constante e isso quebra o que seria normalmente uma atmosfera inquietante.

Immersive sim?

Logo de começo o jogo te coloca uma dica dizendo “Experimente. Se você acha que algo é possível, provavelmente é”. Fãs de immersive sims com certeza ficaram animados ao ler isso, mas apesar de realmente ser um jogo que permite diferentes formas de resolver o mesmo problema, ele ainda não é uma faceta do jogo completamente desenvolvida.

Amnesia The Bunker - Immersive sim?

Por exemplo: Uma das formas de se passar por uma porta trancada é simplesmente quebrá-la usando um pedaço de concreto. O jogo nunca levanta que isso é uma possibilidade, mas faz sentido que seria. Porém, depois de descobrir isso, fica claro que só é possível destruir essas portas com esses tijolos ou algo ainda mais exagerado como explosões. Qualquer outro objeto não serve, mesmo que também pareça pesado.

São esses tipos de situações que são ao mesmo tempo o ponto alto e o ponto baixo do jogo. Sua não-linearidade é impressionante, mas am inexperiência do time em fazer um jogo do tipo fica aparente. Portas com corrente ou grades parafusadas são obstáculos que nunca podem ser resolvidos sem a sua ferramenta específica.

Em suma: Amnesia The Bunker vale a pena?

Para quem esperava algum jogo no estilo de Dark Descent, ele pode ser decepcionante. Mas por méritos do próprio jogo, The Bunker é excelente no que faz e com certeza entre os melhores jogos de terror disponíveis no mercado. Não é um jogo sem algumas visíveis falhas, mas facilmente superou Rebirth e Machine for Pigs. No que se trata de gameplay e rejogabilidade, ele supera até mesmo The Dark Descent. Sendo um indie com um preço razoável (e boa precificação regional) e tradução para PT-BR; Amnesia: The Bunker é uma fácil recomendação para fãs do gênero como um todo.

PROS:

  • Excelente jogabilidade de survival horror;
  • Bom fator de rejogabilidade;
  • Atmosfera no nível de qualidade que se espera da Frictional;
  • Recompensa um bom gerenciamento de recursos.

CONS:

  • Baseado muito em tentativa e erro;
  • Save points limitados podem ser frustrante as vezes.

PLATAFORMAS:

  • PC – GOG, MS Store (Gamepass) (Plataforma analisada), Steam;
  • PlayStation 4/5;
  • Xbox One /Series.

NOTAS:

Jogabilidade:Qualidade dos controles8
Design (Dificuldade, Level, Criatividade)7
História:Enredo8
Narrativa8
Arte:Gráficos7
Direção artística8
Audio:Efeitos Sonoros10
Trilha Sonora10
PortEstabilidade10
Otimização7
NOTA FINAL:8.3

Acho que tentar algo diferente é a melhor coisa que a Frictional poderia fazer agora. Eu não sou fã de franquias que mudam de gênero drasticamente, mas Bunker ainda mantém a essência do que Amnesia deveria ser mesmo tentando algo novo. Honestamente, espero que evoluam essa fórmula para os próximos jogos e revisitem o modelo de Dark Descent quando tiverem alguma nova idéia de como surpreender o jogador com terror psicológico de novo. Os sistemas de sanidade e “não olhe para o monstro” estavam começando a ficar manjados, e um bom terror é imprevisível.

Amnesia The Bunker - French jumpscare
French jumpscare

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