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Halo Infinite – Uma evolução e um tropeço

Começando como um dos principais competidores de Half-Life, Halo Combat Evolved começou com o pé direito e deixou sua marca tanto na indústria quanto em muitos jogadores, gerando uma trilogia e vários spin-offs. Porém, a desenvolvedora desses jogos, Bungie, se separou da Microsoft em 2007, deixando então Halo: Reach como sua última marca na franquia. Halo 4 e 5 foram feitos pelo estúdio 343 Industries, criado pela Microsoft para continuar o legado de Master Chief. Nesses dois jogos era visível que a 343 estava fazendo o possível para emular a Bungie, mas em uma franquia do tamanho do Halo é necessário uma forte visão artística com personalidade e isso não pode ser atingido com imitação.

Halo Infinite é o momento que a franquia resolveu sair dos moldes do passado para tentar algo novo, por bem ou por mal. God of War (2018), DmC, Yakuza 7: Like a Dragon, Metroid Prime, vários jogos já passaram por um momento de reestruturação com diferente graus de sucesso, e dividindo fanbases se a mudança foi bem vinda ou não. Infinite não vai ser diferente nessa divergência de opiniões entre fãs, mas no geral sai com um saldo positivo nas melhorias e no possível futuro da série.

A maior mudança que foi descrita e anunciada em todo material promocional do jogo é a transição para um modelo open world, o que por sí só é um dos aspectos mais fracos do jogo, mas serve de palco para demonstrar as partes realmente boas. Em particular sua jogabilidade como um todo está mais divertida do que nunca, com várias armas sendo rebalanceadas para que todas sejam satisfatórias de usar mesmo com o enorme TTK (tempo para matar) que é tão icônica a série.

A mudança no sistema de equipamentos faz com que Chief sempre tenha 4 ferramentas ao seu dispor, duas de mobilidade, uma ofensiva/utilidade e uma defensiva. Com isso todos os combates no jogo tem bem mais opções e possibilidades do que simplesmente achar cover e ter uma boa mira, o grappling hook em particular sendo uma das ferramentas mais divertidas a ser adicionadas em uma campanha de FPS. Quem jogou de Pathfinder em Apex Legends já tem uma idéia das possibilidades que isso abre, e por ser um jogo single-player o cooldown dessa habilidade é baixo o suficiente para ser amplamente utilizada durante o jogo.

E pilares da série como a trilha sonora e inteligência artificial dos inimigos continuam com o nível de qualidade esperado. A mixagem de áudio é muito bem feita, se intensifica em momentos chaves durante as batalhas e é peça central na atmosfera do jogo, enquanto a IA continua com Grunts entrando em pânico no meio da batalha, Jackals com suas tendências defensivas, os hábeis Elites com um calcanhar de Aquiles ao perder os escudos e por aí vai. Adicionando na personalidade de cada um são novos diálogos, com os Grunts sendo extremamente tagarelas e constantemente insultando o Chief proporcionando alguns momentos hilários. A única parte onde a IA decepciona são em algumas das novas batalhas de chefes, com ‘muitas delas se resumindo a um brutamonte com uma vida enorme andando em linha reta e atirando com uma arma de munição infinita na sua direção. Nem todas os chefes seguem essa regra porém, da metade do jogo para frente a qualidade das batalhas melhoram muito em uma combinação de arenas melhores, designs mais interessantes e ter todas as habilidades de Chief desbloqueadas.

A parte negativa da jogabilidade se dá boa parte em pequenas inconveniências como um péssimo sistema de checkpoints que não combinam com o modelo open world, não ter uma opção de “quick equipment use” para PC, o novo sistema de munições não é utilizado ao 100% ainda, objetivos no open world são desinteressantes em boa parte e exploração não é tão divertido quanto combate, entre outras reclamações menores. Nada disso estraga a experiência que o jogo tem a oferecer, mas o impedem de atingir o potencial que essa nova direção poderia ter.

O que realmente pode decepcionar fãs é a história do jogo que não só toma uma direção bem diferente dos anteriores, mesmo analisando como algo próprio ainda não é impressionante. Escharum e Atriox são de longe os antagonistas mais esquecíveis da série toda. São personagens extremamente unidimensionais, o que não é algo ruim por sí só, mas se torna ruim com o jogo tentando frequentemente convencer o jogador das capacidades e motivações de cada um. O ritmo da história também quebra continuidade com o final do jogo anterior para contar os eventos inicias depois, e quando finalmente conecta todos os pontos a revelação não é tão chocante. De forma resumida, a história parece que não se leva a sério durante gameplay e eventos menores, mas a história principal tenta ser dramática em momentos e maneiras erradas.

O que salva boa parte da história são as interações de Chief com a nova IA, Weapon. Com uma personalidade menos profissional e mais descontraída, ela oferece uma boa contraparte a Chief, que por outro lado está bem menos animado e emocional após os eventos de história. Weapon não chega a salvar a história por completo, mas oferece bastante entretenimento e pode resultar em um duo ainda mais icônico do que o original.

O produto final então é uma evolução que tenta se desprender da nostalgia e se reinventar. Na sua maior parte de forma bem sucedida, mas com algumas imperfeições e incômodos que podem desagradar alguns fãs da franquia. E para quem nunca teve contato, Infinite pode fácilmente criar uma experiência similar com a que CE teve na sua época.

PROS:

  • Excelente gameplay, discutivelmente o melhor da série;
  • Ótima IA de inimigos e as novas interações entre si e com o Chief são divertidas;
  • Uma boa trilha sonora, especialmente em momentos de batalha;
  • Movimentação do jogo extremamente satisfatória;
  • O gancho em particular proporcionando uma dinâmica completamente nova que ainda parece Halo;
  • Algumas batalhas de chefes são boas em criar momentos épicos e exigir habilidade do jogador…

CONS:

  • …enquanto alguns dos piores chefes também estão presentes, com designs frustrantes e desinteressantes;
  • O ritmo de jogo é estranho com seções open world e lineares não conversando bem entre si;
  • História, narrativa e antagonistas completamente esquecíveis;
  • Péssimo sistema de checkpoints e saves;
  • Algumas imperfeições nos controles sejam por bugs ou design.

PLATAFORMAS:

  • PC – Steam, MS Store/Gamepass (plataforma analisada);
  • Xbox One / Series.

NOTA: 8/10

Pra ser bem honesto, não sou um grande fã de Halo. CE foi importantíssimo para a época e a primeira jogatina dele sempre é marcante, mas depois disso a franquia cai numa certa fórmula e só existe para fãs estabelecidos. Essa evolução era extremamente necessária no meu ver, e mesmo que imperfeita ainda é bem vinda. A maior perda provavelmente se dá na história, o jogo não se leva a sério tanto quanto os anteriores o que pode desagradar entusiastas da lore do universo. Mesmo assim acredito que seja uma boa troca, Infinite conseguiu recapturar a magia de jogar um novo shooter que sentimos com CE nos anos 2000 então com certeza é digno do nome Halo. Agora é só esperar que a 343 saiba manejar a franquia a partir desse ponto.

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