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Gestalt: Steam & Cinder – (Quase) Excelente

Gestalt: Steam & Cinder é o título de estréia do estúdio Metamorphosis Games, de uma idéia -conforme o time descreve – surgida de uma conversa nos confins de uma empresa de advogados. A descrição oficial do jogo o pinta como um plataforma 2D dirigido pela narrativa e cheio de ação e elementos de RPG.

E dada a descrição, é um jogo que entrega o que promete. As aparências são de um metroidvania, e os usuários da Steam até colocaram a tag de um, mas vale mencionar que o jogo se atém apenas a ser um jogo de plataforma. É uma experiência extremamente linear. Com essa expectativa em mente, existe pouco que Gestalt deixa a desejar.

Gestalt se sobressai na sua jogabilidade

Como o foco é mais em combate e não exploração, todas as mecânicas são voltadas para ter um combate responsivo e fluído. A base é simples, existe um combo de espada. Ataques com a espada geram energia, e essa energia é usada para ataques a distância com uma arma. E é claro, a defesa é feita com pulo e botões dedicados para esquiva.

A esquiva é atrelada a um tempo de cooldown e não pode ser abusada. Intercalar pulos é essencial para evitar dano, já que esse tempo não é curto o suficiente para garantir que a esquiva sempre estará disponível para uso.

Estranhamente, o esquema de controles padrão conta com dois botões diferente para esquiva. O círculo, que é uma esquiva para frente. E o L2, que é um backstep. Não existe muita diferença entre fazer um backstep ou simplesmente trocar de lado e usar a esquiva para frente. É uma distinção que existe puramente por preferência e não por design.

De forma geral, tudo funciona de forma bem coesa. Gestalt se sobressai no combate, entre as animações bem-feitas, os visuais retrô de ótima visibilidade, e controles responsivos, essa é facilmente a melhor parte do jogo. A única limitação é que não é possível cancelar certos ataques em pulos ou esquivas. Ataques fortes ou especiais precisam ser feitos no momento certo, caso contrário você paga o preço pela ganância.

Fazendo jus aos “elementos de RPG” na descrição, vários outros golpes podem ser liberados em uma árvore de habilidades. Algumas só podem ser desbloqueadas por progressão na história, mas a grande maioria exige pontos que são adquiridos ao subir de nível, ao habilitar um checkpoint novo, ou em certos colecionáveis espalhados pelo mapa.

Perto do final o seu reportório é incrível. Tiros carregados, uma grande sequência de ataques, ataques fortes ou carregados, ataques partindo de esquiva e mais. O único “porém” dessa história é que quando os inimigos começam a ficar mais agressivos, boa parte dessas habilidades são demoradas demais para usá-las de forma segura. Não é incomum batalhas do endgame parecerem mais simples do que no começo. Afinal de contas, você só tem tempo para uma ou duas espadadas antes de ter que esquivar.

A outra metade da jogabilidade é simples, mas eficiente. A mobilidade perto do final não tem nada muito além do clássico: pulos duplos e air dashes. O jogo não tem nenhuma gincana elaborada que exige movimentos precisos ou nada do tipo. O maior truque que o jogo conta nesse quesito é usar o divekick para ganhar altura.

Mesmo a exploração sendo simples, o jogo entrega um level design interessante. Por exemplo, uma das primeiras telas é uma cidade onde um sindicato criminoso possui um morteiro. O jogador precisa tomar cobertura em lugares que o morteiro não alcança, mas também precisa fazer os tiros acertarem certas fraquezas na estrutura para liberar o caminho. Cada bioma sempre tem alguma novidade do tipo, impedindo o jogo de estagnar.

Artisticamente

Seu aspecto mais marcante é com certeza a sua estética. Seus visuais retrô claramente lembram o clássico Symphony of the Night, sprites 2D em pixel-art e com as faces omitidas pela resolução. Mas sua temática steampunk traz uma identidade visual única e memorável.

A protagonista, Aletheia, tem um excelente design de gunslinger de velho oeste. Seu chapéu de cowboy e cabelo longo vermelho são excelentes em criar uma personagem que não só é memorável pela história quanto perfeitamente legível em qualquer bioma ou esquema de cores.

As animações também são excelentes em telegrafar os movimentos de inimigos. Gestalt não é um jogo difícil, mas boa parte disso se deve ao excelente trabalho na jogabilidade em mantê-la fluída e nas animações em serem legíveis sem qualquer truque sacana para causar dano fora de hora.

O design de áudio do jogo também não deixa a desejar, tudo funciona conforme deveria e nada soa estranho. A trilha sonora também é excelente, apesar de poder soar um pouco repetitiva as vezes. Sua mixagem as vezes é um pouco desbalanceada, fazendo a música ser bem mais alta do que sons de ambiente, mas nada que atrapalhe jogar ou que não possa ser ajustado no menu.

Ironicamente, o jogo se descreve como uma experiencia narrativa e esse é provavelmente o seu elo mais fraco. A história não é ruim, mas o ritmo é bem desbalanceado e sua conclusão é um tanto quanto repentina. Gestalt é excelente em contar uma história, mas nem tanto em amarrá-la. Muitas idéias boas são introduzidas, mas não alcançam o seu potencial na duração de jogo.

Gestalt não faz nada errado, mas falha por omissão

O jogo é claramente acima da média em tudo que faz. A maior crítica seria sua linearidade, mas como nunca foi prometido um metroidvania, fica difícil dizer que é uma falha do jogo e não de expectativa. Ainda assim, o jogo tem as suas falhas. Não tanto pelo que faz de errado, mas sim pelo que não faz.

Veja, Gestalt tem uma terrível mania de querer contextualizar todas as mecânicas dentro do jogo. Apesar de ser um detalhe que geralmente é passível de elogios, ele é excessivamente zeloso as vezes e atrapalha a compreensão do que se deve fazer. O tutorial do jogo é todo entregue através de grafitis na parede explicando as ações chaves.

Para quem tem familiaridade com o gênero, é possível entender tudo que é necessário para progredir no jogo, mas existe momentos onde as instruções não são tão claras e podem deixar certas pessoas perdidas mesmo em um jogo que foi feito para ser linear.

O mapa mesmo é demasiadamente simples e dificulta o seu uso para ajudar na localização. Usando o modelo de “blocos grandes interconectados” ele não serve tanto de guia quanto só uma vaga idéia de onde você realmente está.

Até existe uma função de marcar pontos de interesse no mapa, mas não só nunca é dito que essa função existe como seu uso é um tanto quanto estranho quando é difícil se localizar em um terreno de vários níveis quanto tudo que se tem é um retangulo enorme e sem textura.

Também é um jogo relativamente curto, durando de 9 a 12 horas para se completar 100%. Tanto a jogabilidade quanto a história parecem que acabam antes da hora. Nada do que é entregue é ruim, mas ao mesmo tempo parece incompleto na sua duração e execução.

No final de contas… Gestalt vale a pena?

Gestalt: Steam & Cinder é um jogo que não pode ter a sua qualidade questionada. Artisticamente, narrativamente, em jogabilidade, tudo que ele faz é pelo menos acima da média. Porém, isso não quer dizer que não tenha as suas falhas. Na maior parte das vezes por omissão do que por erro.

É um jogo que talvez não ofereça conteúdo o suficiente pelo preço que pede. Sua duração é relativamente curta e não possui muito valor de rejogabilidade. Apesar de não ter nada explicitamente ruim nele, também não possui nada que o faça uma experiência essencial de se recomendar. É um bom jogo, sem mais nem menos.

PROS:

  • Combate excelente;
  • Visuais retro de ótima qualidade;
  • Controles responsivos e fluídos;
  • Ótimo estilo artístico e estética.

CONS:

  • Muito linear;
  • As vezes um pouco confuso em explicar o que quer;
  • Relativamente curto;
  • Termina de forma abrupta.

PLATAFORMAS:

  • PC – GOG, Steam (Plataforma analisada, chave gentilmente cedida por Metamorphosis Games);
  • Nintendo Switch;
  • PlayStation 4/5;
  • Xbox One /Series.

NOTAS:

Jogabilidade:Qualidade dos controles10

Design (Dificuldade, Level, Criatividade)7
História:Enredo6

Narrativa8
Arte:Gráficos8

Direção artística10
Audio:Efeitos Sonoros9

Trilha Sonora9
PortEstabilidade10

Otimização10
NOTA FINAL:
8.7

As primeiras impressões de Gestalt são fenomenais. Infelizmente ele não segura nesse mesmo nível de êxtase até o fim, mas ainda é um jogo muito bom. Pessoalmente, o meu “SotN da nova era” continua sendo Vigil The Longest Night, mesmo sendo inegável que Gestalt é muito mais polido.