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Path of the Midnight Sun – Esbanjando carisma

Originando como um ROM Hack de Fire Emblem: The Sacred Stones, Path of the Midnight Sun é o primeiro jogo oficial sob o nome de Studio Daimon. O criador do jogo, Alfred Kamon, usou essa experiência de 10 anos atrás para alavancar Midnight Sun para um projeto completo. O produto final conta com poucas semelhanças com Fire Emblem entretanto, tendo puxado idéias de outros RPGs e misturando-as de uma forma nova e distinta.

De forma resumida, o jogo é um RPG de turno em uma ambientação de fantasia medieval. Partindo dessa fundação simples, o combate conta com um sistema único de gerenciamento de Mana entre os personagens que é central tanto para o gameplay quanto a história. Existe uma pitada de estratégia ao escolher as batalhas no mapa, para procurar lugares bons e emboscar inimigos em terreno favorável para o jogador. Boa parte da história é contada através de um sistema reminiscente de Visual Novel, com arte e animações por Live2D. Apesar do pequeno time de 3 pessoas, PotMS também conta com uma excelente trilha sonora e atuação de voz.

No lado de gameplay, o jogo tem alguns problemas, apesar de ser no geral uma experiência positiva. Uma de suas falhas mais graves é na estabilidade geral do jogo. Especialmente no que se trata de interface de usuário e operação geral, o jogo só funciona com o mouse. Não existem atalhos de teclado, não há customização, não há nenhuma forma de jogar exceto usar o mouse para todas as ações do jogo. Além dessa estranha decisão de controle, ainda há alguns bugs como clicar em opções muito rápido fazer o jogo congelar e travar. Um problema exacerbado pela falta de um autosave ou save durante as batalhas.

Midnight Sun 1

Uma outra falha em gameplay é menos grave, porém ainda pode ser algo que desanime muitos jogadores. PotMS prioriza a história acima de tudo e, em prol de manter os eventos concisos e compreensíveis, o combate demora muito para começar a ficar realmente bom. Discutivelmente, esse é um ponto onde vários RPGs sofrem e não é algo exclusivo de Midnight Sun, mas aqui é um pouco mais notável pela duração total do jogo (por volta de 30h) e o tempo que demora para todas as funções de combate estarem liberadas e você realmente começar a se divertir com ele (após o primeiro terço do jogo).

Então, apesar de contar com um ótimo sistema para batalhas de turno, ele não serve como um considerável ponto forte para quem gosta do gênero e gostaria de muito tempo para otimizar e dominar as mecânicas. PotMS te força a fazer somente o necessário com um sistema de tempo limitando todas as suas ações em combate. Apesar de ser uma das coisas mais únicas do combate, também é um fator que muitos vão achar desnecessariamente limitador.

Midnight Sun 2

Onde o jogo realmente brilha é em tudo que se trata de história. Apesar do molde de fantasia medieval ser geralmente percebido como genérico, foi dado um certo cuidado para que o mundo de Arvium seja distinto da média. Cada nação tem uma cultura diferente, o sistema de mana previamente mencionado é um modelo incomum que resulta em inovações tanto para gameplay quanto em história, e cada personagem tem um peso e personalidade que ajuda a compreender a história e se importar com ela.

Um cuidado especial ainda foi dado para a party principal, onde a reação e interação dos personagens é bem trabalhada para que todo mundo seja internamente consistente com as suas emoções e experiências, algo difícil de se conseguir em histórias de qualquer mídia que seja. Mesmo que tenha alguns momentos piegas (e talvez um pouco mais de referências modernas e memes do que o jogo deveria ter), a qualidade da história é algo que puxa qualquer um a se investir naquele mundo e personagens. É uma prova de como um conceito simples sempre pode ser lapidado a ponto de parecer algo completamente novo.

Midnight Sun 3

Todo o resto do pacote de narrativa também funciona perfeitamente. A trilha sonora nunca fica entediante ou irritante, e algumas trilhas são extremamente marcantes. O design artístico é muito bom, tendo apenas algumas falhas e estranhezas na animação que não chegam no nível de atrapalhar na experiência. E o ritmo entre história e gameplay é muito bem balanceado, com uma duração de 30 horas que nunca tem filler e ainda assim amarra todas as pontas até o final. É de longe o motivo a se recomendar o jogo.

Em suma, o que esperar de Midnight Sun?

Path of the Midnight Sun é um excelente RPG de turno, com algumas limitações e descuidos que é de se esperar de uma primeira produção de um time pequeno. Suas falhas são perceptíveis, mas seus acertos são tão certeiros que é fácil relevar as pequenas inconveniências. O jogo veio com um excelente preço regional para o Brasil, porém áudio e texto só estão disponíveis em inglês. Se nada mais, sua história com certeza vale a pena para quem gostaria de ver algumas idéias diferentes no tema de fantasia medieval.

PROS:

  • Excelente história e narrativa;
  • Design artístico simples e agradável;
  • Um bom ritmo entre gameplay e história
  • Personagens carismáticos;
  • Algumas idéias interessantes em world building;
  • Ótimo preço regional;
  • Mecânicas e gameplay são um bom balanço entre old school e inovador.

CONS:

  • Sistema de save limitado às vezes gera frustrações;
  • O combate demora muito para ficar interessante;
  • Menus e interface de usuário são lentos e rígidos de se usar;
  • Disponível somente em inglês;
  • Alguns problemas de estabilidade.

PLATAFORMAS:

  • PC – Steam.

NOTAS:

Jogabilidade:Qualidade dos controles6
Design (Dificuldade, Level, Criatividade)10
História:Enredo9
Narrativa10
Arte:Gráficos8
Direção artística10
Audio:Efeitos Sonoros10
Trilha Sonora10
PortEstabilidade8
Otimização9
NOTA FINAL:9.0

Eu não deveria dizer que já tenho um potencial concorrente pra GotY pessoal logo no primeiro ano do mês… Mas eu vou. Path of the Midnight Sun pode ser um jogo relativamente simples e ter a sua cota de falhas técnicas que podem ser ressaltadas, mas é a prova clássica de que paixão e determinação por um projeto podem trazer resultados excelentes.

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