Pokémon Legends: Arceus – O melhor Pokémon até agora?
Esta análise é livre de spoilers relevantes para o aproveitamento máximo do jogo.
Nossa análise em vídeo:
Ano passado, junto do anúncio do remake 1:1 de Pokémon Diamond and Pearl, a Nintendo tomou uma atitude surpreendente. Anunciou um novo jogo da série principal de Pokémon, não apenas revisitando uma área já conhecida, que é Sinnoh, como de uma forma jamais imaginada antes: no passado, na era feudal do Japão. Aqui, Sinnoh é conhecida como Hisui, os humanos estão começando a aprender a conviver com os Pokémon, e um jovem protagonista familiar volta ao passado por um motivo misterioso. Pokémon Legends: Arceus é este título, que propõe não apenas revisitar a região do Deus Pokémon, como também mostrar um pouco de como a relação entre humanos e Pokémon se iniciou, além de se reinventar mecanicamente, trazendo algumas das mudanças mais ambiciosas já vistas na série.
O maior questionamento que se encontra sobre Arceus no público é, como este título, que busca ser o verdadeiro remake de DPP, (visto que Brilliant Diamond e Shining Pearl foram mais uma remasterização profunda) se apresenta? Ele corrige os graves erros de Sword e Shield? Ele honra o que é uma das regiões mais adoradas da franquia? A história apresentada aqui tem alguma relevância ou é apenas uma justificativa morna para se fazer três jogos novos ao invés de simplesmente terem feito um remake só, na engine de SwSh, de DPP? As mudanças de mecânica são um benefício ou malefício aos jogos, que já tem tropeçado inúmeras vezes desde o lançamento de X/Y no 3DS?
É ideal que se comece pelo começo.
Arceus é, tecnicamente falando, sim, o melhor jogo da franquia. O jogo apresenta imenso fator de rejogabilidade, mesmo considerando que possui uma campanha de história com início, meio e fim. Agora a Pokédex é um grande livro de micro-missões, não basta mais capturar um só Pokémon para preenche-la, você deve realmente pesquisar os mesmos, conhecer seus comportamentos e habilidade para completar as páginas da Dex, que definitivamente te recompensa caso o fizer.
Além disso, capturar não é apenas entrar na luta e jogar a bola. Você tem mais controle que nunca do personagem e isso envolve a forma como explora o mapa. Sendo sorrateiro, agachando, mirando (com tipos de bolas diferentes que tem até pesos e estratégias diferentes de uso), você tem que capturar uma quantidade de Pokémon maior que nunca antes. E isto não é banalizado – faz parte do complecionismo do jogo e incentiva o jogador a explorar a fundo lugares, horários e aproximações.
Claro, ainda existe a possibilidade de batalhar, e, em alguns casos, isso será inevitável, mas é fato que o jogo está mais refrescante que nunca. É GOSTOSO jogar uma bola à trinta metros de distância de um Gyarados voador e capturar ele no meio do ar. É gostoso ver um shiny brilhando à distância e ir sorrateiro com uma bola pesada para pegá-lo desprevenido. E é mais trágico QUE NUNCA quando você o perde, pois você sabe que não foi um “RNG”, foi culpa SUA.
É importante citar que as batalhas não perderam a importância, mas contextualmente foram deixadas em segundo plano. Ora, se a humanidade mal tem contato próximo com Pokémon, é natural que não existam tantos treinadores quanto nos outros jogos. Mas isso é remediado com batalhas selvagens, alguns treinadores que aparecem múltiplas vezes ao longo da história e um único ginásio em Jubilife, que te permite treinar e fortalecer seus mons com alguns dos principais personagens do jogo, que também tem seus respectivos times. E não será feito spoiler algum quanto à história deste jogo, mas pode-se dizer com tranquilidade que a última batalha contra um treinador neste jogo é potencialmente a mais difícil da história da franquia.
E falando em Jubilife…
Jubilife é o “hub” de Pokémon Legends Arceus. O jogo possui o maior mapa da franquia, que é dividido em colossais wild areas, e exige que você volte sempre à cidade para trocar de mapa, mas isso é feito de maneira natural, que não prejudique a exploração. Considerando o tamanho de cada área, é justificável que isso seja separado, pois há tanto o que se fazer em cada área que o jogador acaba por necessidade tendo que voltar à base para se reequipar e organizar sua vida antes de ir para outro ponto muito distante. E o jogo conta com pequenas bases construíveis de acesso à conveniências que são muito bem-vindas e posicionadas.
Jubilife de Hisui é talvez um dos lugares mais vivos dos jogos de Pokémon. O vilarejo é modesto, porém cheio de personagens marcantes. Todo mundo tem seu pedaço na história, e existem quase cem missões secundárias para auxiliar o povo de Hisui à se aproximar dos Pokémon, e aprenderem a conviver e coexistir com os bichos. Algumas destas missões secundárias são muito marcantes e emocionantes, é imprescindível que se faça o máximo que puder para não apenas crescer como mestre Pokémon, como também conhecer um pouco desse mundo tão querido.
O elefante na sala é a Equipe de Expedição Galaxy. Vejam bem, aqui, não temos uma organização maligna, mas quase que uma organização militar (lembrando incontáveis vezes as forças de Eldia em Attack on Titan) que protege a humanidade e busca formas de se conviver com Pokémon, que até então eram monstros selvagens extremamente ameaçadores.
Os membros dessa equipe são mais humanos que nunca, e não apenas nela, como nas demais equipes (o jogo conta com quatro grandes equipes – a Guilda Gingko, os clãs Diamante e Pérola e obviamente a Galaxy) percebemos inúmeros personagens ancestrais de clássicos da série, inclusive de personagens fora de Sinnoh. Pessoas que terão descendentes em Hoenn, Unova, Galar e mais. Mas que isso não se leve à mal – muitos destes são completamente diferentes de suas contrapartidas modernas, e quem sabe, até possa se reencontrar algum personagem moderno que esteja tão perdido quanto o protagonista.
Sem entrar em território que comprometa spoilers, é importantíssimo que se comente as dinâmicas de relação entre os personagens. As rivalidades entre os clãs de Sinnoh, os guardiões dos Pokémon Senhores de cada região e o protagonista, a organização patenteada do Galaxy com sua passivo-agressividade com o jogador, além de todas as relações entre terceiros nesse jogo, aqui temos um dos jogos mais ricos em história e conteúdo da série, de forma que Arceus não seja apenas uma reimaginação de DPP, mas um verdadeiro sucessor. Arceus respeita o cânone de DPP e cresce em cima disso, revisita lendários e suas histórias de origem de maneira nunca antes vista na franquia.
E as comparações com demais jogos não são apenas necessárias para exigir o máximo possível do jogo, como enaltecê-lo e criticá-lo por seus acertos e defeitos.
O bom, o mal e o feio
A exploração de Arceus é de longe o ponto mais importante do jogo, pois nele que se encontra todas as outras mecânicas. Com o tempo, o jogador desbloqueia montarias, que permite alcançar novas áreas, se aventurar em partes antes inalcançáveis e isso é algo muito chamativo. De início, até incrível. Os últimos jogos fizeram um esforço nobre em abandonar o peso que eram os HMs, golpes obrigatórios para avanço no jogo, mas que eram mais uma inconveniência que uma ajuda, pois atrapalhavam até a forma como se deveria montar a equipe ao longo da história. Era muito comum que se pegasse algum Pokémon pouco relevante para ter os principais HMs para avanço, e isso sempre foi um problema. Mas aqui, além destes movimentos especiais serem exclusivos de Pokémon que não são necessariamente seus, mas entidades públicas, eles são facilmente ativados com o aperto de um botão, se limitando a serem utilizados apenas para acessar partes do mapa.
É tudo muito dinâmico, mas eventualmente, é visível o custo destas conveniências, e até um pouco hipócrita. O jogo te oferece uma jogabilidade de ação extremamente fluida, e na hora que mais precisava ser fluida, deixa o jogador na mão. Você só pode manusear Pokémon do seu time ou jogar bolas caso na montaria aquática. Em qualquer outra montaria, que poderia te ajudar a facilitar captura e batalha de monstros, o jogador é impedido. E claro, pode-se desmontar instantaneamente para atuar contra os adversários, mas qual a necessidade de quebrar o ritmo? Absolutamente nenhuma, e para quem já explorou o mapa inteiro e está buscando espécimes específicas em um curto espaço de tempo, é inconveniente descer da montaria por uma fração de segundo, jogar a bola, e imediatamente voltar pra montaria.
Ainda na exploração, existem surtos em lugares do mapa que são necessários para complecionismo do jogo, e são muito bem-vindos. Isto obriga o jogador a ir fazer mudanças de plano de última hora, extendendo o tempo de jogo, mas também não deixa de ser um risco. Estes surtos, assim como os selvagens que atacam e nocauteiam o próprio jogador, podem sobrecarregar o protagonista em um instante se não houver cuidado e estratégia. Principalmente por um defeito do jogo, que é não permitir que se use mais de um Pokémon ao mesmo tempo no combate, o que não faz sentido algum, pois as batalhas estão cada vez mais abertas e dinâmicas.
E ao ser nocauteado, o jogador perde sua bolsa de itens, que pode apenas ser recuperada por jogadores externos, o que não faz muito sentido devida a independência que o jogo oferece em todo e qualquer outro assunto.
Mas um dos poucos problemas que ficam de Sword, Shield e todos os jogos depois do 3DS é a péssima otimização gráfica. É absurdo como a maior franquia de entretenimento do mundo pouco se esforça para alcançar visuais bons e lisos. Não entendam mal, o jogo é belíssimo, mas é visível a falta de comprometimento técnico com o polimento do jogo, principalmente visível ao sobrevoar qualquer área do mapa. De perto é bonito, de longe, é feio, muito feio, coisa que nem a trilha sonora magnífica salva.
Não existia necessidade desse jogo sair menos de 3 meses depois do Brilliant Diamond e Shining Pearl, que por mais simples que pareçam, são visualmente mais agradáveis que a ambição de Arceus. É claro que a empresa se preocupa mais em lançar seus produtos no zeitgeist das demais mídias da franquia, o que sempre prejudicou e continua prejudicando o que deveria importar mais que tudo, que são os jogos (e claramente continuará, visto que os jogos da nona geração chegam antes do fim do ano).
Pros:
- Novas mecânicas de ação para captura e combate CQC com bosses
- Formas de velocidade ou potência, aliadas ao quase press-turn do combate em turnos
- Batalhas agora acontecem no overworld em um modo pseudo-action
- Exploração ágil e quase perfeita em montarias
- Arte histórica
- Sistema de missões secundárias
- “A Aliança Humanidade X Pokémon” e o que o jogo faz pra isso ser uma mecânica
- Trilha sonora dinâmica como de Breath of the Wild
- Personagens marcantes
- História épica e memorável
- O que deve ser o melhor vilão da história de Pokémon
- DOIS post-game
- Pokédex não é mais “capturar e acabou”, tem diversas subquests para cada entrada, aumentando fator rejogabilidade e incentivando jogador a não apenas pegar o Pokémon, mas também o conhecer
- Shiny hunting otimizado e incentivado, mas não banalizado
- Combates contra treinadores mais desafiadores que qualquer outro jogo de Pokémon
- Não existe mais necessidade de trocar Pokémon para evoluí-los. O jogo criou uma alternativa excelente para os jogadores 100% solo.
Cons:
- Combates contra treinadores não são muitos, apesar de tematicamente coerente
- Falta de combate multijogador
- Otimização gráfica péssima, especialmente visível quando jogador está voando
- Captura de Pokémon na água é muito truncada e problemática
- Pouco desafio de captura de certos Pokémon específicos no modo história
- Apenas a montaria aquática te permite jogar pokébolas e iniciar batalhas. Não existem motivos técnicos para não permitir isso em voo e em montarias terrestres
- Apesar de muito bem explorado tematicamente na história, não existe um Distortion World palpável
- Apesar de melhorar muito a busca de shinies, fazer uma Pokédex completa no primeiro grau e/ou perfeita, num coletivo, não recompensa o jogador nem com um tapinha nas costas
- Variedade de novos Pokémon é muito estranha. Alguns são excelentes, outros, completamente desinteressantes
Jogabilidade: | Qualidade dos controles | 9 |
| Design (Dificuldade, Level, Criatividade) | 9 |
História: | Enredo | 9 |
| Narrativa | 9 |
Arte: | Gráficos | 7 |
| Direção artística | 8 |
Audio: | Efeitos Sonoros | 9 |
| Trilha Sonora | 9 |
Port: | Estabilidade | 7 |
| Otimização | 6 |
NOTA FINAL: | | 8.2 |
Pokémon Legends: Arceus é o jogo mais tecnicamente incrível da franquia. As mecânicas novas trazem finalmente um futuro promissor, junto de uma história muito mais ambiciosa e criativa, mas as infames pendências visuais da série ainda existem. Claro que a cada iteração há pequenas melhorias visuais, e desde a mudança da base da Game Freak para a sede da Nintendo, a atenção à detalhes que antes não davam a mínima agora passa a existir, mas a passos mais largos que se deveria. É fácil dizer que esse jogo é bom, pois é, mas muito difícil dizer que supera a sinfonia de qualidades que víamos nos títulos de Game Boy Advance e DS. Esse jogo poderia facilmente ter alcançado uma nota perfeita caso tivessem dado o tempo e carinho que merecia, mas conhecendo a Game Freak, seria bom demais para ser verdade.