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Pseudoregalia – Excelência em plataforma 3D

Pseudoregalia é o primeiro grande projeto de um desenvolvedor de itch.io, um metroidvania/plataforma 3D com estética de quinta-geração (PS1, N64, Saturno). Apesar de ser um projeto claramente amador, a qualidade de controles e movimento é absurdamente boa.

A absoluta primeira impressão do jogo pode não ser das melhores. O menu de opções mesmo usando o estilo padrão da Unreal Engine. Não existe muito o que se configurar – nem mesmo trocar as teclas é possível – e toda a interface de usuário parece básica.

Pseudoregalia settings

Por sorte, no que se trata de jogabilidade mesmo jogo é excelente. Não só não demonstra nenhum sinal de amadorismo, é possivelmente um dos melhores sistemas de movimento de um plataforma 3D.

Os primeiros momentos do jogo são um pouco fracos, servindo primariamente para aclimar o jogador a estética retro (e aos filtros de resolução e animação caso estejam ligados). Mas assim que se pega o primeiro grande upgrade, o jogo muda drasticamente.

De uma forma geral, Pseudoregalia gira em torno de uma grande mecânica: o wall jump. Só que enquanto a maior parte dos jogos do gênero relegam wall jump a um minigame que só pode ser usado em paredes da distância certa e apenas em um eixo, aqui todo o potencial de uma mecânica desse tipo é explorada.

O maior sinal da excelência de seu design vem da forma que o jogo cria complexidade com mecânicas simples. A filosofia de design central para um jogo retro é fazer o máximo possível com o mínimo, e isso é aplicado com maestria.

Em outras palavras, na maior parte do tempo a sua principal opção de movimento aéreo é o wall jump. No momento em que se aperta o botão de pulo, você ganha um pequeno boost de velocidade naquela direção e a personagem estica a perna. O ângulo que você atinge a parede, e o quão perto você está dela quando aperta o botão, são coisas que vão mudar completamente o resultado do seu pulo.

Você ganha o máximo de distância e altura possível quando ela atinge apenas a ponta do pé na parede, e pulos horizontais mantém quase toda a velocidade, mas ganham pouca altura. Enquanto pulos perfeitamente verticais são o que ganham mais altura, ao custo de não poder trocar de eixo. Combinando essas simples propriedades já é possível alcançar uma quantidade absurda de segredos e biomas que são feitos para outros upgrades, e é aí que o jogo começa de verdade.

Um dos aspectos mais importantes de um metroidvania é a forma que seus upgrades tomam. Os piores do gênero apenas te entregam chaves disfarçadas e você raramente pode usar essas habilidades quando o jogo não quer que você use. Já os melhores te entregam uma ferramenta onde a maior limitação é a imaginação e habilidade do jogador ao invés de restrições arbitrárias, e é aqui que Pseudoregalia realmente mostra o seu valor.

Pseudoregalia ambient

O jogo que começa como um plataforma básico, talvez até um pouco parado, termina com um sistema de movimento que te dá um grau de liberdade imenso. E isso sem sequer precisar de qualquer coisa extrema como pulo duplo, voar, novos botões ou qualquer coisa do tipo. Apenas uma implementação excelente da mecânica, e um bom level design para você ter onde usá-las.

Os outros upgrades e todas as interações possíveis entre eles adicionam muito mais ao jogo, mas descobri-las organicamente é parte da diversão do jogo então não há mais o que se falar sobre esse aspecto em particular.

E é claro, apesar da movimentação do jogo ser perfeita, isso não significa que o jogo todo é perfeito. Existem duas grandes falhas que podem desanimar alguns. A primeira, é que o combate nunca é mais do que “OK”. Desde o começo até o final você vai usar um combo básico de 3 hits enquanto corre em círculos do seu alvo. O primeiro chefe mesmo é um que tem muito mais vida do que deveria para um combate sem um grande nível de complexidade.

Existe um lock-on que força a personagem a atacar aquele inimigo em particular, mas não trava a câmera automaticamente nele. Honestamente, não é uma função necessária por mais de 90% do jogo. De uma forma geral, nunca passa de um minigame dentro do incrível sistema de movimentação.

E o segundo é relacionado ao seu level design. Porém, o problema não é o level design em si. O mapa do jogo é muito bem-feito e navegar ele com todas as opções é imensamente satisfatório, mas seu layout chega a ser convoluto as vezes e não existe nenhum mapa que se possa usar. O problema só é exacerbado quando se chega em alguns biomas escuros.

Backtracking é parte do design de qualquer bom metroidvania, mas em Pseudoregalia não é de todo impossível que você saiba onde tem que ir, mas não lembre exatamente o caminho para chegar lá. Até o final do jogo é possível mapear mentalmente as localizações, mas até lá vão ter vários momentos de frustração enquanto se passa por lugares repetidos tentando achar onde realmente quer ir.

Em suma, Pseudoregalia vale a pena?

Para quem gosta de plataformas, o jogo possui um dos sistemas de movimento mais únicos e bem elaborados. Sua estética retro trai o quão preciso é o controles e o quão fluído é a movimentação como um todo. Não é um jogo perfeito, tendo como o maior problema um combate que não acompanha a qualidade do movimento e a falta de um mapa (que tudo leva a crer, será consertado logo). Pseudoregalia com certeza vale tanto o tempo quanto dinheiro investido nele.

Pseudoregalia door

PROS:

  • Excelência em controles;
  • Movimentação fluída;
  • Incentiva a exploração e sequence breaks;
  • Perfeita estética de jogos da quinta-geração;
  • Bom level design.

CONS:

  • A falta de um mapa faz com que backtracking seja um inferno;
  • Combate nunca chega a ser mais do que “OK”.

PLATAFORMAS:

  • PC – Steam (Plataforma analisada, chave gentilmente cedida por rittzler).

NOTAS:

Jogabilidade:Qualidade dos controles10
Design (Dificuldade, Level, Criatividade)10
História:Enredo7
Narrativa7
Arte:Gráficos9
Direção artística10
Audio:Efeitos Sonoros10
Trilha Sonora7
PortEstabilidade10
Otimização10
NOTA FINAL:9.0

Como um fã de longa data de metroidvanias e plataformas, Pseudoregalia ganha facilmente um lugar no meu top 5 do gênero. Se nada, eu até queria que tivesse mais do jogo pra jogar. Algum desafio final tipo Balue’s Tower de Klonoa ou Path of Pain de Hollow Knight. Independente, esse é um desenvolvedor promissor pra quem gosta do gênero.

Citando o bom e velho Ratatouille: “Não é qualquer um que pode se tornar um grande artista, mas um grande artista pode vir de qualquer lugar”.