TEVI – O metroidvania do ano
Tevi é o segundo jogo de GemaYue desenvolvido em conjunto com CreSpirit. Depois de ter popularizado um subgênero nos doujin games que misturava metroidvanias com jogos de navinha com Rabi Ribi, seu segundo jogo chega seis anos depois na forma de uma nova IP funcionando como sucessor espiritual.
Como é o segundo jogo consecutivo no mesmo gênero pelo mesmo desenvolvedor, comparações são inevitáveis e expectativas são firmes. Tevi logo de cara já passa uma melhor primeira impressão.
Toda a interface do jogo é muito mais polida, o próprio Heads Up Display agora fica na posição padrão no canto superior direito, e usa uma estética própria para o universo do jogo e a protagonista engenheira. Parece algo banal a se elogiar, mas isso em conjunto com as animações muito mais fluídas e ambiente mais detalhado faz com que o jogo não mais passe a impressão de ser um projeto amador. Lições foram aprendidas, e melhorias foram implementadas.
Outra melhoria que logo percebemos é a mudança na forma que tiros operam. Rabi Ribi exigia uma carga estilo Mega Man para ser eficiente, fazendo com que precisasse de uma estranha configuração de botões para acomodar as duas faces do combate. Em Tevi essa função deu lugar para um sistema de mana. Enquanto você tiver 100 ou mais pontos de mana, seu tiro sempre sairá carregado.
E tendo reduzido a carga mental de ficar gerenciando dois botões completamente diferentes, a complexidade dos combos melee pode aumentar sem que nada quebre. Inicialmente não se vê muito de diferença fora a animação muito mais fluída, mas não tarda para que o jogo introduza várias outras opções aéreas ou terrestres para serem usadas em diferentes ocasiões. O jogo ainda tem um foco em combos aéreos, mas com o dano sendo maior para combos no chão, você é incentivado a alternar entre os dois.
É claro, só melhorias em gameplay não seriam o suficiente para melhorar toda a qualidade do jogo. O maior problema de Rabi Ribi era ser design de chefes que pendia muito para o lado Touhou e pouco para o seu elemento principal de metroidvania. Decorar padrões a abusar de uma hitbox diminuta eram obrigatórios, e para quem não é entusiasta de jogos de navinha, a experiência era miserável.
Em Tevi não foram feitos só alguns ajustes. Os ataques estilo “bullet hell” agora são dedicados para o clímax da luta contra o chefe, o que faz com que se possa manter os ataques exagerados que pegam a tela toda e exigem manobras precisas sem que se torne frustrante.
As melhorias na responsividade dos comandos e polimento nos cenários de jogo para que não contrastassem com as balas faz com que tudo se encaixe perfeitamente. As batalhas contra chefe agora dispõem o balanço perfeito entre os dois gêneros, fazendo com que a dinâmica da luta seja muito mais satisfatória sem exigir muita experiência de nenhum.
Isso não significa que TEVI perdeu o seu corte. As dificuldades de Hard para cima continuam exatamente a mesma insanidade que se espera do criador de Rabi Ribi. Para fãs mais do aspecto bullet hell do jogo: Vocês não foram deixados de lado.
Até mesmo na dificuldade padrão no Normal o jogo nunca chega a ficar “zen”. Enquanto metroidvannias geralmente oferecem uma curva exponencial de poder para o jogador, fazendo com que exploração meticulosa te deixe ridiculamente mais forte do que os chefes de história, Tevi lhe EXIGE que esteja preparado para não ter que sofrer repetidas tentativas contra o chefe.
O jogo então consegue um ótimo balanço entre desafio e diversão, oferecendo dificuldades mais baixas para quem realmente gosta de uma experiência mais “relax”, e masoquismo puro de dificuldades no estilo de “Dante Must Die” para quem realmente gosta de otimizar suas habilidades.
E independente dessas divergências em dificuldade, o jogo oferece uma quantidade absurda de conteúdo. São vários biomas com ainda mais bifurcações e rotas não-lineares para a mesma destinação. Seu design é um pouco mais rígido do que a média, se tem áreas que o jogo não quer que você acesse prematuramente, você simplesmente não vai. Mas ao mesmo tempo bastante variedade é oferecida para que você nunca sinta que está seguindo um trilho predeterminado.
Uma jogatina simples no Normal dura entre 30 a 40 horas, e para caçadores de conquistas é possível que o jogo precise de no mínimo 100 horas para aprender e executar tudo que exige. E ainda assim, é possível fazer speedruns do jogo em 5 horas ou menos quando se sabe o que está fazendo e onde tem que ir.
Algo que adiciona bastante no tempo de jogo também é a história. Tevi tem uma lore muito mais trabalhada do que Rabi Ribi. Todo o pano de fundo foi trocado, enquanto Rabi Ribi tentava criar uma história meta sobre dois mundos, Tevi se preocupa em criar e desenvolver o continente de Az e seus habitantes.
A narrativa é excelente no que se trata de criar mistérios e reviravoltas. O diálogo as vezes é genuinamente engraçado na interação dos personagens. Apesar disso a história como um todo acaba caindo um pouco no final quando todas as peças estão disponíveis, mas algumas ainda não se encaixam.
Isso dificilmente se enquadraria como um ponto negativo e, honestamente, duvido que alguém vá detestar o jogo por causa disso. Mas quando a sua história é tão mais bem trabalhada e executada que seu antecessor, é uma pena que a melhoria não seja de forma plena quanto o resto.
Em outras palavras, Tevi tem um gameplay excelente e um design de chefes de se dar inveja nos outros jogos do gênero. É um jogo que facilmente se qualifica como um dos melhores disponíveis nesse quesito atualmente. A história, por outro lado, mostra potencial de ser tão boa quanto e entregar um metroidvania épico que acerta em todas as vertentes, mas acaba ficando na beirada de conseguir essa conquista.
Ainda assim, é um jogo que executa com perfeição a maior parte das coisas que tenta fazer e chega a ser apenas “suficiente” no pior dos casos. A trilha sonora é boa e conta com algumas músicas ótimas para realçar as batalhas contra chefes, mas algumas músicas de certos biomas ficam repetitivas muito rápido.
A customização conta com um extensivo sistema de “Sigils” que faz com que Tevi ganhe novas habilidades ou melhorias que condizem especificamente com o seu estilo de jogo, mas ficar gerenciando o custeio de pontos e criando loadouts específicos para chefes ou telas mais difíceis é algo que adiciona muito tempo sem ser realmente divertido de se fazer.
Os pontos mais negativos do jogo são coisas que realmente só ficam mais visíveis para quem passar bastante tempo com ele. Completar tudo que ele tem a oferecer mostra algumas falhas, mesmo assim não reduz o quão divertido e bem-feito é a sua base.
Enfim, Tevi vale a pena?
á quem diga que o gênero de metroidvanias está saturado. Em parte, realmente é um tipo comum para projetos indie de pequeno porte e/ou extremamente amadores. Rabi Ribi até se encaixava em parte nessa descrição. Mas Tevi é sem sombras de dúvidas um dos títulos de qualidade que mostram que o gênero ainda tem muito a oferecer quando bem executado. Mesmo não tendo nada de realmente “novo”, só de ter os fundamentais bem executados já é o suficiente.
E a versão de Switch?
A versão de TEVI para o Nintendo Switch apresenta uma qualidade gráfica impecável, especialmente notável na tela OLED do console. A natureza 2D do jogo garante que ele flua suavemente, destacando a jogabilidade adaptável e única que o Switch oferece. A experiência visual é realçada pela arte em pixel vibrante e detalhada, que brilha na tela do Switch, proporcionando um espetáculo visual que complementa a ação do jogo.
Os controles no Switch são intuitivos e bem adaptados, permitindo uma experiência de jogo confortável tanto no modo portátil quanto ao jogar na TV. Isso oferece flexibilidade para os jogadores, adequando-se tanto a sessões de jogo rápidas quanto a períodos mais longos. A estabilidade da taxa de quadros é uma característica marcante, essencial para um jogo que depende de precisão e reflexos rápidos, especialmente em cenas de combate intenso e nos desafios estilo bullet-hell.
PROS:
- Controles excelentes;
- Design de chefes melhorou muito;
- A história é cativante e um pulo imenso de qualidade em cima de Rabi Ribi;
- Design artístico carismático;
- Exploração exige atenção e organização;
- Extensiva customização de combate com Sigils;
- Muito conteúdo;
- Ainda é um dos metroidvanias mais desafiadores nas maiores dificuldades…;
- …mas a dificuldade Normal é perfeitamente balanceada sem ser frustrante nem um passeio.
CONS:
- Talvez Sigils até demais, o que faz trocar de equipamento ser tedioso;
- Fazer 100% é uma tarefa sacal que exige muita paciência em algumas partes.
PLATAFORMAS:
- PC – Steam (Plataforma analisada, chave gentilmente cedida por CreSpirit);
- Nintendo Switch (Plataforma analisada, chave gentilmente cedida por CreSpirit).
NOTAS:
Jogabilidade: | Qualidade dos controles | 10 |
Design (Dificuldade, Level, Criatividade) | 9 | |
História: | Enredo | 8 |
Narrativa | 9 | |
Arte: | Gráficos | 10 |
Direção artística | 10 | |
Audio: | Efeitos Sonoros | 10 |
Trilha Sonora | 10 | |
Port | Estabilidade | 10 |
Otimização | 10 | |
NOTA FINAL: | 9.6 |
Por mais que eu goste de alguns metroidvanias que tentem conceitos diferentes ou alguns que sejam completamente quebrados (no melhor sentido possível), até eu tenho que admitir que as vezes uma idéia modesta e bem executada é o suficiente para fazer um bom jogo. Até mesmo com as suas…. Excentricidades…