Ghost Trick: Phantom Detective – Um clássico subestimado
Originalmente um jogo de DS, Ghost Trick: Phantom Detective foi um daqueles casos em que por vendas ele não foi um estrondoso sucesso, mas é impossível achar alguém que tenha jogado que não tenha amado o jogo.
O que é Ghost Trick?
A história é centrada em um fantasma chamado Sissel. Após sua morte, seu espírito permanece, porém toda sua memória é perdida. Confuso sobre o que acabou de acontecer, e com tempo limitado para resolver o mistério, Sissel parte em uma jornada desesperada para pelo menos entender quem ele era e por que ele morreu enquanto se desenrola uma noite conturbada.
Em jogabilidade, apesar de se definir como um jogo de puzzle, sua estrutura é muito mais parecida com uma Visual Novel do que qualquer outra coisa. Não é um jogo com vários finais ou decisões/ações que mudem o rumo da história, os puzzles contêm apenas uma solução (com pequenas variações durante elas) e toda a narrativa é entregue seguindo uma ordem pré-definida.
Gameplay básico de uma VN
De longe o aspecto mais fraco do jogo é sua jogabilidade no geral. É claro, esperar jogabilidade de uma VN já é errado por definição, mas Ghost Trick se trata mais como um jogo de puzzle. E no que se trata de puzzles, não há muitos que são interessantes aqui.
Na forma fantasma é possível pular para certos objetos (convenientemente escolhidos pelo jogo) e fazer uma manipulação binária neles (ex: abrir ou fechar, ligar ou desligar, etc). A idéia dos puzzles é usar esses poderes situacionais para evitar mortes de personagens ligados a sua história e pouco a pouco desvendar o mistério da sua morte.
Não é um gameplay horrível, mas também está longe de ser memorável. É o tipo de coisa que se jogava em sites de jogos em Flash antigamente. Porém, uma coisa que merece o elogio, é o remaster/port como um todo. Sendo um jogo originalmente de DS, todo o trabalho foi feito para que tanto controles modernos ou um mouse possa ser usado para controlar o jogo. É possível ter a experiência bem parecida com a de DS ao usar o mouse como um “touch screen”, ou simplesmente jogar no conforto de um controle. Ambos funcionam de forma ótima.
Uma obra prima em história e direção artística
Capcom não é conhecida por ser a desenvolvedora mais focada em narrativa. Com títulos como Resident Evil, Devil May Cry, Megaman e Monster Hunter dentro de suas IPs mais famosas, todas elas são elogiadas primariamente pelo seu gameplay.
Os jogos de Shu Takumi são alguns visíveis pontos fora da curva por terem gameplays básicos, mas uma excelente história. E mesmo assim, sua narrativa é distintamente “Capcom”. Enquanto um jogo focado em narrativa sempre se preocupa com fidelidade visual, gráficos fotorrealistas, e um design feito especificamente para fazer o mundo parecer “real”, Takumi simplesmente abraça o lado videogame da mídia para contar suas histórias.
Os personagens são todos extremamente exagerados em aparência ou maneirismos. Tem um detetive que faz uma dança toda vez que se apresenta, um guarda de prisão que faz uma dança toda vez que está em pânico, ou um músico que só anda se tocar sua guitarra, e por aí vai…
Tudo isso vai soar bem familiar para quem jogou Ace Attorney e viu os seus júris excêntricos, mas em Ghost Trick isso é discutivelmente ainda mais exagerado. Isso pode causar uma estranheza para quem está acostumado ou prefere histórias mais “realistas”, mas é sem sombra de dúvidas um dos aspectos mais únicos do jogo.
Seu enredo como um todo também é brilhante. Uma ótima trama de reviravoltas que é impossível explicar sem dar alguma informação que seja essencial. É uma história amarrada perfeitamente onde toda pergunta levantada também é respondida, nenhuma ponta solta é deixada. E alguns dos plot twists mais drásticos também têm várias dicas que vão acontecer para quem se atenta aos detalhes em uma história de mistério.
Aqui também cabe um elogio ao remaster. Toda a integridade artística do jogo foi mantida. O jogo foi refeito na RE Engine mas tudo foi mantido exatamente como era. As sprites estão em HD, o gráfico está alisado, a performance está ajustada, mas colocar o remaster e o original lado a lado mostra o quão perfeita foi essa recriação.
No geral, é uma história excelente de se experienciar e seu remaster foi tratado com o devido respeito e cuidado que qualquer purista desejaria.
Em suma: Ghost Trick Phantom Detective vale a pena?
Existem dois grandes empecilhos que dificultam a recomendação universal desse jogo. Primeiro, o preço dele está um pouco acima do que se espera. Mesmo sendo um remaster bem feito, ele ainda está na mesma faixa de preço que Great Ace Attorney que incluía dois jogos e também foram remasters excelentes. E segundo, a excentricidade das história de Shu Takumi é algo que não é unânime em gosto. Para muitos pode não parecer uma história “séria” e isso faz perder muito do brilho que sua narrativa tem.
Tirando esses dois pontos, é um jogo excelente e de fácil recomendação para quem procura uma história brilhante. É um jogo que exala carisma e uma narrativa viciante que te faz querer continuar jogando mesmo se o gameplay não for de agrado. Simplesmente não existe uma outra história desse gênero nesse calibre.
PROS:
- Excelente história;
- Remaster completo e bem feito;
- Estilo artístico único;
- Personagens memoráveis;
- Ótima trilha sonora, tanto a original quanto os remixes;
- Todas as funções básicas que se espera de uma VN.
CONS:
- A maioria dos puzzles não são interessantes;
- Um pouco caro;
- História completamente linear.
PLATAFORMAS:
- PC – Steam (Plataforma analisada, chave gentilmente cedida pela Capcom);
- Nintendo Switch;
- PlayStation 4/5;
- Xbox One /Series.
NOTAS:
Jogabilidade: | Qualidade dos controles | 8 |
Design (Dificuldade, Level, Criatividade) | 8 | |
História: | Enredo | 10 |
Narrativa | 10 | |
Arte: | Gráficos | 10 |
Direção artística | 10 | |
Audio: | Efeitos Sonoros | 10 |
Trilha Sonora | 10 | |
Port | Estabilidade | 10 |
Otimização | 10 | |
NOTA FINAL: | 9.6 |
Honestamente, Shu Takumi é um mestre narrativo subestimado na indústria a essa altura. Suas histórias são contadas do jeito mais Capcom possível, mas ao mesmo tempo são sem iguais no que se trata de um ritmo empolgante e um enredo excelente. Pra mim, ele entende exatamente as vantagens única que um videogame tem pra contar uma história que não funcionariam tão bem em outros meios.