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MegaMan X DiVE Offline – Des-gacha-ificado

Se algum dia você se perguntou como um gacha seria sem a monetização agressiva típica do gênero, Megaman X Dive está aqui para responder. Lançado em 2020 para alguns países no sudeste asiático (2021 para o resto do mundo), DiVE foi uma das tentativas da Capcom para consolidar suas franquias em jogos mobile.

Pela média do gênero, até era um jogo decente, porém as mecânicas intrínsecas de um gacha desanimou muita gente. Megaman nunca foi um jogo sobre status de RPG e grinding por partes, mas era isso que DiVE era. O jogo teve o seu “fim de serviço” anunciado para 15 de Setembro de 2023, e como todo GaaS que existe unicamente ao se conectar com um servidor, o jogo estaria indisponível para todo o sempre…

Um raro caso de preservação.

Exceto que – em uma rara demonstração de preservação na indústria de jogos – a Capcom resolveu imortalizar o jogo com um lançamento “offline”. Um jogo que roda completamente local, sem qualquer conexão externa, e com todo o conteúdo feito para o jogo disponível em um único pacote. E é claro, a aquisição de XP e moedas também foram ajustadas de forma a reduzir consideravelmente o requerimento de horas para desbloquear qualquer coisa.

Com isso, temos o que é provavelmente o primeiro gacha “desgachificado” da indústria. Algo que traz uma situação completamente nova para se analisar um jogo. Ele conta como parte da série X? Seria injusto comparar ele com os outros jogos que não são de celular? O quão bom ele é por conta própria? E , acima de tudo, a pergunta que todo review procura responder: ele vale a pena?

…gacha?

Se você nunca jogou um gacha antes (em primeiro lugar: parabéns por ter vencido na vida), esse gênero é definido por alguns pontos chaves. São jogos caracterizados por ter vários personagens, onde apenas uma fração deles está disponível de início ou completamente de “graça”. Essa é a principal fonte de monetização do jogo, mas não a única. Entre rolar os personagens com a moeda premium do jogo, também existem várias mecânicas diferentes de evolução que todas exigem recursos diferentes.

É um modelo feito para ser extremamente viciante enquanto agressivamente monetiza todos os aspectos de um jogo. Tudo é feito de forma a incentivar o jogador a gastar muito dinheiro ou muito tempo para conseguir o que quer. O que não parece a forma mais divertida de se aproveitar um jogo, mas DiVE Offline justamente remove toda a monetização e deixa uma curva de progressão mais normal.

O resultado disso é um jogo que é simplesmente viciante. Entre coletar todos os personagens, armas, cartas e todas as outras formas de melhoria de poder, existe uma quantidade imensa de conteúdo para se explorar. Todos os eventos sazonais estão disponíveis e podem ser habilitados ou desabilitados pelo jogador a vontade. É perfeitamente possível fazer 100% no jogo sem gastar mais do que a compra inicial (até porque simplesmente não existem microtransações para esse jogo no momento) e sem dedicar dezenas de horas por dia para isso.

Começa-se o jogo com as armas e personagens mais simples possíveis. Dentro de uma hora de jogo já é possível pegar qualquer personagem que não precise ser desbloqueado por eventos. Por exemplo, é possível simplesmente fazer a primeira seção de tutorial (de 1-1 até 1-6) e já ter o suficiente para desbloquear qualquer personagem que quiser. Super Mega Man, Volnutt, Z (da série MMZ), Ultimate Armor X ou Black Zero.

Demora mais para chegar em determinados estágios para habilitar alguns personagens na loja do que realmente farmar materiais e dinheiro o suficiente para consegui-los. O personagem S Class Hunter Zero só está disponível na loja depois de completar o estágio 10-6, e com tudo que você ganha só de chegar lá já é possível comprá-lo e maximizar todos os status sem qualquer farming adicional.

O que não é tão agradável nesse processo é que o jogo não tem quase nenhuma explicação de como esses sistemas funcionam. Comprar personagens envolve comprar “fragmentos de memória” na loja, mas o que o jogo nunca te fala é que você precisa de 20 a 40 deles e a cada tier adiciona 10 a essa quantidade. Descobrir como esses sistemas funcionam podem ser a diversão de alguns e frustração de outros.

X DiVE é um jogo estranho de se classificar.

Fora a isso, a qualidade do jogo em si também não é algo fácil de quantificar. É inquestionavelmente divertido de se jogar, mas ao mesmo tempo existem várias decisões de design que só são aceitáveis quando se pensa que o jogo era originalmente um gacha. Existem 4 formas diferentes de moedas, as telas dependem de um número de poder arbitrário que sobe simplesmente ao completar conquistas ou liberar personagens, telas nunca duram mais do que 2 minutos (com raras exceçoes), e por aí vai…

Pode-se dizer que é um jogo de Megaman extremamente casual. Não é difícil conseguir resultados a não ser que você se autoimponha um desafio de não fazer certos upgrades ou somente usar certos personagens. Jogar com o S Class Zero é um passeio, jogar com as versões de raridade azul do X ou Zero é um desafio digno dos jogos mais sadisticos da série.

Até é possível ter uma experiência mais próxima de um Megaman normal ao desabilitar lock-on, barras de vida e outros aspectos no menu, só que aí o jogo fica objetivamente pior já que claramente foi feito com esses sistemas em mente. Então é difícil dizer se o gameplay é bom ou não porque existem visíveis falhas, só que ao mesmo tempo ainda é legal de se jogar.

Existem outros aspectos que também não são dos melhores. A trilha sonora é extremamente decepcionante para se dizer que é um jogo da série Megaman. Discutivelmente um dos piores da série nesse quesito. A história também é terrível, mas não o tipo “divertido” de terrível. Existem erros ortográficos, o diálogo parece que passou 4 vezes diferentes pelo Google Translate, nenhum dos personagens exclusivos da série DiVE são carismáticos, e por aí vai. É simplesmente tedioso, apesar da idéia de uma história meta até tenha seus méritos.

Todas essas falhas tem potencial de ser algo que vai desagradar alguns jogadores imensamente, mas a maior falha do jogo, a que realmente incomoda independente de quanto goste ou não dele, é o suporte a controle limitado. Como o jogo era originalmente de celular, os menus só podem ser controlados por mouse. O jogo até conta com uma funcionalidade de mexer o ponteiro com o controle, mas é uma péssima forma de se navegar os menus. Especialmente com a quantidade insana de cliques que um simples upgrade de força de batalha exige.

Enfim… Megaman X DiVE Offline vale a pena?

É um jogo extremamente difícil de se recomendar tendo em vistas que as falhas dele podem ser muito  frustrantes para alguns jogadores, mas ao mesmo tempo, o gameplay loop dele é viciante o suficiente para fazê-lo genuinamente divertido de se jogar. Só liberar os mais diversos personagens da séries e jogar com eles pela primeira vez já deve ser fanservice o suficiente para fazer valer a pena para alguns fãs. A proposta de valor dele é extremamente subjetiva nesse quesito.

Junto com Wanted Dead ou Earth Defense Force, é um jogo que claramente não é “bom”, mas ao mesmo tempo também passa longe de ser ruim. Vale a pena ficar de olho pelo menos, mesmo que não seja um caso de “preciso desse jogo imediatamente”. Se serve de consolo, com certeza não é pior que X7…

PROS:

  • Extremamente viciante;
  • Bastante conteúdo para liberar;
  • Gameplay divertido;
  • Enorme variedade de personagens;
  • Ótimo para quem gosta de ficar maximizando builds.

CONS:

  • Telas são excessivamente curtas;
  • Qualidade do level design varia muito;
  • Port deixa a desejar com o suporte a controle;
  • Trilha sonora decepcionante para um jogo de Megaman;
  • História completamente sem pé nem cabeça.

PLATAFORMAS:

  • PC – Steam (Plataforma analisada, chave gentilmente cedida pela CAPCOM);

NOTAS:

Jogabilidade:Qualidade dos controles  9
Design (Dificuldade, Level, Criatividade)6
História:Enredo7
Narrativa3
Arte:Gráficos7
Direção artística8
Audio:Efeitos Sonoros7
Trilha Sonora5
PortEstabilidade10
Otimização8
NOTA FINAL:7.0

Eu realmente nunca sei como recomendar esses tipos de jogos. São bons? Não. Claramente não. Mas são extremamente divertidos de se jogar e isso pelo menos já faz valer o tempo. Só o fator financeiro que depende da condição de cada um… O que falando em condição financeira, X DiVE chega a ser um Whale simulator. É uma power fantasy própria jogar um gacha e ficar com a carteira recheada de dinheiro pra poder comprar qualquer personagem que você queira. Honestamente eu gostaria de ver mais jogos recebendo esse tratamento.