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[Café dos Colonos] – Einhänder – O kamikaze contra uma frota

Algumas desenvolvedoras já chegaram a um certo nível de prestígio na indústria para facilmente serem reconhecidas por nome. Square Enix é uma delas, e comumente associada com RPGs das mais variadas franquias e tipos. Até mesmo antes da fusão com Enix em 2003, todo mundo conhecia Square, mas talvez nem todo mundo saiba que eles fazem muito mais que somente RPGs.

Sejam subsidiárias ou third parties, Square é uma empresa que não se opõe a alguns projetos fora do normal de quando em quando, jogos como Hitman, Murdered: Soul Suspect, Tomb Raider, Dungeon Siege III, Oninaki, Thief, Sleeping Dogs e Just Cause. Até mesmo sua franquia mais conhecida teve uma boa dose de spin-offs em outros gêneros, como Dirge of Cerberus, Type-0, Dissidia, e até mesmo o jogo de kart Chocobo Racing (isso existe se você está se perguntando).

Einhänder é um desses títulos experimentais, o único jogo de nave que a Square jamais fez em mais de 30 anos na indústria, e provavelmente um dos melhores que gênero jamais recebeu.

Teve uma vez, em uma era de grande caos, quando a lua e a terra estavam em guerra. Um audacioso piloto da lua comandava uma nave bizarra, seu modelo era temido, conhecido como Einhander

Em um claro exemplo da expertise da Square, Einhänder trás duas coisas completamente supérfluas e incomuns em um shoot’em up, cinemáticos e uma história. Não que seja o único jogo a fazer isso, mas sendo um dos poucos com certeza chama a atenção. Contando a história de uma guerra interplanetária, o jogador controla uma nave do exército da Lua cuja estratégia era mandar vários pilotos sozinhos espalhados para causarem o maior dano possível até serem abatidos, até você surpreendentemente ser o único que voltou vivo da missão. Não é nada profundo nem complexo, mas com certeza diferente o suficiente para ficar na memória, é o único jogo do tipo que somos mandados esperando a derrota e a história reage com o nosso sucesso inesperado ao invés de ser o real objetivo.

Não que tal sucesso venha fácil, porque fora desses aspectos, Einhänder ainda é um jogo de nave com todas as nuances que se pode esperar, hordas de naves inimigas, chuva de balas, e uma boa dose de reflexos e gerenciamento de recursos exigido para superar seus desafios. Tomando como base os jogos de nave horizontais (R-Type, Gradius e Darius) com uma simples porém surpreendentemente profunda mudança, o jeito que você adquire armas. Em sua maior parte, jogos de nave são o ápice de uma jogabilidade “arcade”. Não existe uma lógica por trás, você atira em naves e coleta os poderes mágicos que algumas deixam para trás, nenhuma explicação necessária. Aqui a Square fez algo um pouco diferente, nós usamos as mesmas armas que os inimigos, podendo ser adquiridas e manipuladas pelo braço mecânico da Einhänder (que significa “com uma mão” em alemão). Isso não só funciona dando um certo contexto como introduz uma das mecânicas mais interessantes que o gênero já teve, com dezenas de armas diferentes com diferentes prós e contras. Logo na primeira fase somos introduzidos a três das armas mais comuns: Vulcan, uma metralhadora com abundante munição mas péssimo dano; Cannon, com um poder impressionante e perfurante porém com pouca munição; e Wasp, um lança misseis que pode ser teleguiado automaticamente ou atirados em linha reta dependo da posição do braço. Tais sistemas só são explicados nos manuais dos jogos ou nos vídeos da tela principal, mas não são complicados o suficiente para que não possam ser aprendidos através de experimentação, o que adiciona um bom tanto de conteúdo ao se acostumar e dominar cada arma sem que seja complicado demais.

Retro Review: Einhänder | The Longform Vault

Ainda após esse período, existem vários segredos espalhados pela tela, algumas armas raras e duas naves extras desbloqueáveis. Na prática isso adiciona uma imensa rejogabilidade para o que deveria ser simplesmente o mesmo jogo toda vez. Cada arma nova coletada pode ser escolhida como uma arma inicial para sua próxima tentativa, e essa arma sempre vem com início de cada vida ou continue, o que muda drasticamente as chances de sucesso sem que facilite tanto o jogo a ponto de trivializá-lo.

Expandindo na idéia de utilização de armamentos inimigos, muitas naves têm muito mais do que somente um “ponto fraco” que as destroem mais rápido, cada parte de uma nave larga tem um propósito que reage diferente quando danificado. Como um enorme exemplo disso, o primeiro chefe tem um ponto fraco óbvio na sua frente, porém um dos segredos da tela é derrotá-lo por destruir seus propulsores ao invés de sua cabine. Um de vários exemplos de destruição seletiva no jogo, e isso existe até no ambiente das várias telas. É necessário tomar cuidado até para não destruir a arma que você pretende pegar antes da nave que a carrega.

Tudo isso combinado com provavelmente a melhor trilha sonora e ambientação já vista em um jogo de nave cria uma experiência sem igual a qualquer outra. Kenichiro Fukui trás uma ótima seleção de músicas eletrônicas com fortes inspirações em suas origens enquanto redireciona elas para um tema futurista onde a guerra acontece nessa história.

Sem sombra de dúvidas, um dos melhores projetos a sair da Square Enix (Squaresoft na época) fora de sua expertise, tendo uma ótima recepção crítica pela sua jogabilidade, música e gráficos e até um considerável número de vendas na época. Infelizmente, seu legado foi completamente ignorado, sem relançamentos nem continuações desde então. A única forma que o jogo está disponível atualmente é como um título de PS One Classic apenas na PSN japonesa ou emulação, e isso com certeza é indicação de uma “era de grande caos”.

PROS:

  • Uma boa rendição de um ambiente futurista que sobrevive ao teste do tempo;
  • Jogabilidade extremamente responsiva e fluída;
  • Ótima trilha sonora para fãs do gênero;
  • Boa quantidade de segredos e desbloqueáveis que incentivam rejogabilidade;
  • Desafiador até para fãs de shoot’em ups;
  • Sistema inovador de armas e destruição.

CONS:

  • Vários erros de tradução e diálogo, tanto nas legendas em inglês quanto nas vozes em alemão;
  • Falta de tutorial e dicas podem fazer o jogo parecer mais raso do que realmente é.

NOTA: 9/10

Plataformas:

  • PS1 (plataforma analisada).

Em uma era de remakes, um dos meus sonhos seria ver Einhänder ressurgir das cinzas. Contudo não parece promissor, com pouco interesse pelo gênero e pouco reconhecimento pelo título atualmente. Ainda assim, o jogo permanece uma experiência imaculada do tempo.

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